Alemanha não sai da crise: 2024 foi outra vez de contracção da economia

Maior economia da zona euro terminou o ano passado com mais um trimestre de variação negativa do PIB. E no total de 2024, a contracção foi de 0,2%.

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Fábrica da Volkswagen em Wolfsburg, na Alemanha UWE MEINHOLD / LUSA
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A economia alemã acabou o ano passado em queda, confirmando que pela primeira vez nas últimas duas décadas registou dois anos consecutivos de contracção do produto interno bruto (PIB) e dando novos motivos para pessimismo relativamente ao que irá acontecer em 2025.

Os dados são ainda provisórios e podem vir a ser sujeitos a revisão, mas os números avançados nesta quarta-feira pelo instituto de estatísticas da Alemanha (Destatis) confirmam os receios que se têm vindo a acumular relativamente ao desempenho da maior economia da zona euro. O PIB no quarto trimestre do ano passado deverá ter registado uma diminuição de 0,1% face ao trimestre imediatamente anterior, colocando a taxa de crescimento económico no total de 2024 também num valor negativo, com uma contracção de 0,2%.

Para já, não se pode dizer que a Alemanha está em recessão técnica, já que isso apenas acontece quando há dois trimestres seguidos de variação em cadeia do PIB e no terceiro trimestre a variação do PIB ainda foi positiva: 0,1% (valor que também pode vir a ser revisto). Mas de outro sinal claro de problemas, a economia alemã já não se escapa. Com a contracção de 0,2% agora revelada para o total de 2024, que se junta à quebra de 0,3% verificada em 2023, o produto interno bruto alemão registou o segundo ano seguido de variação negativa, algo que já não acontecia desde 2003.

Torna-se assim cada vez mais evidente que aquilo que está a acontecer à Alemanha e à sua economia é mais do que uma dificuldade simplesmente conjuntural. Como afirmou na apresentação dos dados o presidente do Destatis, “obstáculos cíclicos e estruturais colocaram-se no caminho de um melhor desempenho económico em 2024”, destacando-se entre esses obstáculos os custos de energia mais elevados, o aumento da competição vinda do estrangeiro, as taxas de juro ainda elevadas e o clima de incerteza na economia mundial.

Por tudo isto, a economia alemã, desde há várias décadas muito baseada na força das exportações da sua indústria, deixou de poder contar com esse motor de crescimento. Em 2024, revelou o Destatis, as exportações caíram 0,8% face ao ano anterior, anulando o efeito positivo do crescimento de 0,3% que se registou no consumo das famílias.

A confirmação destas enormes dificuldades estruturais ensombram as expectativas para 2025, até porque, este ano, novas ameaças estão no horizonte, especialmente a possível imposição pelos EUA de taxas alfandegárias mais elevadas em alguns dos produtos importados da Alemanha, como os automóveis.

Para já, o Governo alemão ainda tem como previsão para este ano um crescimento de 1,1%, mas o ministro da Economia, Robert Habeck, reconhece que esse resultado apenas poderá acontecer se as reformas planeadas forem efectivamente postas em prática.

O problema é que, com eleições marcadas para Fevereiro, não é ainda claro nem que condições políticas haverá para pôr em prática um plano de reformas que minimize as dificuldades estruturais e relance a economia, nem que espaço de manobra orçamental estará disponível para estimular a actividade no curto prazo.

Miranda Sarmento optimista

Os problemas na maior economia da zona euro têm um impacto negativo em todos os seus vizinhos do continente. Mas, em Portugal, o ministro das Finanças mostrou-se nesta quarta-feira optimista em relação ao desempenho da economia.

Na audição da Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República em que esteve presente, Joaquim Miranda Sarmento reconheceu o “cenário de grande incerteza” que se vive na economia mundial, mas destacou o facto de, em Portugal, serem conhecidos “já alguns indicadores no quarto trimestre que apontam para uma aceleração da actividade”.

O ministro das Finanças assinalou, em particular, a informação proveniente de indicadores avançados de actividade e de consumo, que mostram “uma boa aceleração económica”.

Miranda Sarmento diz que estes sinais dados no final de 2024 dão “maior robustez à previsão de crescimento económico para 2025”, que é, no caso do Governo, de uma variação do PIB de 2,1%. O ministro reafirmou também que a meta do Governo é, no saldo das finanças públicas, a de obtenção de excedentes de 0,4% do PIB em 2024 e de 0,3% em 2025.

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