Extrema-direita alemã investigada por distribuir “bilhetes de deportação” a migrantes

Acção de campanha de influência nazi foi denunciada às autoridades por comunidades imigrantes da cidade de Karlsruhe.

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A líder da extrema-direita alemã, Alice Weidel, no congresso da AfD, a 11 de Janeiro Matthias Rietschel / REUTERS
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A polícia alemã abriu uma investigação por "incitamento ao ódio racial" depois de o partido populista de extrema-direita AfD ter distribuído folhetos que imitam bilhetes de avião para deportação de cidadãos estrangeiros, endereçados a imigrantes em suposta situação irregular.

A campanha foi denunciada por comunidades imigrantes da cidade alemã de Karlsruhe, no estado de Baden-Württemberg, que receberam nas suas caixas de correio os "bilhetes de deportação", em que o passageiro de um voo com destino a um "país de origem seguro" é identificado como um "imigrante ilegal". Em letras mais pequenas é possível ler: "Apenas a remigração pode salvar a Alemanha."

Num comunicado divulgado esta terça-feira e citado pela imprensa alemã, a polícia criminal de Karlsruhe informou ter iniciado uma investigação "por suspeita de incitamento ao ódio racial".

Ainda que não sejam identificados suspeitos, um porta-voz da polícia adiantou que a queixa apresentada às autoridades referia publicações nas redes sociais sobre a campanha de propaganda da AfD. Os próprios folhetos têm também um código QR para o site do partido, que no congresso do passado fim-de-semana continuou o seu caminho de radicalização com apelos a deportações em massa.

Segundo o deputado da Alternativa para a Alemanha (AfD) Marc Bernhard, de Karlsruhe, o partido imprimiu entre 20 mil a 30 mil folhetos para distribuição, em campanha para as eleições legislativas de Fevereiro. Contudo, insiste que a acção de propaganda se destinava à população em geral e que não foi propositadamente direccionada a imigrantes, de acordo com a emissora SWR. A investigação ao caso passará também por apurar se a campanha tinha alvos definidos.

Para quem já vivia com receio do crescimento da direita radical e extrema-direita na Alemanha, "encontrar estas cartas no correio só reforça sentimentos de insegurança e ansiedade", defendeu o autarca de Karlsruhe, Frank Mentrup, do Partido Social-Democrata (SPD), sublinhando que o medo não pode ser um instrumento de campanha.

Mas a distribuição de imitações de bilhetes só de ida a imigrantes não é uma estratégia nova na Alemanha. Também o partido neonazi NPD (agora chamado Die Heimat, "A Pátria" em português) lançou em 2013 uma campanha racista semelhante, sendo um dos seus objectivos impedir a candidatura de imigrantes ou descendentes de imigrantes ao Parlamento alemão. Marc Bernhard também rejeita a comparação, alegando que o partido "desconhecia totalmente" a acção do NPD.

Ambos têm clara influência do regime nazi de Adolf Hitler, durante o qual foram distribuídas imitações de bilhetes de avião gratuitos e só de ida para Jerusalém, num apelo à fuga dos judeus da Alemanha.

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