Islam Chipsy: O futuro agora, directamente do Cairo
O músico egípcio traz esta terça e quarta-feira, ao Porto e a Lisboa, a música fervilhante a que chamaram electro-shaabi. Dois percussionistas e um teclista endiabrado, fazendo a ponte entre o ontem e o hoje da música egípcia. "É certo que não existe nada assim", diz. Tem razão.
Experimentem ir esta terça-feira ao Maus Hábitos, no Porto (21h, primeira parte de Vives Les Cônes; 10 euros; 8 euros para os portadores de pulseiras do Milhões de Festa), ou quarta-feira, à galeria Zé dos Bois, em Lisboa (22h, 8 euros; DJ Quesadilla nos pratos depois do concerto), e testemunhem, muito suados e de sorriso estúpido de tão feliz na cara, que é verdade o que dizemos.
Islam Chipsy é o nome de destaque dessas festas e figura cimeira da música designada como electro-shaabi, ou seja a versão moderna, orgânico-digital, da música de raiz popular e operária nascida no Egipto na segunda metade do século XX. Leva os seus dois percussionistas (quando em conjunto com eles, actua enquanto E.E.K.) e o seu órgão para cima de grandes palcos e tem a responsabilidade de assegurar que ninguém descansará nas muitas horas seguintes. No Ocidente, não é nos casamentos que se tem notabilizado: desde que começou a viajar pela Europa, fruto da curiosidade ocidental por músicas fora do seu eixo que levou à descoberta, por exemplo, do sírio Omar Suleyman, tem sido alvo de entusiasmo crescente concerto a concerto, das digressões inglesas à participação no Trans Musicales de Rennes, ao convite para a participação no Milhões de Festa, um concerto que, infelizmente, viria a ser cancelado.
“Julgo que são apenas tipos de bairros pobres que também ouvem DJs do Ocidente e que fizeram a sua própria versão disso. Podem chamar-lhes nomes diferentes, mas é certo que existe nada assim. É um ritmo egípcio. Não é um ritmo ocidental”, contextualizava Islam Chipsy em 2013 ao site Louder Than War. O efeito dos ritmos em catadupa, com o bombo a marcar o compasso enquanto a darbuka é percutida com fulgor insaciável, reunido ao som electrizante dos teclados, a tradição popular e erudita egípcia se conjugam (Islam, 30 anos, é realmente um virtuoso), pode provocar um efeito semelhante ao de uma rave vitaminada, mas Chipsy tem razão, não existe nada assim.
Depois de ouvirmos Live At The Cairo High Cinema Institute (2014), registado por Alan Bishop, dos Sun City Girls e habitante da capital egípcia, seguido já este ano por Kahraba (“Electricidade”), Islam Chipsy/EEK chegam aos nossos palcos. Cairo em Portugal. Música do futuro para dançar agora. Uma oportunidade a não perder.