Em Coimbra, os fãs de Coldplay esperam um concerto para um dia contar aos filhos

Início da tarde em Coimbra, onde os Coldplay dão esta quarta-feira o primeiro de quatro concertos, contou com muitos fãs bem-dispostos e apostados numa “grande noite”.

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São duas horas e 33 minutos, marca o relógio. Dentro de outras duas horas e meia, os seguranças permitirão que 50 mil pessoas entrem no Estádio Cidade de Coimbra, onde esta noite (e em mais três noites até domingo, com pausa na sexta-feira) actuam os Coldplay.

A multidão já está formada. Quem vai ver o concerto a partir do relvado, e portanto não tem lugar definido, quer tentar ficar tão perto do palco quanto possível, daí a chegada prematura — nada de novo nestas lides.

Está quente, muito quente. O sol arde. Mentes precavidas saíram de casa com um guarda-chuva, para proteger cabeça e pele dos raios ultravioleta. Outros experimentam abordagens distintas, tapando a parte de cima do corpo com uma bandeira gigante da Espanha.

Ouvem-se muitos sotaques do país vizinho. Ficamos à conversa com Andrés Regueira (35 anos) e Carlos Jiménez (31), dois de sete amigos que esta manhã fizeram duas horas e meia de carro, entre Vigo e Coimbra.

A banda do frontman Chris Martin, o vocalista, vai actuar em Espanha depois destas datas em Portugal, mas Andrés e Carlos não conseguiram comprar bilhetes para nenhum desses concertos (quatro espectáculos em Barcelona). Contentaram-se, portanto, com Coimbra, sendo que já tinham apanhado esta digressão, a Music of the Spheres World Tour (Music of the Spheres é o nome do álbum mais recente dos Coldplay, lançado em 2021), em Glasgow, na Escócia.

É um espectáculo muito potente. É mais do que um concerto de música, diz-nos Carlos. Explica que a forma como a banda interage com o público e todo o aparato visual — as pulseiras LED, o fogo-de-artifício, os jogos de luz — são elementos que, ao vivo, “separam” os Coldplay de outros grupos.

“Tornam a experiência diferente, não sei se melhor ou pior.” É tudo uma questão das especificidades de cada grupo ou artista, reflecte. Há bandas que o jovem gosta de ouvir “no seu estado puro", isto é, “sem tantos artifícios”. “Este tipo de performance assenta bem nos Coldplay.”

Os dois espanhóis são fãs da banda há já alguns anos — Andrés desde 2005, Carlos desde 2010. Quando lhes perguntamos o que acham da trajectória do grupo em termos criativos, Carlos diz acreditar que os britânicos “continuam a ser muito bons”, independentemente de terem mudado de linguagem consoante a música pop mudava, também ela, de uma tendência para a outra.

A “mescla” entre a “primeira versão” dos Coldplay e aquilo que a banda é e representa na actualidade está “muito bem conseguida”, considera.

Saltamos para outra zona à porta do Estádio Cidade de Coimbra, onde também já há uma concentração generosa de pessoas. Falamos com dois dos muitos jovens que estão sentados no chão. Francisco Oliveira tem 19 anos. É um ano mais velho do que a amiga Clara Alves. Vieram do Porto, onde apanharam o autocarro rumo a Coimbra pelas 9h. Quiseram chegar cedo porque, como hoje vai ser apenas o primeiro de quatro concertos, há “sempre aquela questão de a logística poder não estar muito bem organizada”, explica-nos Francisco. “Ficámos [positivamente] surpreendidos”, intervém Clara.

Como os espanhóis Andrés Regueira e Carlos Jiménez, Francisco e Clara são fãs dos Coldplay há já alguns anos. “Acho que todos os meus momentos de infância foram marcados por músicas dos Coldplay”, diz Francisco. Já ouviu a banda em vários contextos diferentes: “no final de uma noite de discoteca”, em viagens de carro com os pais...

A famosíssima Yellow é uma das canções do grupo de que o jovem estudante mais gosta. “Está associada a um momento da minha vida muito importante.”

Clara também já passou muito tempo a ouvir Coldplay com os pais. Eles não vão estar logo à noite no estádio a ver o concerto com ela, mas pode ser que um dia a família visite um país de propósito para assistir, toda junta, a um espectáculo da banda, sugere.

“O meu principal objectivo é este ser um concerto que eu possa dizer aos meus filhos que vi”, diz ainda. “É toda uma experiência diferente, quero poder contar todas as memórias.”

Francisco comenta que os seus pais têm colegas que viram o primeiro concerto dos Coldplay em Portugal (foi em Paredes de Coura, em 2000). Na altura, a banda não tinha a “capacidade mobilizadora” que tem hoje, constata.

Fala de uma banda que, na sua óptica, soube “adaptar-se bem à evolução da indústria musical”. Adaptou-se aos tempos, mas manteve a identidade, defende.

Num momento de autocongratulação, o jovem elogia as “sandes de panado” que fez “de manhãzinha” para aguentar as horas sentado à porta do recinto. “Se sobrevivemos a uma semana de Queima [das Fitas], sobrevivemos a seis horas na fila de espera para os Coldplay”, diz confiantemente e com um sorriso no rosto.

Continuamos a circundar o estádio. Por esta altura, o relógio já marca 15h30. Interceptamos um comentário curioso, confissão feita por uma mulher ao seu companheiro: “Diga-se de passagem que, se passar por eles na rua, não os reconheço.” “Eles” são, claro, todos os integrantes dos Coldplay cujo nome não é Chris Martin — Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria).

Há uma loja de gelados ao lado do estádio. Está equipada com uma coluna robusta, que anda a passar hits dos Coldplay há já algum tempo. Olhamos para dentro do pequeno estabelecimento e vemos a funcionária que atende o público a dançar ao som de Adventure of a lifetime (música de A Head Full of Dreams, álbum de 2015).

Dentro do estádio, uma aparelhagem com um alcance muito maior começa a reproduzir Paradise (Mylo Xyloto, 2011). Duas raparigas, amigas, filmam-se enquanto fingem que cantam o refrão da música — o seu microfone é uma garrafa de água de 33 centilitros.

Vemos um fã com uma peça de roupa curiosa: uma t-shirt branca com o nome “​Coldplay” escrito a vermelho, no tipo de letra da marca Coca-Cola.

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Paulo Pimenta

A camisola foi feita pelo próprio, um designer gráfico de profissão chamado Ricardo Viana. Tem 45 anos e veio do arquipélago da Madeira de propósito para este concerto. Aterrou em Lisboa esta terça-feira. Passou a noite em casa de amigos, em Oliveira do Hospital. Amanhã, quinta-feira, volta a descer em direcção à capital para apanhar o voo de volta para casa. “Tirei três dias de férias para isto”, diz o fã da banda. Veio com a mulher, que “é mais fã” do que ele, comenta.

Perguntamos-lhe qual a motivação que o levou a organizar este roteiro. “Para mim é a banda do momento, a banda que faz mais espectáculo”, responde sucintamente. “Este vai ser o meu primeiro concerto deles, mas já vi vídeos [de actuações anteriores] no YouTube. Estou à espera de uma grande noite.”

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