Erupção mais violenta do Vesúvio foi há 3780 anos

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A última erupção do Vesúvio, que se eleva numa montanha de 1280 metros, deu-se em 1944 e, antes disso, em 1906 DR

No entanto, a erupção de há 3780 anos terá tido muito menos mortos do que a do ano 79, a mais famosa de todas, porque houve uma evacuação de milhares de pessoas da região do vulcão. Estas revelações foram feitas ontem num artigo na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.

Em Maio de 2001, na cidade de Nola, 15 quilómetros a nordeste do Vesúvio, arqueólogos italianos encontraram uma povoação da Idade do Bronze, soterrada pelas cinzas de uma erupção ocorrida há cerca de 3780 anos. Os restos muito bem preservados revelavam pessoas a fugir do vulcão e permitiram fazer uma avaliação dos efeitos da erupção nas povoações humanas.

O estudo destes vestígios está na origem do artigo publicado ontem pelo geólogo Michael Sheridan, da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, com colegas italianos de Nápoles, quer do Centro de Geofísica e Vulcanologia, quer do Museu de Antropologia.

A última erupção do Vesúvio, que se eleva numa montanha de 1280 metros, deu-se em 1944 e, antes disso, em 1906. A erupção mais famosa foi a que soterrou Pompeia e Herculano com cinzas incandescentes e fragmentos de rochas, a 24 e 25 de Agosto do ano 79.

As cinzas quentes taparam as cidades, até serem encontradas no século XVIII. Pelo menos 2000 pessoas terão morrido em Pompeia, mas pensa-se que a maioria dos habitantes de Herculano saiu ilesa. As erupções de 472 e 1631 (nesta última morreram 4000 pessoas) também foram violentas.

O Vesúvio tem um tipo de erupção chamado pliniano - em homenagem ao naturalista romano Plínio, que morreu na erupção do ano 79 -, que se caracteriza por uma manifestação explosiva. O vulcão expele fragmentos de rochas, pelo que a sua chaminé funciona como um canhão, mas também vai acumulando magma até que partes do monte desmoronam.

Nuvens de pó, que escondem cinzas incandescentes e rochas pulverizadas, precipitam-se montanha abaixo a grande velocidade - um fenómeno violento e destrutivo, que se chama corrente piroclástica. Mas antes de chegar a esta fase, o vulcão vai dando sinais, o que permite fugir da catástrofe.

Pegadas ficaram nas cinzas

Na reconstituição do evento de há 3780 anos, os cientistas dizem que o vulcão começou por ter uma fase explosiva moderada, que resultou numa chuva de pedra-pomes. Depois, pelo menos por seis vezes, houve desmoronamentos no monte vulcânico, resultando em correntes piroclásticas. Essa sequência de correntes piroclásticas cobriu as redondezas do vulcão, até pelo menos 25 quilómetros de distância, de cinzas, que queimaram povoações e terras.

Neste tipo de erupção, os primeiros efeitos nas pessoas são nos cabelos e na roupa, que se incendeiam. Há uma postura típica de quem morre assim: os braços e pernas ficam erguidos devido ao calor intenso, que solidifica os músculos. Por exemplo, os corpos dos habitantes de Pompeia e Herculano decompuseram-se debaixo das cinzas e isso deixou buracos, que seriam depois descobertos.

Mas os habitantes da povoação pré-histórica de Nola tiveram mais sorte, até porque as cinzas não chegaram lá já muito destrutivas: "Cenas da vida quotidiana congeladas pelas cinzas vulcânicas testemunham que as pessoas abandonaram à pressa a povoação: há restos de quatro cabanas com cerâmica e outros objectos lá dentro, encontraram-se numa jaula esqueletos de um cão e nove cabras grávidas; e há pegadas de adultos, crianças e vacas cobertos pela queda das primeiras pedra-pomes", escreveram os cientistas.

A um quilómetro de Nola, em San Paolo de Belsito, a encontraram-se os esqueletos de um homem e de uma mulher, que morreram sufocados e acabaram soterrados. Uma excepção, ao que tudo indica.

"A ausência de restos de vítimas noutros locais sugere fortemente que a evacuação precoce observada em Nola também deve ter ocorrido na maioria das outras povoações", continua a equipa. "A prova mais decisiva do êxodo é a descoberta extraordinária de milhares de pegadas humanas e de animais num depósito a 15 quilómetros do Vesúvio e apenas a sete de Nápoles."

O trilho sugere, assim, uma evacuação em larga escala. Milhares de pessoas terão fugido e a zona seria abandonada durante séculos. "Provavelmente, a maioria dos fugitivos sobreviveu."

Para os cientistas, esta erupção deve ser tida em conta nos planos de protecção, já que esta zona é densamente habitada. "Esta catástrofe deve ser considerada como o pior cenário possível em futuras erupções do Vesúvio, tendo sido ainda mais devastadora do que o evento do ano 79."

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