O rock está mais domesticado, morreu Lux Interior
O rock, na sua forma mais selvagem, está mais pobre.
O americano Lux Interior, líder dos icónicos The Cramps, morreu, anteontem, vítima de complicações cardíacas
a Lux Interior, o líder dos The Cramps, um dos grupos mais icónicos das linguagens rock alternativas, faleceu anteontem, em Grendale, Califórnia, devido a problemas cardíacos. Tinha 62 anos, era conhecido pelas enérgicas e teatralizadas actuações em palco, e por ter originado uma música que devia tanto ao espírito punk como ao rockabilly, tal como foi popularizado por Elvis Presley. Em determinada altura, o grupo definiu a sua música como sendo "psychobilly".
O grupo, que se manteve activo durante mais de três décadas (actuaram, em Portugal, em 1998, em Lisboa, no Campo Pequeno e, há cerca de dois anos, no Festival Paredes de Coura) é ainda uma referência para bandas rock contemporâneas, com destaque para os The White Stripes.
Um dos seus álbuns mais marcantes é o segundo, Psychedelic Jungle de 1981, talvez o disco onde conseguem expor de maneira mais focada o seu imaginário, combinação de rock elementar e ambientes lascivos, numa celebração excessiva e perversa de tudo o que era sujo e incongruente na cultura pop americana desde os anos 50. Lançaram uma dezena de álbuns, o último dos quais foi Friends Of Dope Island de 2003.
De seu nome verdadeiro, Eric Lee Purkhiser, formou os Cramps com Kristy Wallace, mais conhecida por Poison Ivy, na primeira metade dos anos 70. Cresceram ambos no ambiente criativo da Nova Iorque, quando o movimento punk emergia, mas distinguiam-se de grupos da época, como os Talking Heads, Television, Ramones ou Blondie, pelas performances fetichistas e pelo visual excêntrico, inspirado na cultura trash e no imaginário de filmes de série B.
Em palco, Interior não se poupava. Muitos viam nele um continuador da escola de Iggy Pop, sempre disponível para a exposição sem simulacros, com desempenhos muito físicos. Como se podia ler no comunicado oficial, dos representantes da banda, "Interior era um líder destemido que transformava qualquer palco num local de paixão, abandono e liberdade."
Durante três décadas, o núcleo do grupo - Interior e Ivy - manteve-se, com vários músicos a rodarem pela banda ao longo dos anos. Nos últimos tempos, as actuações ao vivo do grupo foram rareando, até porque os problemas cardíacos de Lux Interior eram conhecidos de todos os que o rodeavam.