Miguel Lobo Antunes, ex-administrador do Centro Cultural de Belém, Lisboa, vai substituir Fátima Ramos na vice-presidência da Administração da Culturgest, o centro privado que, em dez anos, mudou substancialmente o mapa da oferta cultural de Lisboa.Lobo Antunes, 57 anos, vai iniciar as novas funções a 1 de Março, altura em que Fátima Ramos, na Culturgest desde 1992, assume o posto de conselheira cultural na embaixada portuguesa em Paris.Actualmente programador do prestigiado Festival Internacional de Música de Mafra e jurista no Tribunal Constitucional, Lobo Antunes tem um longo currículo na cultura em Portugal: foi vice-presidente do ex-Instituto Português de Cinema (1983-85), director para o Cinema e Animação na Europália (1989-92), o festival de 1991 organizado na Bélgica para mostrar a cultura portuguesa em vésperas da presidência da Comunidade Europeia, e assessor jurídico da Lisboa Capital da Cultura 1994. Mas o seu nome tornou-se mediático com a nomeação para o Centro Cultural de Belém em 1996 (até 2001).A decisão de convidar Lobo Antunes para a Culturgest foi tomada e confirmada no início deste ano pelo Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que detém 90 por cento do capital da Culturgest (os restantes 10 por cento são da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento - FLAD).A administração da Culturgest é composta por três administradores: o presidente, Manuel José Vaz, 75 anos, reconduzido na mesma reunião da CGD, o vice-presidente, que será Lobo Antunes, e um administrador não executivo, Luís Santos Ferro, director da FLAD, também reconduzido. Os mandatos são de três anos.No dia 30 haverá uma assembleia geral da Culturgest e o último ponto da agenda é a eleição dos novos corpos gerentes, na qual os nomes deverão ser confirmados.Ontem, o gabinete de imprensa da CGD limitou-se a dizer que Lobo Antunes "foi convidado e aceitou". Já Manuel José Vaz disse que "Miguel Lobo Antunes é muito competente e deu provas na vida pública num lugar semelhante ao que vai ocupar".As suas funções exactas ainda não foram discutidas, disse ontem Manuel José Vaz, administrador desde 1992, mas "em princípio o modelo que temos usado mantém-se: a programação é proposta pelo director artístico para discussão e aprovação da administração".Novas dinâmicasNos bastidores, questiona-se como vão dois nomes fortes da cultura em Portugal trabalhar num centro pequeno como a Culturgest, mas Lobo Antunes diz que esta é uma falsa questão uma vez que ele não vai fazer programação: "Não sou director artístico, o director artístico é o António Pinto Ribeiro. Não tenho aliás tradição de programador - fiz dois festivais de Mafra mas isso não chega para dizer que é essa a minha profissão. O que eu fiz no CCB foi gestão cultural e é isso que eu vou fazer na Culturgest."Manuel José Vaz sublinha que Lobo Antunes e Pinto Ribeiro "são duas pessoas inteligentes e que ainda por cima são amigos, e por isso vão com certeza entender-se"."É uma excelente notícia para a Culturgest e fico muito contente que ele tenha sido convidado", disse ontem o director artístico, Pinto Ribeiro, 47 anos, na Culturgest há dez.Gestão culturalO que vai Lobo Antunes levar para a Culturgest? "Não sei", diz o recém-nomeado. "Conheço bem a casa, mas não conheço a vida interna da empresa e isso só se gere estando lá dentro - de qualquer modo, é um projecto que está a andar e está a andar bem e que eu, como parte do público, gosto muito. É um dos projectos mais interessantes em Portugal."Fátima Ramos, que irá substituir o poeta Nuno Júdice na embaixada em Paris, lembra que Lobo Antunes colaborou com a Culturgest durante cerca de dois anos, em 1994 e 1995, na produção de catálogos e edição. "E vai para uma casa onde conhece muitas pessoas - tem aqui grandes amigos e muitas pessoas do comissariado da Europália."A Culturgest tem este ano um orçamento de 2,5 milhões de euros (a esmagadora maioria vindos da Caixa Geral de Depósitos) e a administração reporta a um dos administradores da instituição bancária - também em processo de nomeação de nova administração - que neste momento é o vice-presidente Oliveira Cruz.DESTAQUE:"Não vou fazer programação. Não tenho aliás tradição de programador - fiz dois festivais de Mafra mas isso não chega para dizer que é essa a minha profissão. O que eu fiz no CCB foi gestão cultural e é isso que vou fazer na Culturgest"Miguel Lobo Antunes