30 coisas para fazer na vida
O que queremos para a nossa vida aos 10, 20, e aos 30 anos? Queremos “fazer quase tudo bem”, como o Tomás, “mudar o mundo”, como a Ana Beatriz, ou ter mais tempo para a família e amigos, como o Francisco? Ouvimos três pessoas, três idades, e entregámos a lista de cada um a três ilustradores do PÚBLICO.
Tomás Correia, com apenas dez anos, tem uma vida muito atarefada. Em casa, só come e dorme – “e às vezes nem isso”, diz em tom de brincadeira. Mas isso não o incomoda; gosta da azáfama. E a lista que nos apresentou diz-nos isso mesmo.
Eu queria conhecer o mundo inteiro. Andar a pé é muito chato; de bicicleta custa muito, por isso, de avião
Entre o atelier de robótica, o futsal e o basquetebol do desporto escolar, as aulas de piano, a banda filarmónica, a Rádio Miúdos, a fanfarra dos bombeiros e os escuteiros, dá para perceber que os interesses de Tomás (para além de muitos) são muito variados. Mas isso não é razão para ser menos dedicado a um ou a outro. Quer saber fazer quase tudo bem, e “quase tudo”, diz ao PÚBLICO, porque fazer tudo bem podia fazer com que se tornasse numa pessoa “superior aos outros e essas coisas”.
Comunicativo por natureza, fomos encontrá-lo na Rádio Miúdos, a primeira rádio portuguesa para crianças.
Na rádio, faço o meu programa, faço emissões, faço jingles, faço produção e vou a alguns sítios
À sexta-feira, a primeira parte da tarde de Tomás é passada na rádio. Faz emissão das 15h às 16h e depois trata de produzir o seu próprio programa, que ainda não estreou, e que cruza o amor pela comunicação com o amor pela natureza e pelos animais. “Não sei se posso estar a dizer isto, porque o programa não foi para o ar ainda…”, responde reticente, quando lhe perguntamos como funcionará. “Mas eu vou dizer. O meu programa chama-se ‘ABC dos Animais’. Escolho um animal e falo de tudo o que consigo descobrir sobre ele”.
Grande Muralha da China, Taj Mahal, Machu Pichu, Chichén Itza... Não só.
Eu já vi na televisão que há um programa sobre as sete maravilhas do mundo nos doces. Mas eu gostava de conhecer as sete maravilhas em tudo, ou seja, nos doces, nas cidades, nas artes, na música. Em tudo
Eu já montei a cavalo. Não correu bem, parti o pulso. Mas camelo deve ser diferente, por isso deve ser giro. Pelo menos, lá naqueles sítios, em Marrocos e assim, andam muito de camelo
Tanto a mãe como o pai de Tomás cozinham em casa, e a avó materna é mesmo cozinheira. Quem sai aos seus não degenera, não é verdade?
A música é um dos grandes interesses de Tomás. Toca piano, tuba, caixa, clarim e flauta de bisel. Nos planos para os próximos anos, está aprender oboé, fagote e guitarra, pelo menos. Diz que gosta “de tudo, excepto Rock”, porque, explica, “é muito barulho”.
Para dar a volta ao mundo preciso de dinheiro. Senão não dá
Eu gosto muito da SIC e quando vejo o telejornal gosto muito de ver a Clara de Sousa. Como eu quero ser pivot como ela, é uma das minhas referências e gostava muito de a conhecer
Do alto dos seus 20 anos, Ana Beatriz Basílio tem muitas certezas. Uma delas é a de que não vale a pena fazer planos a longo prazo. Por isso, confessa, foi “muito complicado” fazer uma lista de 30 coisas para fazer na vida. “Nós, os jovens, não pensamos muito no futuro, vamos fazendo o nosso dia-a-dia”, diz-nos, para logo a seguir explicar que a lista que acaba por apresentar ao PÚBLICO é para cumprir quase toda em “cinco, sei anos”.
Para Ana Beatriz, o futuro passa depressa.
Se tudo correr bem, os primeiros dois desejos estarão concretizados já nos próximos meses. Ana Beatriz frequenta o terceiro e último ano de Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa. Já o terceiro desejo será mais difícil de medir…
Ainda temos homofobia, temos racismo, temos pobreza. Mas basta uma pessoa levantar-se e começar a lutar. Nós temos o exemplo da questão ambiental, da Greta
Como muitos estudantes em Portugal, Ana saiu de casa dos pais quando entrou na faculdade há quase três anos. 42% dos alunos matriculados no ensino superior público (são mais de 113 mil estudantes) estão deslocados.
Veio de Estremoz e “tem quase a certeza” que não quer voltar à terra onde até uma ida ao cinema tem de ser bem planeada. Só há uma sessão, sexta-feira à noite, e é preciso ter sorte para que não esteja esgotada.
Ana pertence à Geração Z, dos nativos digitais, nascida entre 1995 e 2012. Estes jovens já não esperam um emprego para a vida, chegam mesmo a temê-lo – “eu se estiver numa empresa e sentir que já atingi o máximo, claramente vou procurar outra que precise mais” – e querem marcar uma diferença em relação às gerações anteriores.
Ana está a estudar Ciência Política, mas este curso não tem de definir o seu futuro. “Existem tantas especialidades, tantos doutoramentos, temos um leque muito maior. Posso fazer um mestrado em ciências da comunicação e mais tarde dedicar-me à cultura ou ao jornalismo”, antevê.
O meu avô trabalhou no campo, a minha avó foi cozinheira durante toda a sua vida. O meu pai é militar desde os 18 anos. Todos os dias veste a mesma farda. Eu não sei até que ponto nós os jovens nos vamos sentir contentes com essa estabilidade
Há pouco tempo as ruas de Lisboa estavam cheias de jovens. Eles interessam-se pela política mas não acreditam no sistema partidário e preferem fazer política através de movimentos. Eu acredito
A política começou por ser mais um passatempo em Estremoz. Tudo começou no Parlamento dos Jovens, um programa escolar de educação para a cidadania, até transformar-se em ambição.
No dia 4 de Maio de 2019, Ana pisou o palco das conferências TED para convencer os outros a não adiarem as conversas difíceis (e revelar ao mundo que gosta de raparigas). Foi o dia em que se sentiu mais concretizada em toda a sua vida.
A saída do armário não foi uma novidade para os pais nem para os amigos mais próximos, o mais difícil foi mesmo falar para tanta gente. Os avós pensam que a neta foi falar sobre a Europa. Para Ana, esta não é uma conversa difícil, mas desnecessária.
Sei que eles me vão continuar a amar de qualquer das formas, mas não lhes quero contar porque são realidades totalmente diferentes. Sinto que não lhes vai acrescentar nada
Há coisas que tenho na lista que são fáceis e rápidas de cumprir. Posso combinar amanhã com os meus amigos e vamos todos passar uma tarde a jogar no IKEA
Entre os clássicos da vida académica, há um que Ana não consegue incorporar: “a comida preferida do univers itário é o atum e eu não gosto de atum”. Por isso, virou-se para uma espécie de esparguete à bolonhesa.
Eu queria ter ido para a escola naval só que desloquei o ombro um dia antes de fazer os testes físicos. Fazer um cruzeiro serviria para ver o que é que eu iria passar se tivesse entrado
Como estou em Lisboa, não é fácil estar com a minha família e sinto que estou a perder um bocado o elo de ligação com eles. Mais momentos como o Natal seria benéfico para a minha família e para todas as outras. Um Natal 2.0 de manga curta
Quem não partilha este desejo?
Em Lisboa, os estudantes de Erasmus são os primeiros a agarrar o microfone e a cantar todos felizes. Quero ir a um bar estrangeiro, pedir uma música portuguesa, e ver os estrangeiros a olharem para mim feitos parvos, que é como eu olho para eles cá
Numa prisão eu ia perceber a que é que e a quem é que eu devo dar valor
Aos 30 anos, Francisco Moitinho de Almeida desdobra-se em vários papéis: é casado, tem dois filhos, trabalha numa empresa multinacional, toca violoncelo na Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, é católico (praticante). Ao fazer a lista, olhou para dentro, para o que mais lhe importa. Mas também acabou a olhar para si de fora. “Os meus amigos disseram: esta lista é a tua cara. Mas acho que podem olhar para isto e dizer: aí está o beato betinho”.
Cada vez menos é comum ter pessoas da minha idade casadas e com filhos. Os meus amigos começam agora a pensar no assunto mas no geral não é a realidade que temos na nossa sociedade
Os meus filhos são o foco principal da minha vida. Tenho o objectivo de os formar mas não acho que sejam minha propriedade. Acho que esse é um dos principais desafios como pai.
O tema que mais me preocupa é o tema das alterações climáticas e a questão ambiental. Por um lado queremos desenvolvimento económico, conforto, ter uma vida boa, mas por outro queremos uma vida boa para os nossos filhos e uma Terra habitável. Para mim esse é o principal desafio porque por muito que poupemos nas palhinhas, na nossa realidade ainda estamos muito longe de conseguir isso.
O exercício físico é uma das principais lacunas da minha vida. Gostava de ter tempo e acima de tudo motivação. Para mim é mais improvável conseguir manter uma rotina de exercício físico durante o resto da vida do que ir ao espaço!