Socialistas franceses ameaçam apoiar nova moção de censura ao Governo Bayrou

Críticas surgem depois de discursos de apresentação do programa do novo governo francês perante as duas câmaras do Parlamento.

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O líder do PS, Olivier Faure, ameaçou votar a favor de uma nova moção de censura Gonzalo Fuentes / REUTERS
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O Partido Socialista francês, que até agora tinha mostrado abertura a negociar com o novo Governo de François Bayrou, ameaçou votar a favor da moção de censura apresentada pela França Insubmissa e apoiada pelos restantes partidos de esquerda,

No seu discurso na Assembleia Nacional, na terça-feira, Bayrou, apresentou o programa do novo Governo, tocando, entre vários pontos, na questão da controversa reforma das pensões de 2023 e a que se opõem os partidos da esquerda e a União Nacional, de extrema-direita.

No entanto, Bayrou assumiu apenas que iria reabrir um processo de consultas aos parceiros sociais para chegarem a um acordo com o Governo, que alteraria a legislação apresentada e aprovada pelas forças próximas do Presidente Emmanuel Macron. No entanto, para os socialistas, isto não é suficiente para acudir a uma das suas principais exigências.

“Votaremos a favor da moção de censura, a não ser que recebamos uma clara resposta às nossas exigências”, disse o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, numa entrevista dada ao canal de televisão francês TF1.

Esta quarta-feira, Bayrou voltou a discursar, desta vez no Senado, a câmara alta do Parlamento francês. Na declaração, o primeiro-ministro assumiu uma concessão face ao que disse no dia anterior, ao assumir a possibilidade de uma alteração à lei mesmo que um acordo com os parceiros sociais não seja atingido, um requisito que antes parecia estanque.

No entanto, perante o primeiro-ministro numa sessão de questões na Assembleia Nacional, Faure voltou a criticar Bayrou. “Senhor primeiro-ministro, nesta fase ainda não chegámos lá”, disse o líder dos socialistas.

A moção de censura, a terceira desde Outubro do ano passado, será apresentada pela França Insubmissa, partido de esquerda liderado por Jean-Luc Mélenchon, que tem sido deixado de fora de todas as negociações, quer com o Presidente Emmanuel Macron quer com Bayrou.

O PS tem sido o partido à esquerda que mais se tem aproximado do Governo formado pelos partidos da coligação pró-Macron e pelo partido de direita Os Republicanos. Até ao último momento, Faure tentou chegar a um acordo, tendo declarado que um entendimento com o executivo estaria próximo.

As declarações de Faure vieram cortar a aparente indecisão dos socialistas, criticada por Mélenchon, sobre se apoiariam ou não a moção de censura dos “insubmissos” .

“Então o grupo do PS é o único da Nova Frente Popular (frente das esquerdas conhecida pela sigla NFP) que se recusa a votar a favor da censura? Faure deve sair deste isolamento que está a dividir a NFP!”, escreveu o ex-líder da França Insubmissa na rede social X.

A votação da moção de censura deverá ocorrer esta quinta-feira, depois de uma discussão da proposta na Assembleia Nacional. A União Nacional, que seria essencial para que a moção fosse aprovada, não deixou claro o seu sentido de voto, embora já tenham assumido que não derrubaria o executivo de Bayrou “à priori”, ou seja, antes do governo enfrentar o principal desafio que tem pela frente: a aprovação de um orçamento para 2025.

Actualmente, o Estado francês funciona com uma extensão do orçamento de 2024, após a aprovação de uma lei especial no final do ano passado. Sobre a data para a apresentação do orçamento para este ano, Bayrou apontou para que a normalidade orçamental seja atingida no início de Março.

“O nosso objectivo é que os dois textos tenham sido adoptados por volta de 22 ou 24 de Fevereiro e que, uma vez examinados os eventuais recursos pelo Conselho Constitucional, sejam aplicáveis a 1 de Março, a fim de permitir que a nação retome o seu curso normal”, definiu o Governo, ao Le Monde. Resta entender se este executivo sobrevive aos testes antes e durante o orçamento do Estado, superando assim o antecessor, liderado por Michel Barnier.

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