A guerra é o maior risco global para 2025

As consequências das alteraçoes climáticas e da perda de biodiversidade são os principais factores de risco para a década, segundo o relatório do Fórum Económico Mundial.

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A guerra é o maior risco global para 2025. Na imagem, tropas ucranianas disparam uma howitzer na frente de Zaporijjia OLEG MOVCHANIUK/EPA
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O regresso da guerra é a perspectiva mais assustadora a nível mundial: a possibilidade de conflitos armados entre Estados é citada por 23% dos inquiridos no Relatório de Riscos Globais do Fórum Económico Mundial de 2025, que é lançado esta quarta-feira, a poucos dia do início do encontro anual da organização em Davos. Está no topo da lista, mas nem no ano passado nem há dois anos constava sequer deste rol.

A invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra no Médio Oriente, através da qual Israel transformou a vingança pelo ataque do Hamas no seu território numa tentativa de eliminação dos seus inimigos (na Palestina, nomeadamente na Faixa de Gaza, e no Líbano) fez aumentar o pessimismo e a preocupação com tensões geopolíticas, que se reflectem neste relatório.

O relatório resulta de um inquérito feito a cerca de 900 especialistas de todo o mundo, lançado anualmente pelo Fórum Económico Mundial.

Desinformação e instabilidade

Além de uma análise para 2025, o relatório perspectiva ainda uma hierarquia dos riscos a curto prazo (dois anos) e a longo prazo (dez anos). E a dois anos, o risco de conflitos armados entre Estados subiu da quinta para a terceira posição, em relação ao relatório do ano passado, além de estar no topo dos riscos deste ano. Um total de 88% dos inquiridos prevê um mundo instável, turbulento ou até “tempestuoso” em 2027.

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A desigualdade, o declínio no acesso à saúde e no bem-estar, e a polarização social estão no centro do mapa de interligações dos riscos globais. O fenómeno da desinformação e a recessão económica são outros nós importantes deste mapa de interconexões. Um dos factores relaciona-se com a tecnologia, e outro com a economia, duas das grandes áreas que ajudam a construir a teia de perturbações que afectam a estabilidade mundial e criam conflitos, juntamente com os factores sociais, geopolíticos e ambientais.

A desinformação é vista mesmo como principal risco a curto prazo (dois anos), confirmando a tendência já do ano anterior. Pode gerar dúvida sobre comunidades ou sobre políticos e países, sobre o que se passa numa zona de conflito, criar conflitos, afectar o comportamento dos eleitores...

Já existem exemplos abundantes dos seus efeitos, e de como alguns indivíduos e organizações são exímios na sua utilização – por exemplo, as eleições presidenciais romenas, anuladas pelo Tribunal Constitucional de Bucareste, por alegada manipulação usando o Tik Tok.

No longo prazo: alterações climáticas

A longo prazo, dentro de uma década, no entanto, os maiores riscos são ambientais e relacionados com as alterações climáticas - acompanhando a preocupação com o facto de, em 2024, pela primeira vez, a temperatura média global ter ultrapassado a fasquia de aumento de 1,5 graus, estabelecida pelo Acordo de Paris. Por ordem, os mais citados são os fenómenos meteorológicos extremos, a perda de biodiversidade, a mudança de sistemas terrestres críticos (como a circulação oceânica, ou o derretimento dos gelos, por exemplo) e a perda de recursos naturais.

Curiosamente, no mapa que traça as ligações entre os riscos que ameaçam a vida no planeta, as questões ambientais formam um nicho com poucos nexos fortes com outros factores, sejam eles económicos, sociais ou tecnológicos, ou geopolíticos.

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Mas já desde 2020 que as questões ambientais, como os fenómenos meteorológicos extremos, o falhanço nas acções de mitigação e adaptação às alterações climáticas, os desastres naturais, a perda de biodiversidade e os desastres ambientais causados pelos humanos estão no topo da tabela dos riscos a dez anos.

Entre actualidade e a próxima década

Os mais jovens são os mais preocupados com os riscos ambientais a longo prazo. A poluição, por exemplo, é o terceiro risco mais grave para os menores de 30 anos em 2035, diz o relatório. E enquanto o sector público considera este um risco digno de figurar entre os dez mais preocupados, o sector privado não lhe atribui essa prioridade, diz o documento.

Quando se faz uma previsão para a década, a desinformação desce para o quinto lugar na hierarquização dos riscos. Os conflitos armados entre Estados desaparecem também – aliás, mesmo na perspectiva a dois anos, os riscos geopolíticos desaparecem. São preocupações claramente influenciadas pela actualidade.

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Muito se tem falado dos riscos da tecnologia da inteligência artificial (IA). Na verdade, é um dos riscos que mais subiu na escala a dez anos – censura e vigilância, desinformação, ciberespionagem e conflito são alguns dos problemas relacionados. Mas vem em sexto lugar na tabela de riscos perspectivados a dez anos.

Previsões para a próxima década

Quais serão as características políticas globais da próxima década? Vamos enfrentar uma ordem multipolar fragmentada, dizem 64% dos especialistas consultados para a produção deste relatório pelo Fórum Económico Mundial. Isto quer dizer que grandes e médias potências vão competir e tentar impor regras no seu espaço regional.

A predominância do Ocidente deverá continuar em declínio, embora continue a ser um foco de poder fundamental, e centros alternativos de poder continuarão a cimentar-se, não apenas na China, mas também a Índia e Estados emergentes do Golfo Pérsico. Mas nada disto são tendências novas.

Os riscos globais é que prometem tornar-se cada vez mais complexos, quando vivemos num dos períodos mais turbulentos desde o fim da Guerra-Fria.