Instituto das Artes aumenta investimento no Brasil
Paulo Cunha e Silva, director do Instituto das Artes, que regressa amanhã a Lisboa após uma semana na 26ª Bienal de Artes Visuais de São Paulo, está convencido que o Brasil pode ser um "local de ressonância da cultura portuguesa contemporânea".E por isso a aposta na presença portuguesa nesta bienal, a segunda mais importante do mundo (a seguir a Veneza), que tem um orçamento de 4,6 milhões de euros e na qual se esperam um milhão de visitantes (no ano passado houve mais de 700 mil).A obra escolhida para representar Portugal oficialmente é "Comer o Coração", do escultor Rui Chafes e da coreógrafa Vera Mantero (numa operação cujo valor total foi de 500 mil euros). Para Paulo Cunha e Silva, este investimento vai ter resultados muito concretos ao nível da maior visibilidade da cultura portuguesa contemporânea no Brasil.Planos para 2005Para o IA, o espaço da nova lusofonia usa a língua como motor de imagens futuras e para o seu director é esse o plano de transmissão do produto cultural português. Cunha e Silva acredita numa cultura portuguesa forte, mas que tem de, necessariamente, se expandir no Brasil.A representação oficial à 26ª Bienal de Artes Visuais de São Paulo é só o início de um projecto com a duração de quase um ano.Antes da Bienal no Rio de Janeiro, o Instituto das Artes co-organizou um seminário e duas exposições com o título genérico "Portugal Brasil - Uma ponte para o Futuro". Os objectivos eram estimular a reflexão sobre a história dos dois países no campo das diversas vertentes da arte contemporânea e apresentar uma exposição de Daniel Blaufuks e outra comissariada por Miguel Von Hafe Pérez com o título "Re-Produtores de Sentido".Para o Brasil, o IA está já a preparar a participação na 6ª Bienal de Arquitectura e Design de São Paulo e em Junho a exposição "Portugal Novo - Artistas de hoje e de amanhã", comissarida por Alexandre Melo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com possibilidade de itinerar por outras cidades brasileiras.O objectivo é dar visibilidade às novas estratégias em que esta (relativamente nova) direcção do instituto acredita.Também no calendário de 2005, em São Paulo, no Instituto Tomi Ohtake, vai estar a exposição de arquitectura "Metaflux", que está agora na Bienal de Veneza de Arquitectura. Por fim, e em colaboração com a associação Moda Lisboa, entre Janeiro e Junho de 2005 umas das mais famosas passarelas do mundo vai ter criadores portugueses.Este é um esforço que já começou a dar resultados: o trabalho de Vera Mantero e Rui Chafes para a Bienal de Artes Plásticas foi capa das famosas revistas "Braço" e "Veja" e teve grande destaque em dois dos mais importantes jornais de São Paulo: a "Folha" e o "Jornal do Brasil".Neste último, o título do artigo - "Além do fado" - é sintomático dos preconceitos que ainda existem entre as duas culturas. Preconceitos que Paulo Cunha Silva quer erradicar através da valorização de um Portugal contemporâneo, longe do tradicionalismo que lhe é associado.Portugal contemporâneo ou tradicional?Este foi aliás o mote das palavras de Paulo Cunha e Silva na abertura de um seminário no Rio de Janeiro, mesmo antes de a bienal abrir. Nessa ocasião, o director do IA falou da cultura portuguesa que quer mostrar no mundo, por contraposição a um Portugal popular e mais tradicional. Em São Paulo, muitos comentam a surpresa de, ao mesmo tempo, haver no Rio de Janeiro uma série de iniciativas promovidas pelo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes que incluem mostras gastronómicas, exposições de arte tradicional, etc, e em São Paulo as tão contemporâneas exposições e debates do IA (que pertence ao Ministério da Cultura).As novas linhas programáticas do instituto querem reflectir a profunda renovação disciplinar e organizativa interna que o IA, desde a sua fusão, tem sofrido. E que ainda poderá sofrer: fontes bem informadas falam para breve da união - com moldes a definir - do Instituto Português de Fotografia à actual estrutura do Instituto das Artes.Para Alexandre Melo, que a convite do IA comissariou esta presença oficial portuguesa, o objectivo era criar surpresa, pensada não meramente "como ideia, mas também enquanto objecto e obra em concreto": "Não era tanto ter uma ideia esquisita, mas sim uma combinação inesperada que produzisse uma obra perturbadora, surpreendente e de grande impacto".Além da representação oficial, dois artistas portugueses foram convidados directamente pelo comissário-geral: João Paulo Feliciano e Jorge Queiroz.