Gabriel Abrantes: Fevereiro pertence-lhe
A presença em salas comerciais na Inglaterra, um ciclo de filmes na RTP2, outro na plataforma on-line Mubi, para além da participação no Festival de Cinema de Berlim. Gabriel Abrantes, cineasta e artista português, tem à sua mercê o mês de Fevereiro.
A presença em salas comerciais na Inglaterra, um ciclo de filmes na RTP2, outro na plataforma on-line Mubi, para além da participação no Festival de Cinema de Berlim. Gabriel Abrantes, cineasta e artista português, tem à sua mercê o mês de Fevereiro. O arranque desta pacífica conquista deu-se com a exibição de toda a sua filmografia na Film Society of Lincoln Center, em Nova Iorque e com a estreia (na passada segunda feira), na Tate Britain em Londres, do seu novo filme A Brief History of Princess X. Entre os mundos do cinema e da arte, com a imprensa especializada atenta (a edição de Março da revista Sight & Sound dedica-lhe duas páginas, num artigo de Nick Pinkerton) Abrantes parece estar em todo, tal é sequência e, sobretudo, simultaneidade, de acontecimentos. Será legítimo falar de um programa concertado"?
“Foi uma coincidência”, responde o cineasta a partir de Nova Iorque. “O ciclo no Lincoln Center em Nova Iorque está a ser organizado há dois anos e o Tiago Alves aproveitou a ocasião para fazer uma mostra das minhas curtas no Cinemax [programa dedicado às curtas-metragens] da RTP2. A exibição dos filmes no Mubi [até 31 de Fevereiro] também é paralela a esses ciclos. Já a estreia na Tate Britain e a presença na competição da Bienale são puros acasos” - a curta Freund und Friends, um dos filmes que compõe a longa Aqui em Lisboa, produção do IndieLisboa.
O que o ressalta deste programa internacional é a segunda vida de A Brief History of Princess X. Depois da Tate Britain, ressuscitará nos chamados multiplexes. Não que seja uma situação completamente inesperada. O cineasta nunca escondeu o seu apreço pela cultura pop, em particular pelo universo dos blockbusters. Mas a ideia, ainda que bem-vinda, não teve a sua assinatura: “Partiu da Independent Cinema Office [ICO] e da distribuidora LUX, que apoiam e divulgam filmes de artistas e filmes independentes. Convidaram-me para fazer parte do projeto. A ideia é que as curtas-metragens acompanhem um filme que esteja em sala, e confrontem um público mais alargado com filmes e vídeos de artista”. Reproduzir a ideia em Portugal é um desejo assumido por Abrantes. “Ficaria muito feliz se isso acontecesse. Fiz uma versão em inglês, outra em francês e ainda uma terceira em português a pensar nessa possibilidade. O filme conta a história surpreendente da relação entre a escultura Princess X do Constantin Brancusi e a Marie Bonaparte, que era a sobrinha bisneta do Napoleão. Sendo algo surreal, abordando a arte, o sexo, o modernismo, a psicanálise e o feminismo, creio que é uma história acessível”. É pouco provável que venha a imitar o escândalo da exibição da escultura de Brancusi (feita de bronze e com a forma de um pénis intumescido), nos Salon des Indépendants em 1920, mas ao sobrepor histórias, tempos e imagens, certamente que provocará alguns curtos-circuitos nos espíritos dos espectadores.
Enquanto Gabriel Abrantes não entra nos multiplexes portugueses, há outro tipo de recepção: a televisiva. É no dia 20 que começa o pequeno ciclo de filmes na RTP2, um por semana durante seis semanas. “É difícil ver os meus filmes. Foram pouco vistos fora dos festivais em Portugal Não existem assim tantas plataformas de programação de curtas-metragens e na televisão podem chegar a outro público”. Neste mês, não há como fugir de Gabriel Abrantes.