João Ubaldo Ribeiro cita Shakespeare com frequência. Basta ler o último livro do escritor brasileiro, que duas cadeias de hipermercados não quiseram vender. O PÚBLICO encontrou-o a meio de uma maratona de entrevistas sobre a polémica à volta de "A Casa dos Budas Ditosos", que já vendeu 13 mil exemplares em Portugal. "Estou meio zonzo com tanta solicitação, tanta conversa, tanta indagação e celeuma." Tanto barulho por nada?

O pecado de João Ubaldo Ribeiro, à beira dos 59 anos, foi ter trocado a preguiça pela luxúria. Melhor dizendo: depois da editora brasileira Objetiva lhe propor que escrevesse sobre o primeiro, ele preferiu o segundo. O livro ficou à porta de duas cadeias de hipermercados portugueses, mas também por isso, ele está em Portugal para o relançamento de "A Casa dos Budas Ditosos" (ed. Dom Quixote), que a revista "Veja" considerou "ostensivamente pornográfico". Depois de Lisboa, é a vez do Porto acolher o escritor numa sessão de autógrafos na Fnac do NorteShopping, amanhã, pelas 18h. Em Dezembro passado, os hipermercados Continente e Jumbo/Pão de Açúcar decidiram não vender "A Casa dos Budas Ditosos". O Continente admitiu que a situação poderia ser revista depois do Natal, se os clientes assim o entendessem. Contactado ontem pelo PÚBLICO, Oliveira e Sousa, director de relações públicas da Sonae (Continente), declarou que "a editora se desinteressou do assunto" e que "há um fax a convocá-la para uma reunião em Fevereiro", até agora sem resposta. "Se a Dom Quixote propuser o livro, não temos nada a opôr."JOÃO UBALDO RIBEIRO - Isso se deve em grande parte à propaganda que foi feita de graça pela proibição. Fico um pouco acanhado com essa história, porque o livro não despertou proibição alguma no Brasil. É como se fosse uma coisa excepcional, quando, na verdade, é um livro despretensioso, um pouco forte, na falta de outro adjectivo... mas não é nenhuma novidade na literatura.