O alerta vermelho para incêndios florestais que vigorava na área de Los Angeles ao final do dia de quarta-feira, 15 de Janeiro, terminou, mas os meteorologistas alertam para a previsão de vento para quinta-feira, assim como para a permanência do risco de incêndios. O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA acrescenta que o alívio será breve e haverá probabilidades elevadas de os alertas ressurgirem quando os ventos fortes e a baixa humidade regressarem, como está previsto para domingo.
Cerca de 6,5 milhões de pessoas continuam sob ameaça de incêndio, depois de as chamas terem consumido uma área quase do tamanho de Washington, D.C (quase o dobro de Lisboa). Até ao momento, segundo as autoridades, morreram 25 pessoas.
Nesta quarta-feira, os bombeiros enfrentaram ventos fortes que alimentam ainda dois enormes incêndios florestais, que aterrorizam o Los Angeles há oito dias e desafiam a determinação de uma cidade abalada pelo pior desastre da sua história.
As autoridades pediram aos residentes para permanecerem atentos e prontos para serem retirados das suas casas a qualquer momento, tendo em conta a velocidade máxima das rajadas de vento prevista para durar até à tarde de quinta-feira. "Queremos reiterar que a situação de hoje é particularmente perigosa. Preparem-se e estejam prontos para sair", disse a supervisora do condado de Los Angeles, Lindsey Horvath, numa conferência de imprensa nesta quarta-feira.
Os incêndios já danificaram ou destruíram mais de 12 mil casas e outras estruturas, o que obrigou 200 mil pessoas a abandonarem as suas residências. Aproximadamente 82.400 pessoas estavam sob ordens de retirada e outras 90.400 enfrentavam avisos de retirada até quarta-feira, informou o xerife do condado, Robert Luna.
Bairros inteiros foram reduzidos a escombros e cinzas. Muitas das casas já só têm a chaminé de pé. Cerca de 8500 bombeiros do Oeste dos EUA, Canadá e México conseguiram conter o avanço dos incêndios durante três dias. O incêndio de Palisades, na extremidade oeste da cidade, permaneceu estável, com 96 km² queimados e a contenção subiu para 19%. O incêndio de Eaton, nas colinas do Leste da cidade, atingiu 57 km², com 45% de contenção.
Uma frota de aviões-tanque e de helicópteros despejou água e retardantes de fogo nas colinas acidentadas, enquanto as equipas terrestres, com ferramentas manuais e mangueiras, trabalhavam para conter os incêndios. Os bombeiros aéreos operam sem equipamentos de precisão ou piloto automático, apenas com a visão do piloto através do pára-brisas.
Centenas de bombeiros e trabalhadores de emergência estão alojados no exterior do estádio de futebol Rose Bowl, um acampamento onde se vive num sentimento de camaradagem entre turnos de 24 horas, seguidos de 24 horas de folga. "Estão todos empenhados nesta missão", disse Martin Macias, do Corpo de Bombeiros de Santa Helena, no Norte da Califórnia. "Entrámos todos nisto como um serviço para melhorar o dia de alguém na pior altura."
Um novo incêndio deflagrou na quarta-feira no condado de San Bernardino, a leste de Los Angeles, queimando 12 hectares, informou o Departamento Florestal e de Protecção de Incêndios da Califórnia. Dois outros incêndios no Sul da Califórnia estavam praticamente sob controlo.
Alguns habitantes de Los Angeles têm estado a tentar regressar a uma aparência de normalidade.
Os alunos e professores da Palisades Charter Elementary School, desalojados pelo incêndio, encontraram uma nova casa na quarta-feira, na Brentwood Elementary Science Magnet, onde foram recebidos de braços abertos.
“Para as crianças que perderam as suas casas e também a escola, é absolutamente devastador. E a forma como posso ajudar e retribuir é certificar-me de que essas crianças têm um sítio para onde ir. Apesar de termos perdido o edifício físico, ainda temos a nossa comunidade”, disse a directora da Palisades Charter Elementary, Juliet Herman.
Falta de preparação
Enquanto os incêndios continuam, os críticos têm-se questionado sobre a preparação da cidade para o perigo de incêndios, mesmo diante dos avisos do Serviço Nacional de Meteorologia sobre as condições perigosas, embora os bombeiros tenham estado em alerta e prontos para mobilizar recursos com antecedência.
Na quarta-feira, a chefe dos bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley, respondeu a perguntas sobre uma notícia do Los Angeles Times, dizendo que as autoridades decidiram não ordenar que mil bombeiros permanecessem de serviço durante o segundo turno, na passada terça-feira, altura em que os incêndios começaram a ficar descontrolados.
Kristin Crowley defendeu a preparação do departamento, afirmando que era impossível saber exactamente onde os incêndios poderiam deflagrar, e que alguns bombeiros precisavam de permanecer no local para responder a chamadas de emergência que surgissem de qualquer ponto da cidade. "Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para actuar onde podíamos", acrescentou.
O LA Times citou o vice-chefe dos bombeiros, Richard Fields, responsável pelas decisões relativas ao pessoal e ao equipamento antes do incêndio, afirmando que o escrutínio era bem-vindo, mas que os críticos estavam a tentar julgar com demasiada facilidade as decisões tomadas após o sucedido.