Europeus estão divididos em relação ao alargamento da União Europeia
Sondagem do ECFR em seis Estados-membros não reúne consenso em relação ao impacto económico e de segurança da admissão de novos membros no bloco, incluindo a Ucrânia.
Os europeus estão divididos em relação às vantagens do alargamento da União Europeia e mostram sentimentos contraditórios quanto à possível admissão de novos Estados no bloco, nomeadamente a Ucrânia, conclui uma sondagem divulgada esta segunda-feira pelo European Council on Foreign Relations (ECFR), em vésperas do Conselho Europeu onde a entrada de novos membros será um dos pontos mais importantes na agenda da reunião de chefes de Estado e governo da UE.
A sondagem, levada a cabo em seis Estados-membros da UE durante o mês de Novembro (Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Polónia e Roménia), revela que, embora exista um apoio considerável à adesão da Ucrânia e, em menor grau, da Moldova e do Montenegro ao bloco europeu, existem grandes preocupações económicas e de segurança relacionadas com o alargamento. Além disto, os cidadãos europeus auscultados neste inquérito mostram-se também receosos em relação à candidatura de outros países, sobretudo da Turquia, mas igualmente da Geórgia e da maior parte dos países dos Balcãs Ocidentais.
É em relação à Ucrânia, em guerra com a Rússia desde a invasão iniciada em Fevereiro de 2022, que os europeus ouvidos para esta sondagem mostram maior abertura, se bem que desigual entre os países onde foi realizado o inquérito. O apoio à entrada da Ucrânia na UE é predominante na Dinamarca (50%) e na Polónia (47%), mas, nos restantes quatro países, a opinião divide-se: na Roménia, o apoio à adesão ucraniana recolhe 32% de apoio, meros três pontos percentuais acima de quem se opõe. Na Alemanha e em França, a oposição à adesão da Ucrânia é maior do que o apoio (39% contra, 37% a favor no caso alemão e 35% contra e 29% a favor no caso francês). Onde a admissão da Ucrânia no bloco europeu é vista mais desfavoravelmente é na Áustria, onde uma maioria (52%) mostra-se contra, contra apenas 28% a favor.
As maiores dúvidas dos cidadãos dos seis Estados-membros ouvidos para esta sondagem estão relacionadas com os riscos económicos e de segurança que a entrada da Ucrânia no bloco poderá acarretar. Entre os inquiridos pelo ECFR, 45% acreditam que a adesão da Ucrânia à UE teria um “impacto negativo” na segurança da UE, enquanto 25% consideram que teria um “impacto positivo”. Outros 39% acreditam que a adesão da Ucrânia teria um “impacto negativo” na segurança do seu país – enquanto apenas 24% esperam um “impacto positivo”. Em termos comparativos, e de acordo com os inquiridos, a adesão dos países dos Balcãs Ocidentais acarreta menos riscos, com a opinião dividida em 33% e 23%, respectivamente, entre os que consideram que tal adesão teria um impacto “negativo” ou “positivo” na segurança do bloco.
Conclusões semelhantes podem ser retiradas no que diz respeito ao impacto económico da admissão da Ucrânia, com muitos europeus a não verem qualquer benefício. Com a excepção da Polónia e, em menor grau, da Roménia, onde há grandes percentagens (43% na Polónia e 37% na Roménia), poucos são os que consideram que a entrada da Ucrânia tenha um impacto positivo na economia do bloco. Esta ideia encontra-se sobretudo na Dinamarca e na Áustria, onde 54% e 46% dos inquiridos, respectivamente, expressaram a opinião de que a admissão da Ucrânia teria um “impacto negativo” na economia da UE.
“Embora o Conselho Europeu desta semana venha centrar-se nas vias de adesão à UE da Ucrânia e de outros países candidatos, o debate sobre a forma de o conseguir, na prática, ainda mal começou”, refere Piotr Buras, investigador principal e director do ECFR em Varsóvia, para quem “a retórica geopolítica de Bruxelas está a esconder profundas preocupações nos Estados-membros sobre as potenciais consequências do alargamento e um cepticismo generalizado sobre a capacidade da UE para integrar novos membros”.
Onde os europeus ouvidos para esta sondagem não mostram quaisquer dúvidas é em relação a uma possível entrada da Turquia, país cujo processo de admissão está, nesta altura, parado. Das pessoas inquiridas nos seis países, 51% opõem-se à ideia de a Turquia poder aderir à UE. Aliás, menos de 1 em cada 5 dos inquiridos (19%) apoiaria qualquer avanço na adesão da Turquia.
De forma menos categórica que o não à Turquia, os europeus também não se mostram particularmente receptivos a que Albânia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Geórgia, Moldova, Montenegro, Macedónia do Norte e Sérvia se tornem futuros Estados-membros da União Europeia: menos de 30% dos cidadãos manifestaram o seu apoio à adesão à UE de qualquer um dos países acima mencionados. Ainda assim, Moldova e Montenegro conseguem reunir 30% a favor da adesão.