Missões japonesa e norte-americana descolam juntas a caminho da Lua

Os módulos lunares das empresas Ispace (do Japão) e Firefly (dos EUA) viajaram até ao espaço esta quarta-feira. O destino está traçado: ir à Lua e recolher amostras durante duas semanas.

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As duas missões para a Lua descolaram esta madrugada dos Estados Unidos CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH/EPA
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Há mais dois veículos lunares, um da empresa japonesa Ispace e outro da empresa norte-americana Firefly, descolaram esta quarta-feira da Florida (Estados Unidos) no foguetão Falcon 9 da SpaceX, num invulgar lançamento duplo de objectos para a Lua, sublinhando a pressa global em explorar a superfície lunar.

A empresa japonesa Ispace lançou a sua missão Hakuto-R 2, cumprindo a sua segunda tentativa de aterrar na lua depois de uma primeira missão em Abril de 2023 ter falhado nos momentos finais devido a um erro de cálculo da altitude. A norte-americana Firefly Aerospace lançou o seu primeiro módulo lunar, o Blue Ghost, tornando-se assim a terceira empresa a lançar um módulo lunar ao abrigo do programa de investimento público-privado da NASA. “O lançamento ‘à boleia’ com a Firefly é um símbolo das crescentes missões comerciais” à Lua, disse o director-executivo da Ispace, Takeshi Hakamad, num evento público em Tóquio.

A aterragem na Lua da empresa Intuitive Machines, no ano passado, apesar de ter sido um pouco desequilibrada e parcialmente mal sucedida, marcou a primeira empresa privada e a primeira missão do programa público-privado da NASA a aterrar na Lua. Uma tentativa anterior do módulo de aterragem da empresa Astrobotic falhou pouco depois do lançamento.

O duplo envio das missões para a Lua foi assegurado pela SpaceX de Elon Musk CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH / EPA
A missão da norte-americana Firefly tentará alunar daqui a 45 dias Steve Nesius/reuters
A nova tentativa da japonesa Ispace de chegar à Lua acontecerá entre Maio e Junho deste ano Steve Nesius/reuters
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O duplo envio das missões para a Lua foi assegurado pela SpaceX de Elon Musk CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH / EPA

Nos últimos anos, os países e as empresas privadas de todo o mundo têm-se concentrado na Lua devido ao seu potencial para acolher bases espaciais de astronautas e também pelos recursos que podem ser explorados para aplicações no espaço, tornando o satélite natural da Terra um palco de prestígio nacional e de competição geopolítica semelhante à corrida espacial da era da Guerra Fria.

À procura da Lua

O módulo de aterragem da ispace, denominado Resilience, transporta um total de 16 milhões de dólares (15,5 milhões de euros) em missões de clientes e seis cargas úteis, incluindo um micro-robô criado pela própria empresa, que será lançado a partir do módulo de aterragem e recolherá amostras lunares, explicou em entrevista o director comercial da Ispace, Jumpei Nozaki.

A aterragem do Resilience na superfície da Lua está prevista para quatro a cinco meses após o lançamento, ou seja, entre Maio e Junho deste ano. A sonda seguirá uma trajectória eficiente do ponto de vista energético, alicerçando-se na gravidade da Terra e da Lua, numa série de passagens sinuosas para orientar a sua trajectória, à semelhança do que fez a sonda SLIM da agência espacial japonesa (JAXA), que conseguiu a primeira aterragem lunar do país no ano passado.

O Blue Ghost da Firefly quer chegar à Lua 45 dias após o lançamento, por volta de 2 de Março. Este módulo de aterragem transporta dez cargas úteis de clientes financiados pela NASA e uma da empresa Honeybee Robotics, propriedade da Blue Origin (de Jeff Bezos).

As missões de ambos os módulos lunares durarão um dia lunar completo, ou seja, cerca de duas semanas terrestres. Depois disso, não sobreviverão ao frio da noite lunar, onde as temperaturas podem atingir cerca de 128 graus Celsius negativos.

A NASA, com o seu programa Ártemis, pretende concretizar o regresso de seres humanos à Lua até 2027 (embora, seja provável que atrase) pela primeira vez desde 1972, enquanto a China planeia colocar as suas próprias tripulações na superfície lunar até 2030, após uma série de missões robóticas.

As missões através do programa público-privado (intitulado CLPS, a sigla em inglês para Serviços Comerciais de Cargas Lunares) da NASA, como a Blue Ghost da Firefly, de propriedade privada mas substancialmente financiada pela agência espacial norte-americana, destinam-se a estudar a superfície da Lua e a incentivar a exploração privada antes de a NASA enviar seres humanos, através do foguetão Starship da SpaceX (de Elon Musk) e, mais tarde, do módulo de aterragem Blue Moon da Blue Origin.

Ainda assim, com a próxima Administração de Donald Trump, a agência espacial norte-americana enfrenta potenciais alterações ao programa Ártemis, dado que o Presidente já eleito está ao lado da visão de Elon Musk de direccionar o foco para Marte.

“Investimos na ida à Lua e penso que todos querem que voltemos à Lua”, afirmou, no entanto, Nicky Fox, responsável pelas missões científicas da NASA à agência de notícias Reuters, quando questionado sobre possíveis alterações ao programa lunar. “O que é fantástico na ciência da NASA é que fazemos ciência espantosa onde quer que vamos.”