Suécia está a construir depósito de resíduos nucleares para durar 100 mil anos
Resíduos altamente radioactivos serão armazenados durante 100 mil anos. Associação Nuclear Mundial estima que existam 300 mil toneladas de combustível nuclear no mundo, que precisam de ser eliminadas.
Com três centrais nucleares em funcionamento e seis reactores, a Suécia iniciou esta semana a construção de um depósito de armazenamento final para combustível nuclear usado que, quando pronta, será a apenas a segunda deste tipo que existe no mundo. Ali, os resíduos nucleares altamente radioactivos serão armazenados durante 100 mil anos.
Até agora, só a Finlândia completou as obras para ter um depósito permanente de resíduos nucleares, no sítio conhecido como Onkalo, a 450 metros de profundidade, escavado na rocha da lha de Olkiluoto, no Sudoeste do país, onde há uma central nuclear. Mas estas instalações, construídas pela empresa sueca SKB, só deve começar realmente a funcionar em 2026, e o custo da obra é estimado em mil milhões de euros, segundo a BBC.
Como armazenar resíduos radioactivos mortais até a radioactividade se dissipar é uma questão que tem atormentado a indústria nuclear desde que os reactores comerciais começaram a funcionar, na década de 1950.
"É difícil exagerar a importância que tem para a Suécia e para a transição climática o facto de a construção do depósito final estar em curso", disse a ministra do Ambiente, Romina Pourmokhtari. “Disseram que não ia funcionar, mas funciona”, acrescenta.
A Associação Nuclear Mundial calcula que existam cerca de 300 mil toneladas de combustível nuclear usado a nível mundial, que têm de ser armazenados de forma segura até se dissipar a radioactividade - o que pode levar centenas, milhares de anos. A maior parte está armazenada em tanques de arrefecimento perto dos reactores onde foi utilizado.
Além do combustível usado já acumulado, vários países da Europa e de todo o mundo estão a planear construir novos reactores para fornecer electricidade sem emissões de dióxido de carbono, como forma de transição para o abandono dos combustíveis fósseis.
A Suécia é um deles: em 2023, abandonou a meta de ter 100% de energia renovável até 2040, em troca da ambição de ter 100% de energia sem recurso aos combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), prevendo para isso a construção de mais dez reactores até 2045. No entanto, o novo depósito só receberá combustível nuclear gasto já existente, não está previsto que para lá vá o combustível das centrais que vierem a ser construídas.
O depósito final de Forsmark, a cerca de 150 km a norte de Estocolmo, na costa leste da Suécia, consistirá em 60 km de túneis enterrados a 500 metros de profundidade em rochas com 1900 milhões de anos.
Será a casa definitiva de 12 mil toneladas de combustível nuclear usado, encerrado em tubos de cobre de cinco metros de comprimento, resistentes à corrosão, que serão embaladas em argila e enterradas.
As instalações receberão os primeiros resíduos no final da década de 2030, mas só estarão concluídas por volta de 2080, altura em que os túneis serão preenchidos e encerrados, informou a empresa sueca de gestão de combustível nuclear e resíduos (SKB), responsável pela construção.
Recurso contra o projecto
No entanto, o processo poderá ainda sofrer atrasos. A MKG, uma organização não-governamental sueca que trabalha no domínio dos resíduos nucleares, interpôs um recurso junto de um tribunal sueco solicitando a realização de novos controlos de segurança.
Segundo a MKG, uma investigação do Instituto Real de Tecnologia da Suécia demonstrou que as cápsulas de cobre podem corroer-se e derramar elementos radioactivos nas águas subterrâneas.
“Temos espaço para esperar dez anos para tomar uma decisão, uma vez que se trata de algo que tem de ser seguro durante 100 mil anos”, afirmou Linda Birkedal, presidente da MKG.
O depósito de Forsmark custará cerca de 12 mil milhões de coroas (mil milhões de euros) e será pago pela indústria nuclear, disse a SKB.