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Ainda Estou Aqui lota salas de cinema em Portugal como blockbusters de Hollywood
Em fenômeno que normalmente só acontece com produções norte-americanas, filme brasileiro com Fernanda Torres tem sessões esgotadas em muitos cinemas de Portugal para a estreia e o fim de semana.
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Os cinemas estarão lotados para o filme brasileiro Ainda Estou Aqui, que estreia nesta quinta-feira (16/1) em mais de 40 salas de 28 cidades portuguesas. Os bilhetes para o primeiro dia de exibição em Portugal e para o fim de semana estão esgotado em vários locais, num fenômeno que as distribuidoras só observam em blockbusters de Hollywood. Mais de 3 mil ingressos já foram vendidos.
Para Lea Teixeira, diretora do Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa (Festin), sediado em Lisboa, o sucesso do filme dirigido por Walter Salles foi uma surpresa. “Estou perplexa. É muito bom para um filme brasileiro em Portugal. Isso é muito bom para o cinema brasileiro”, diz.
Ela acredita que uma das razões para o sucesso da película estrelada por Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz (drama), é a política. “O filme trata de uma época difícil em que muitos arriscaram a vida para que o Brasil fosse diferente, fosse mais justo”, explica.
A diretora do festival torce para que Ainda Estou Aqui contribua para tornar mais populares outras produções brasileiras. “Poucos filmes têm condições de chegar onde esse filme chegou. Espero que abra caminho para outros longas, porque o Brasil tem muitos filmes de qualidade”, acrescenta Lea.
Já Roni Nunes, jornalista de cultura e cinema e diretor do site Cultura 21, não acredita que sucesso do filme de Walter Salles abra caminho para outras produções brasileiras. “Acho que Ainda Estou Aqui é um caso à parte em relação a outros filmes brasileiros. Talvez algo semelhante aconteceu com o lançamento de Cidade de Deus, em 2002, em que esteve até o ministro da Cultura português da época”, lembra.
Sobre o fato de as salas estarem com bilhetes esgotados, ele crê que isso se deve ao Globo de Ouro para Fernanda Torres e às notícias da possível indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e de Atriz. “Filmes que têm essa repercussão, normalmente, são os que investem muito mais dinheiro em marketing. O fato de Fernanda Torres ter ganhado o Globo de Ouro ajudou muito. Acredito que a quantidade de brasileiros que estão em Portugal também contribui para isso”, diz Nunes.
A respeito da mensagem política, ele não vê uma identificação por parte dos portugueses. “(O período da ditadura militar no Brasil) Não é muito familiar para quem vive em Portugal. Poucos portugueses conhecem a história recente do Brasil”, assinala.
Fenômeno passageiro
O crítico de cinema português Hugo Gomes, da revista de cinema Metrópolis e do portal de crítica independente Cinematograficamente Falando, diz que será muito difícil uma situação de ingressos esgotados se repetir. “Pode ser um dos epifenômenos do cinema brasileiro em Portugal, como foram Tropa de Elite, Bruna Surfistinha e Cidade de Deus”, afirma.
Gomes prevê que a maior parte do público será de brasileiros. “Vai ter bastante afluência brasileira, com o tamanho da comunidade que veio do Brasil para Portugal. O filme trata de um tema que está na memória coletiva, que tem ecos nas questões atuais do Brasil, com o surgimento de grupos que apelam ao saudosismo da ditadura militar”, avalia.
Para os portugueses, o que chamará para os cinemas deverá ser a atriz principal do filme. “A grande figura do filme, Fernanda Torres tem muito carinho por parte da comunidade portuguesa”, observa o crítico.
Ele lembra que, após mais de 40 anos de novelas e mini-séries brasileiras, os portugueses têm familiaridade com a forma de contar histórias que é vista no Brasil. “Outro fator é que o público português está habituado com a linguagem da Globo. Há uma espécie de familiaridade com esse tipo de produção”, complementa.