Amália, dez etapas de uma vida
Num percurso com inúmeras datas marcantes, aqui fica a sugestão de uma dezena de marcos a aglutinar vários acontecimentos na vida e na obra de Amália Rodrigues, do nascimento ao último adeus. No ano em que se celebra o centenário do seu nascimento (que, por não ter data certa, Amália celebrava a 1 e 23 de Julho, esta última considerada a data oficial), recordamos excertos de filmes e documentários e gravações que a imortalizam
Álbuns, teatros e documentários
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Tema: Lisboa à noite
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Tema: Abandono
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Tema: Fado português
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Tema: Lianor
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Erros meus (Luis Vaz de Camões - Alain Oulman)
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Programa Riso e Ritmo (Dezembro 1965), retransmitido na RTP - Memória
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(teatro, RTP, na íntegra)
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Tema: Com que voz
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Tema: Gondarém
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Tema: Amêndoa Amarga
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Tema: Cansaço
Tema: Lisboa Antiga
Amália Rodrigues - Barco Negro (Mãe Preta) (Les Amants Du Tage) (VintageMusic.es)
Breve cronologia para uma voz eterna
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1920
Amália nasce em Lisboa, oficialmente no dia 23 de Julho, em casa dos avós maternos, ambos naturais do Fundão (é a quinta de 10 filhos, e a primeira rapariga). Dúvidas quanto à data certa, levam-na mais tarde a escolher dois dias de Julho para celebrar o aniversário, 1 e 23. Dos 14 meses até aos 14 anos viverá com os avós, primeiro na Rocha do Conde de Óbidos e depois em Alcântara. Entra tarde na escola, aos 9 anos (e é lá que canta pela primeira vez em público), mas abandona-a cedo para trabalhar. Torna-se aprendiza de costureira, bordadeira e operária. Em 1934 passa a viver com os pais e os irmãos e em 1935 descarrega carvão no cais Alcântara e vende fruta, artesanato e souvenirs a turistas no Cais da Rocha, com a irmã Celeste Rodrigues. Nessa altura, já anda pelas verbenas do fado com o tio João Rebordão.
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1939
Estreia-se no Retiro da Severa, em Julho, como fadista profissional. O êxito é tal que em Outubro se torna cabeça de cartaz. No ano anterior, o irmão levara-a às escondidas da mãe à Academia de Santo Amaro, onde cantou e foi muito aplaudida, mas isso provocou intrigas entre as outras concorrentes, que recusavam competir com ela, e afasta-se. Mas nesses ensaios conhece o guitarrista amador Francisco Cruz, com quem virá a casar-se em Junho de 1940, vindo a separar-se dele em 1943 e consumando o divórcio anos mais tarde, em 1949.
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1943
Actua pela primeira vez fora de Portugal, estreando-se em Madrid, em Fevereiro, a convite da Embaixada de Portugal em Espanha. É o primeiro passo para uma carreira internacional que a levará a todo o mundo. Em 1944 estreou-se no Brasil, aonde regressará várias vezes (ali casou, em 1961, com César Seabra) e em 1952 actuou pela primeira vez em Nova Iorque, onde esteve 14 semanas em cartaz. Foi no Brasil, aliás, que faz as primeiras gravações, para a Continental, em 1945. “Eu e a Amália fomos tratadas como rainhas”, dirá mais tarde a irmã Celeste. Em Portugal, participa em duas revistas onde canta pela primeira vez composições de Frederico Valério (em 1942) e mais tarde (em 1945) começa a cantar regularmente no Café Luso.
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1947
Primeiro filme, Capas Negras, seguido, no mesmo ano, por Fado, História d'Uma Cantadeira. Participará, depois, nos documentários Fado Malhoa (1947) e April In Portugal (Abril em Portugal, 1955) e nos filmes Sol e Toiros (1949), Vendaval Maravilhoso (1949), Les Amants du Tage (Os Amantes do Tejo, 1954), Sangue Toureiro (1958), Fado Corrido (1964), As Ilhas Encantadas (1965) e Via Macau (1966). A pedido do realizador alemão Wim Wenders, fará ainda, tardiamente, uma pequena aparição no filme Até ao Fim do Mundo, em 1990.
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1950
Inicia colaboração e amizade com os poetas Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira e Luís de Macedo, conhece Alberto Janes (que lhe ofereceu Foi Deus) e canta, no âmbito do Plano Marshall, em diversas cidades europeias: Berlim, Roma, Trieste, Dublin, Berna e Paris, sempre com Raul Nery (guitarra portuguesa) e Santos Moreira (viola de fado). Em Dublin canta Coimbra, que a cantora francesa Yvette Giraud popularizará como Avril au Portugal. Em 1951 grava para a Rádio Triunfo (Porto) e em 1952 começa a gravar para a Valentim de Carvalho, que só abandonará entre 1958 e 1962, quando gravou para a francesa Ducretet Thompson.
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1955
O sucesso do filme Les Amants du Tage (rodado em Lisboa, Nazaré e Paris), onde canta Barco Negro e Solidão, projecta-a em França. Grava um LP em Paris, em Outubro, com Barco Negro e Solidão, e o filme abre caminho à sua estreia no Olympia, de Bruno Coquatrix, onde actua pela primeira vez em 1956, na festa de despedida de Josephine Baker, e em 1957 já como vedeta principal. Cantará ali com frequência, mas também em salas como o ABC ou o Bobino. Data também deste ano a sua estreia no teatro declamado (A Severa, no Monumental, em Lisboa) e a sua mudança para a casa onde viverá o resto da sua vida e que é hoje a sede da Fundação Amália, na Rua de São Bento. Um ano antes, em 1954, é lançado o seu primeiro LP, Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal, Flamenco From Spain, gravado em Nova Iorque.
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1962
Depois de ter sido considerada pela revista norte-americana Variety, em 1959, uma das quatro melhores vozes femininas do mundo, Amália conhece Alain Oulman, compositor francês nascido em Portugal com o qual gravará alguns dos melhores discos da sua carreira. Primeiro Busto, logo em 1962, onde canta David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello e Luís de Macedo, além de um fado escrito por ela (Estranha forma de vida); depois Fado Português (1965), cantando Luís de Camões, José Régio, Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira, Luís de Macedo e Alexandre O’Neill, seguido do EP Amália Canta Luís de Camões, três sonetos musicados por Oulman; Com Que Voz (1970) considerado um dos melhores discos portugueses de sempre, onde canta de novo Luís de Camões, a par de Cecília Meireles, David Mourão-Ferreira, Manuel Alegre, António de Sousa, Alexandre O’Neill, Pedro Homem de Mello e Ary dos Santos. E, por fim, Cantigas Numa Língua Antiga (1977), onde volta a Camões, Ary dos Santos, Pedro Homem de Mello e Manuel Alegre, sempre musicados por Alain Oulman.
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1985
Primeiro concerto a solo no Coliseu de Lisboa (19/4), repetido no Porto (26/4), após um ano de paragem por motivos de saúde. Em 1977, Amália ficara inactiva três semanas, devido a um acidente de automóvel em Leiria; em 1979 for internada com problemas cardíacos, no Hospital Particular de Lisboa; e em 1984, com a suspeita de um tumor maligno, refugiou-se nos EUA e chegou a ponderar o suicídio, mas é “salva” por filmes de Fred Astaire, que compulsivamente compra e vê. O regresso é triunfal: além dos coliseus, volta ao Olympia e actua na Argélia, em Espanha e no Canadá, onde o dia 6 de Outubro é decretado, em Toronto, como Dia Oficial de Amália Rodrigues (por estranha coincidência é nesse dia que virá a morrer, 14 anos depois). A Valentim de Carvalho lança dois LP duplos com a colectânea O Melhor de Amália, em 1986 é lançado o livro Amália – Uma Biografia, de Vítor Pavão dos Santos, e em 1987 Amália dá a primeira conferência de imprensa da sua vida (em casa) para anunciar novos espectáculos no Coliseu dos Recreios, lançados no fim do ano em LP triplo (Coliseu Lisboa, 3 de Abril de 1987).
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1989
Comemorações dos 50 anos de carreira, com homenagens, exposições e retrospectivas. A par disso, Amália abre o espectáculo A Noite da Europa Comunitária, em Bruxelas, na presença de Jacques Delors, e anda em digressão por Espanha, França, Suíça, Israel, Índia, Macau, Coreia do Sul, Japão, Bélgica, EUA, Itália e Portugal, sendo recebida no Vaticano pelo Papa João Paulo II. A Valentim de Carvalho edita uma caixa com 8 CD, intitulada Amália 50 anos. Celebrações no Coliseu, onde recebe do então Presidente da República Mário Soares a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada. Dá um recital no Teatro de ópera de São Carlos e actua no Town Hall de Nova Iorque, num concerto filmado por Bruno de Almeida (e editado depois em vídeo com o título Amália Live In New York City). Antes de ser operada, nos EUA, a um tumor no pulmão esquerdo (1995), actua pela última vez no Olympia (1992) e no Coliseu (1994). A RTP emite, em episódios, o documentário Estranha Forma de Vida, de Bruno de Almeida (1995).
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1999
A publicação, em 1997, de um disco de inéditos (Segredo) e de um livro reunindo os poemas escritos por Amália (Versos, ed. Cotovia), antecede novas homenagens, desta vez na Expo’98, recebendo a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique do então Presidente Jorge Sampaio. Nesse mesmo ano, 1998, é submetida a nova intervenção cirúrgica, sujeitando-se já em 1999 a mais exames médicos. É neste ano que virá a morrer, subitamente, no dia 6 de Outubro, na sua casa da Rua de São Bento, depois de perder duas pessoas muito próximas: o seu marido, César Seabra, em Junho de 1997; e Maluda, em Fevereiro de 1999. Tocados pela morte de Amália, milhares de portugueses saem às ruas e são decretados três dias de luto nacional. Em 2001, os restos mortais daquela que é considerada a maior cantora de Portugal e uma das maiores do mundo, são trasladados do cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional.
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