Filme de Miguel Gonçalves Mendes chega ao espaço com obra de Vhils

No contexto do seu novo projecto, o documentário O Sentido da Vida, o realizador Miguel Gonçalves Mendes desafiou Vhils a tornar-se no primeiro artista a criar uma instalação para a Estação Espacial Internacional. O primeiro astronauta dinamarquês a ir ao espaço foi o retratado.

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A peça de Vihls já está em órbita na Estação Espacial Internacional DR
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O artista retratou o primeiro astronauta dinamarquês a ir para o espaço DR
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Andreas Mogensen partiu do Cazaquistão a 2 de Setembro DR

Numa iniciativa conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA), no contexto do projecto-filme O Sentido da Vida de Miguel Gonçalves Mendes, a 2 de Setembro foi colocada no espaço uma instalação de Vhils, concebida especialmente para a cúpula da Estação Espacial Internacional, o único lugar onde é possível ter o privilégio de ver o planeta terra em toda a sua plenitude.

A instalação retrata Andreas Mogensen, o primeiro astronauta dinamarquês a ir ao espaço. Devido à rotação da Estação Espacial sobre a terra, é possível observar a partir da cúpula o nascer e pôr-do-sol aproximadamente 16 vezes ao dia. A obra de Vhils incorpora na sua concepção inicial os matizes que a rotação do planeta terra e a sua geografia projectam no rosto do astronauta. “É uma peça efémera a cada segundo, porque o contexto vai-se sempre alterando”, afirma. “Pensei numa peça para o espaço da nave, mas que não se impusesse ao lugar.”

No início do mês, em Baikonur, no Cazaquistão, o astronauta partiu em direcção à Estação Espacial Internacional. O dinamarquês é um dos sete personagens reais do filme O Sentido da Vida, o ambicioso projecto que Miguel Gonçalves Mendes anda a desenvolver desde o início do ano e que promete estrear em 2017. “Tem sido uma aventura extremamente esgotante, emocionalmente e fisicamente, até porque somos uma equipa pequena, mas está a valer a pena”, diz-nos ele a partir do Rio de Janeiro.

A instalação de Vhils será integrada no documentário, bem como as restantes intervenções que o artista foi convidado a criar em torno dos restantes personagens. Produzido pelo brasileiro Fernando Meirelles (A Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira), e com um orçamento de 1,5 milhões de euros, o novo projecto de Miguel Gonçalves Mendes, conhecido pelo documentário José e Pilar (2010), tem como protagonista Giovane Brisotto, jovem brasileiro portador de paramiloidose familiar (doença dos pezinhos), doença incurável e rara de origem portuguesa, que se disseminou pelo mundo durante a época dos Descobrimentos.

O filme acompanha a história real de Giovane numa viagem à volta do mundo, naquela que se supõe ser a rota que terá disseminado a doença há 500 anos. Paralelamente ao curso da viagem, o espectador é confrontado com o quotidiano de sete figuras públicas, entre elas o juiz Baltasar Garzón, o escritor Valter Hugo Mãe, a figurinista Emi Wada, o músico e compositor islandês Hilmar Örn Hilmarsson ou o astronauta Morgensen.

Entre as figuras convidadas, mas por confirmar, está o papa Francisco. A música estará a cargo do compositor japonês Shigeru Umebayashi, conhecido pelas bandas-sonoras de alguns filmes de Wong Kar-Wai, como In The Mood For Love (2000), 2046 (2004) ou The Grandmaster (2013).

“Por um lado temos a viagem de autodescoberta de Giovane, e por outro os relatos de figuras importantes, com o objectivo de tentar perceber o que nos une enquanto humanidade, numa altura em que o sistema está em colapso e já não acreditamos em nada, numa demanda onde existe o factor doença e a urgência de viver”, afirma Miguel Gonçalves Mendes.  

É um filme sobre a vida, e inevitavelmente sobre a morte, numa procura pelo sentido da existência. Há dias, Giovane, que é realmente portador de paramiloidose familiar, foi operado, estando agora em recuperação. A equipa já filmou em vários países desde o início do ano, tendo estado em Setembro no Cazaquistão a filmar a partida do astronauta para a Estação Espacial Internacional. Antes já haviam estado na Agência Espacial Norte-Americana (NASA) em Houston, nos Estados Unidos, acompanhando a sua preparação. No filme deverão ser também incluídas imagens que o astronauta captou no espaço, para além da instalação-filme de Vhils.

“Admiro o Miguel porque não receia tentar captar coisas complicadas, muitas delas maiores do que a vida. Revi-me no conceito do projecto, pela história que está por detrás e pela equipa que está envolvida. O desafio de criar uma peça em órbita, para a zona de observação da nave, surgiu em cima do joelho, mas era irrecusável”, afirma Vhils. “O que criei tem pontos de contacto com peças que já tinha exposto no Museu da Electricidade – peças colocadas à frente de televisões, stencils que são perfurados, como se fosse um filme impresso várias vezes, mas como é evidente tudo isto vai ganhar outro sentido quando o documentário estiver finalizado.”

 



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