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As histórias que o fado encerra não são apenas para cantar. Todas as quintas-feiras, ao final da tarde, são também para contar no Museu do Fado por quem as vive na pele. Hoje a convidada é Maria Ana Bobone e a entrada é gratuita.
Como terá sido para Camané dar os primeiros passos no fado aos 11 anos, quando ainda era tempo de andar a jogar à bola com os amigos? Ou o que terá levado Aldina Duarte a entregar-se à canção da alma portuguesa, já depois dos 20 anos de idade, pela mão da grande fadista Beatriz da Conceição? Estas são algumas das perguntas cujas respostas já foram desvendadas nas Conversas de Museu, mas muitas outras estão para breve, na voz de diferentes artistas. É que, todas as quintas-feiras pelas 19 horas, um fadista diferente é o convidado para uma partilha intimista que o Museu do Fado tem vindo a organizar desde Março.
Esta semana (dia 10) a convidada foi Maria Ana Bobone e, na próxima (dia 17), será a vez de o auditório do Museu do Fado se encher para acolher as revelações de Paulo Bragança, o fadista rebelde e vanguardista dos anos 90, que ficou famoso por cantar descalço. Conhecido pela estética gótica e pela atitude inovadora que introduziu no fado, dele ficou como marco o álbum Amai, de 1994, que também foi lançado nos EUA pela editora Luaka Bop, do cantor David Byrne. Cerca de uma década depois de se ter afastado do país e dos palcos, regressou a Portugal em 2017 trazendo com ele muitas das histórias que irá partilhar nestas Conversas de Museu.
“Tanto o fadista como o actor vão ao essencial da alma humana; quer o teatro, quer o fado, se não são um acto de vida, de presença, de dádiva absoluta, não são nada.”
Conhecer quem dá vida ao fado
Em registo informal, livre e sem qualquer moderação, no ciclo Conversas de Museu tudo pode acontecer. E muitos foram os momentos que já terão ficado na memória de quem teve a sorte de por lá passar. Foi o caso do diálogo com Carlos do Carmo - a quem coube inaugurar a iniciativa - que surpreendeu a audiência com um tema inédito depois de revelar episódios desconhecidos do seu percurso. Ou quando Marco Rodrigues e Paulo de Carvalho divertiram a plateia com uma hilariante sessão de fado humorístico a duas vozes. Ou ainda quando José Manuel Neto contou histórias que só ele e a sua guitarra portuguesa conheciam. Por falar em guitarra, o ciclo convidou igualmente, já no início deste mês, o mestre guitarreiro Óscar Cardoso, que aprofundou os mistérios desta profissão de construir o instrumento musical que acompanha o fado.
O talento de Ricardo Ribeiro também já foi revelado na primeira pessoa e Manuela de Freitas, actriz e letrista, ofereceu uma analogia entre o teatro e o fado, realçando as semelhanças ao nível na interpretação: “Tanto o fadista como o actor vão ao essencial da alma humana; quer o teatro, quer o fado, se não são um acto de vida, de presença, de dádiva absoluta, não são nada.”
Se é verdade que para sentir o fado há que ouvi-lo, não é menos verdade que para o compreender é importante conhecer quem lhe dá vida. É, pois, isso que pretende o Museu do Fado no ano em que festeja duas décadas de actividade, convidando intérpretes de diferentes estilos e gerações, bem como outros protagonistas que tornam o fado possível, para partilharem com o público as suas histórias e confidências. Não só sobre o seu percurso artístico e as relações que estabelecem com as letras que cantam, mas também sobre a vida que dão ao fado.
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