Ai Weiwei encerra exposições na Dinamarca em protesto contra nova lei dos refugiados

O anúncio do artista chinês chega um dia depois da aprovação da lei que permite cativar bens dos requerentes de asilo e adiar no mínimo três anos a reunião dos mesmos com as suas famílias.

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Ai Weiwei encontra-se neste momento na ilha grega de Lesbos a documentar a chegada de refugiados às suas praias REUTERS/Giorgos Moutafis

A polémica lei que cativa aos refugiados chegados às suas fronteiras bens sem valor sentimental superiores a 1340 euros foi aprovada terça-feira por larga maioria no parlamento dinamarquês e os protestos foram imediatos. O artista chinês Ai Weiwei, um dos mais respeitados e influentes na actualidade, não demorou a juntar actos e palavras. No dia seguinte à aprovação da lei, anunciou o encerramento da exposição Ruptures, que teria patente na Fundação Faurschou, em Copenhaga, até 15 de Abril, e retirou-se da colectiva A New Dinasty. Created In China, em Aarhus.

Ai Weiwei, que se encontra neste momento na ilha grega de Lesbos, onde documenta a chegada diária de refugiados às suas praias, depois da desesperada e muitas vezes mortal travessia do Mediterrâneo, anunciou os cancelamentos com um comunicado publicado na sua conta de Facebook e Instagram, justificando-os pela “aprovação por parte do parlamento dinamarquês da proposta de lei que permite apreender bens e atrasar a reunião familiar dos requerentes de asilo” [a lei aprovada terça-feira impõe também que os refugiados tenham que aguardar um mínimo de três anos antes de se poderem reunir com as famílias em solo dinamarquês].

Numa carta enviada ao Museu de Arte de Aarhus, que divulgou nas redes sociais, Ai Weiwei declarou-se “chocado” com a decisão do governo dinamarquês e afirmou que, face a ela, se viu obrigado, “em protesto”, a retirar-se da exposição conjunta. Jens Faurschou, coleccionador e fundador da Fundação Faurschou, em Copenhaga, manifestou a sua solidariedade para com a decisão de Ai Weiwei através de um comunicado publicado nas redes sociais do museu. “Jens Faurschou apoia a decisão do artista e lamenta que o parlamento dinamarquês escolha estar na linha da frente de políticas simbólicas e inumanas relativamente à maior crise humanitária da actualidade na Europa e no Médio Oriente, em vez de estar na linha da frente de uma solução europeia respeitável para a resolução da grave crise humanitária”.

A lei aprovada esta terça-feira tem merecido repúdio e protestos de vários quadrantes, com várias associações de direitos humanos a compararem a chamada “lei das jóias” aos confiscos efectuados pela Alemanha nazi aos bens da população judaica.

O primeiro-ministro liberal dinamarquês, Lars Rasmussen, cujo governo se sustenta no apoio da extrema-direita do Partido do Povo Dinamarquês (DF), classifica-a como “a lei mais mal compreendida da história da Dinamarca”. As declarações justificativas da sua aprovação mostram como as formações partidárias centristas adoptam agora um discurso até então exclusivo dos radicais de direita. “Aos que nos criticam, a minha questão é: qual é a vossa alternativa? A alternativa é continuarmos a ser o país mais atractivo da Europa e acabar como a Suécia”, declarou Dan Jorgensen, um antigo ministro social democrata. A Suécia acolheu em 2015 163 mil refugiados nas suas fronteiras, o que torna o país, em termos proporcionais, no maior acolhedor europeu de refugiados.

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