De Elon Musk já todos sabemos o que esperar. De Mark Zuckerberg tivemos esta semana mais um episódio deprimente: a Meta vai acabar com o programa de verificação de factos no Facebook, aumentar a exposição que O Algoritmo dá a conteúdo político (leia-se: manipular as massas, mostrando às pessoas "certas" o conteúdo "certo").
Que os bilionários não têm qualquer interesse em preservar a democracia — na Europa, nos EUA ou em qualquer parte do Mundo — não deveria surpreender ninguém. O que é surpreendente é o quão reféns nos sentimos, colectiva e individualmente, dos desejos de uma mão-cheia de oligarcas.
Em nome do conforto ou, pior ainda, do vício, somos incapazes de abandonar as jaulas onde a Meta, o X e até o TikTok têm presas as nossas mentes. Das pessoas individuais não se exige muito: é verdade que sair de uma rede social é um processo difícil, principalmente quando já havia sido criada uma rede de amigos/as e familiares. É fácil uma pessoa sentir-se excluída e, até mesmo, que as suas relações sejam postas em risco. Mas é precisamente aí que está o problema: estas plataformas estão a tomar (e, por vezes, já tomaram) controlo das nossas relações.
Deveríamos esperar mais, no entanto, das instituições, nomeadamente das instituições europeias. É risível que tenhamos pessoas como Emmanuel Macron a identificar (e bem) que Musk lidera a construção de uma Internacional Reaccionária, enquanto António Costa, presidente do Conselho Europeu, faz anúncios na plataforma do mesmo oligarca.
Se nem nas instituições parece haver coerência, será muito difícil accionar uma reposta coerente ao problema, que chegue até às pessoas. É evidente que esta cobardia das instituições advém, em parte, do medo de tomar a iniciativa de abandonar estas plataformas, correndo o risco de chegar a menos pessoas no imediato, mas também do risco diplomático de agitar águas com os seus donos: os Estados americano e chinês e os oligarcas desses mesmos países.
No entanto, nem tudo é mau. A Comissão Europeia criou, há uns anos, uma conta numa rede social alternativa, o fediverso. Passemos, então, à solução anunciada no título.
O que é o fediverso? O fediverso é, essencialmente, um protocolo, ou seja, uma linguagem comum, decidida colectivamente. Esta linguagem pode ser adoptada por qualquer aplicação (desenvolvida por pessoas voluntárias, empresas pequenas ou até gigantes, como é o caso da Threads, da Meta). Esta linguagem partilhada permite que todas estas pequenas (ou grandes) plataformas e websites comuniquem entre si.
Assim, eu, tendo uma conta numa plataforma, posso seguir a minha amiga Joana que tem uma conta numa plataforma completamente diferente, desde que essas duas plataformas pertençam ao fediverso (ou seja, sigam o protocolo, que se chama ActivityPub).
Esta estrutura — federação — abre portas que estão fechadas actualmente, nas plataformas centralizadas como o Facebook, o Instagram ou o X. Primeiro, é possível que duas pessoas interajam uma com a outra (vejam os posts uma da outra, comentem ou respondam, etc.) tendo contas em plataformas que nem são iguais entre si. Eu posso ter uma conta numa plataforma de microblogues, estilo Twitter, e comentar uma foto que o meu pai meteu numa plataforma de partilha de fotos, estilo Instagram; isto tudo de forma transparente para os dois!
Segundo, e mais importante ainda, liberta-nos das garras dos megalómanos, porque qualquer conta pode ser transferida para outra plataforma, sem perda de informação, posts ou seguidores. A título de exemplo, imaginem ter uma conta no X e poderem, em dois minutos, transferir a vossa conta para o X da vossa universidade (por exemplo x.fct.unl.pt).
Musk, dono da plataforma original já não teria qualquer tipo de controlo sobre os vossos dados (a não ser, claro, os antigos). É importante dizer que nem é necessário, neste caso hipotético, que as pessoas saiam do X; a mera possibilidade de que o façam assim tão facilmente exerce uma pressão enorme sobre os donos da plataforma. Por outras palavras, deixamos de ser reféns das loucuras de qualquer oligarca.
Em terceiro lugar, mas não menos importante, é a capacidade de qualquer pessoa, empresa ou instituição pública poder hospedar a sua própria plataforma. Eu faço-o, assim como o faz a Comissão Europeia, por exemplo.
Há muito para falar sobre o fediverso, mas o importante é que nos livremos do Síndrome de Estocolmo no qual as gigantes digitais nos enfiaram.