Até já, Marianne: Leonard Cohen despediu-se da sua musa dos anos 1960

Conheceram-se na ilha grega de Hidra no início da década de 1960. Ele, canadiano, ela norueguesa. Seriam amantes durante os anos seguintes, seriam amigos até ao fim. O dela chegou dia 28 de Julho. Marianne Ihlen morreu aos 81 anos. "Encontrar-te-ei pelo caminho", escreveu-lhe Cohen

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Na ilha de Hidra, recordou Marianne, "banhámo-nos, brincámos, bebemos, discutimos". DR

Havia uma Marianne real. Chamava-se Marianne Ihlen, era norueguesa e morreu dia 28 de Julho, aos 81 anos, em Oslo. Foi para ela que Leonard Cohen escreveu So long, Marianne, editada em 1967 e incluída no álbum de estreia do cantor canadiano. “Your letters they all say that you’re beside me now / Then why do I feel alone?, diz a canção sobre o amor e os desencontros que os dois viveram desde que, no início dos anos 1960, se encontraram na ilha grega de Hidra. Quando uma leucemia fulminante a vitimou, Marianne não estava sozinha. Tinha a família e amigos próximos à sua volta. E, ainda consciente, ouvira a carta que o velho amigo e amante lhe endereçara.

Quando lhe foi diagnosticada a leucemia incurável, poucas semanas antes da morte, o realizador norueguês Jan Christian Mollestad, que prepara um documentário sobre a sua vida, contactou Cohen a informá-lo da proximidade do fim. A resposta chegou rápida. O El País transcreveu as palavras do cantor e poeta.

“Bem, Marianne, chegámos a este ponto em que somos tão velhos que os nossos corpos se desfazem; penso que te seguirei muito em breve. Quero que saibas que estou tão próximo de ti que, se estenderes a tua mão, creio que conseguirás tocar a minha. Sabes que sempre te amei pela tua beleza e sabedoria, mas não preciso de alongar-me, porque já sabes tudo isso. Quero apenas desejar-te boa viagem. Adeus, velha amiga. Com todo o amor, encontrar-te-ei pelo caminho”.

Depois da morte, como dá conta a página de Facebook de Leonard Cohen, Mollestad endereçou-lhe uma carta em que o informava do falecimento, contando que, quando leram a Marianne o que lhe escrevera, ela sorriu “como só Marianne sabia sorrir” e ergueu a mão para tocar a mão do amigo, que Cohen dizia tão próxima. 

Marianne Ihlen chegou à ilha de Hidra com o seu namorado de então, o escritor norueguês Axel Jensen, e o filho bébé de ambos. Tinha 25 anos. Pouco depois, abandonada por Axel - que, diz a lenda, iniciara uma relação com a namorada de Cohen -, aproximar-se-ia daquele canadiano praticamente da mesma idade, um dos jovens artistas e boémios que pululavam pela ilha no início da década de 1960. Nos anos seguintes, em Hidra, mas contando também com temporadas em Nova Iorque ou Montreal, os dois seriam amantes e serviriam de inspiração mútua. Cohen considerava-a a sua musa. Escreveu para ela So long, Marianne ou Bird in the wire e dedicou-lhe o seu livro de poesia Flowers for Hitler, publicado em 1964. 

“Esses anos foram realmente bons. Muito bons”, disse Marianne Ihlen numa entrevista ao escritor Kari Hesthamar, em 2006. “Sentámo-nos ao sol e deitámo-nos ao sol, andámos ao sol, ouvimos música, banhámo-nos, brincámos, bebemos, discutimos. Escrevemos e fizemos amor”. Acrescentou: “Durante cinco anos não tive sapatos nos pés, sabe. E conheci muitas pessoas maravilhosas. Agora foram lançadas ao vento. Algumas estão mortas. Muitas estão mortas”.

A contracapa de Songs From a Room (1969), o segundo álbum de Leonard Cohen, mostra uma jovem mulher que sorri para a objectiva, sentada à máquina de escrever num quarto modesto onde o branco impera. O sorriso é de Marianne, a máquina era de Cohen, o quarto era grego.

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