Novos artistas expõem no Pavilhão Centro de Portugal
É hoje inaugurada em Coimbra a 6ª edição do Prémio EDP Novos Artistas, com trabalhos de sete criadores.
O vencedor é anunciado
a 7 de Dezembro
Vasco Costa está em cima de um andaime a acabar a sua obra, Transubstanciação, um grande painel, onde o alcatrão e as luzes assumem um papel preponderante. Vasco é um dos criadores que integram a sexta edição do Prémio EDP Novos Artistas, que, este ano, decorre no Pavilhão Centro de Portugal, em Coimbra. O vencedor será conhecido a 7 de Dezembro, mas isso é o menos importante, asseguram os artistas e os comissários da exposição que se inaugura hoje, às 16h30, e inclui vídeo, fotografia, escultura, desenho, instalação e serigrafia.Transubstanciação não foi a primeira obra que Vasco Costa imaginou para integrar a exposição. Com as mãos sujas de alcatrão, o artista recorda os vários obstáculos que o impediram de realizar o seu primeiro projecto - um poste eléctrico de cimento complementado com pombos-correios que seriam lançados na inauguração e permaneceriam na sala cerca de quatro dias, voando depois até casa de Vasco, perto de S. João da Madeira. "Só que apareceu a gripe das aves, e senti por todos os lados que isto se estava a virar contra mim", suspira.
Ontem, a exposição ainda estava a ser preparada. Havia pessoas deitadas no chão, material espalhado e azáfama. De café na mão, o comissário da Fundação EDP, João Pinharanda, tenta escolher a palavra certa para caracterizar a relação entre o pavilhão e a mostra: "Difícil não é a palavra certa, mas interessante. Como lidar com um espaço tão autoral? Sem o pôr em causa, temos que subvertê-lo", diz. E, de facto, em várias obras essa ligação é bem visível. As duas peças de ferro de Eduardo Peterson, por exemplo, espelham algumas formas ondulantes do próprio pavilhão. E depois há a intervenção de Jorge Feijão, que não concebeu nada para o espaço, mas foi, curiosamente, o artista que mais o visitou. E vai continuar a fazê-lo, deixando, amiúde, na parte da sala ocupada por um balcão e uma estante, um objecto ou "lixo" do seu atelier, e fazendo fotografias disso.
"Um espaço sacralizado"Mas se, por um lado, o espaço foi um desafio, por outro, também foi um entrave. Vasco Costa recorda que, para além dos testes que era preciso fazer aos pombos, outros problemas de segurança apareceram em redor do poste. Era necessário obter autorização de um engenheiro da câmara ou de um engenheiro do arquitecto Siza Vieira, autor do pavilhão com Souto Moura: "É um espaço sacralizado", diz. Mas esta "teia burocrática" acabou por dar a Vasco Costa, que se fechou em casa uns dias porque tinha que arranjar uma solução para os 150 metros quadrados que tinha para ocupar, outras ideias. Chegou a pensar cobrir esses metros com um pano branco, numa atitude de crítica ao sucedido, mas queria conceber uma obra que "sobrevivesse a isso". Então, surge Transubstanciação: "Nasce da conturbação, mas sobrevive a isto tudo", diz o artista. O painel, que recorda imediatamente os outdoors políticos, tem a parte superior coberta de alcatrão, que começará a escorregar com o calor emitido pelas luzes. Os holofotes só dispararão com a presença das pessoas diante da obra.
Mas estes são apenas alguns dos artistas seleccionados, aos quais se juntam Francisco Vidal, João Leonardo, José Carlos Teixeira e Ramiro Guerreiro. Um destes novos artistas será o vencedor do prémio, atribuído por um júri internacional, no valor de dez mil euros, a aplicar no aprofundamento de estudos e trabalhos artísticos. "A questão do prémio não é essencial. É uma exposição que funciona como um corpo. Não é uma selecção de mérito e isso distingue o prémio EDP de todos os outros", diz o comissário independente Nuno Faria.
A exposição pode ser visitada até 8 de Janeiro, mas até 6 de Dezembro o público pode assistir, ao vivo, à concepção da obra de Francisco Vidal, porque o artista vai estar lá a pintá-la. Trata-se de uma serigrafia gigante: Francisco Vidal vai pintar uma folha enorme deitada no chão e, depois, calcá-la na parede.
João Leonardo chega ao pavilhão para montar os seus dois vídeos. Para este artista, falar da sua obra é difícil. Diz que, se o soubesse dizer por palavras, não escolheria aquela forma para se expressar. Ainda assim, adianta que um dos vídeos, The Air of the Dog, se relaciona com o alcoolismo, e mostra um homem que bebe uma cerveja, urina e depois bebe essa urina: "É a relação circular dum vício", diz, afirmando-se como um artista político e atento aos problemas do mundo. Por isso é que o seu outro vídeo fala de religião e transmite uma mensagem, a da tolerância.