António de Macedo: A vítima da “guerra” do cinema português

No Doclisboa, Nos Interstícios da Realidade apresenta António de Macedo como uma vítima de uma “guerra”. A que opõe “cineastas comerciais” e “autores”.

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A discussão sobre o cinema português (mais precisamente sobre subsidiação e quem a merece receber) eterniza-se na divisão entre “cineastas comerciais” e “autores”. Normalmente lançam-se acusações e argumentos vagos de um lado ao outro, raramente se concretiza. Nos Interstícios da Realidade apresenta António de Macedo como uma vítima dessa “guerra”.

Cineasta ligado ao fantástico, à ficção científica e ao esoterismo, era mal visto por alguns dos seus pares, os realizadores com quem formou a geração do Cinema Novo, sendo alvo de críticas duríssimas e um menosprezo declarado, mal-grado os sucessos de público. Depois de duas décadas em que filmou mais de dez longas-metragens, deixaria de obter financiamento do Estado no princípio da década de 90, quando tinha pouco mais de 60 anos. Nunca mais fez um filme. 

João Monteiro convoca inúmeras personalidades do cinema português: realizadores (Fonseca e Costa, Fernando Lopes, João Salaviza), produtores (Cunha Telles, Henrique Espírito Santo), historiadores (Leonor Areal, Matos-Cruz), críticos (Leitão Ramos, Lauro António) e actores (Guida Maria, Sinde Filipe). Destes testemunhos (em modo cabeças-falantes), vai surgindo a ideia de uma conspiração com vista a não só impedir Macedo de voltar a filmar como a eliminá-lo da história do nosso cinema (Susana Sousa Dias, sua filha, comenta, por exemplo, o progressivo esquecimento de Domingo à Tarde quando se fala das obras fundadoras do Cinema Novo). Mesmo os presumíveis culpados deste apagamento são chamados a depor: António-Pedro Vasconcelos confessa-se arrependido pela crítica feroz a A Promessa, Seixas Santos ri-se deste acto de contrição.

O próprio António de Macedo tem uma palavra a dizer, tanto sobre a sua sorte como a sua obra, que é analisada filme a filme, com o apoio de excertos e imagens de arquivo (nesse aspecto, lembra o recente De Palma, que também dava pouco destaque à vida pessoal do retratado).

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