Ceres, Caronte e Xena podem vir a juntar-se aos planetas do sistema solar
É essa a mais importante proposta que está sobre a mesa na assembleia da União Astronómica Internacional (IAU, em inglês), que até dia 25 reúne em Praga cerca de 2500 astrónomos.
Há anos que se fala na hipótese de Plutão deixar de ser considerado planeta, por ser o mais pequeno de todos, com 2360 quilómetros de diâmetro (a Terra tem 12.756 quilómetros), e por terem sido descobertos outros objectos de tipo planetário com maior dimensão. É o caso do 2003 UB313, a que os astrónomos apelidaram de Xena, que se encontra logo a seguir a Plutão e tem 3000 quilómetros de diâmetro. É um objecto gelado bastante parecido com Plutão, e que também se encontra na Cintura de Kuiper, a seguir a Neptuno, na qual vagueiam milhares de objectos espaciais.
A IAU confrontava-se com uma opção: ou despromovia Plutão ou considerava outros objectos como planetas. É nesse sentido que vai a proposta ontem apresentada.
A IAU propõe uma definição de planeta e uma nova categoria a que chama plutões, ou planetas de tipo plutónico, onde se inserem Caronte, que até agora tem sido considerado um satélite de Plutão, e Xena, que foi descoberto em 2005 por Mike Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Desta forma, não só Plutão continua a ser um planeta como dá nome a uma nova categoria de planetas.
"Em certo sentido, estamos a despromover Plutão, porque o retiramos da lista dos planetas clássicos. Mas estamos a promovê-lo ao fazer dele o protótipo de uma nova categoria", adiantou Owen Gingerich, que presidiu ao comité que estabeleceu as novas definições, citado pela BBC News.
Há ainda o caso de Ceres, o maior asteróide entre Marte e Júpiter e a principal surpresa da nova classificação, que terá tomado em conta a sua forma esférica - uma condição essencial na nova definição de planeta.
Caronte, Xena e Ceres deverão integrar-se na categoria de planetas anões, proposta pela IAU, a par de outras duas: planetas gigantes e planetas clássicos, feitos de rocha, como os quatro mais próximos do Sol.
A proposta da IAU "deverá ser temporária", considera Rui Jorge Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa. "Não esgota o que já sabemos hoje e não melhora o nosso entendimento do sistema solar." O ideal, diz, seria criar classes abertas, e dá como exemplo a classe dos transneptunianos para designar os objectos encontrados - ou ainda por descobrir - na Cintura de Kuiper, para lá de Neptuno.
A própria IAU não descarta a possibilidade de anunciar mais planetas num futuro próximo, e adianta, em comunicado, que existem 12 candidatos a planetas que estão a ser observados.
Rui Jorge Agostinho deixa ainda uma questão: "Quanto tempo vão os países demorar a espalhar a nova informação?" Um dos problemas desta mudança está exactamente relacionado com a desactualização de manuais escolares e enciclopédias. Mas essa é uma questão que o director do Observatório Astronómico de Lisboa desdramatiza. "Isso está sempre a acontecer nas mais diversas áreas da ciência."