Negociações para cessar-fogo em Gaza entram na “fase final”

Esboço do acordo prevê libertação faseada de 33 reféns do Hamas e retirada parcial de Israel de algumas zonas do enclave palestiniano. Ministro israelita ameaça demissão.

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Mensagem de apoio aos reféns e de pedidos pela sua libertação, em Telavive Kai Pfaffenbach / REUTERS
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Não é a primeira vez que as negociações entre o Governo de Israel e o movimento islamista palestiniano Hamas, mediadas pelo Qatar, se aproximam de um compromisso para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Todas as tentativas, menos uma (a única, em Novembro de 2023), acabaram por falhar. Desta vez, porém, qataris, israelitas, norte-americanos, europeus, egípcios e até membros do Hamas acreditam que o anúncio de um acordo está “para breve” e envolve a libertação de 33 reféns. Pode estar por “horas ou dias”, assumem as partes envolvidas.

Na sequência de mais uma ronda de conversações em Doha nesta terça-feira, Majed al-Ansari, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, reafirmou que este é o “ponto mais próximo” dos últimos meses “de um acordo”, mas não entrou em mais pormenores.

Também nesta terça-feira, Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, disse que acredita que haverá cessar-fogo antes de Joe Biden ser substituído por Donald Trump (segunda-feira) na presidência dos Estados Unidos – elementos da actual e da futura Administração estão envolvidos nas negociações do acordo. Mas acrescentou que a “a bola está do lado” do Hamas.

Com a imprensa israelita e internacional a citarem pessoas envolvidas ou com conhecimento sobre o processo negocial a darem conta de que o esboço do acordo já teria sido validado quer por Israel, quer pelo Hamas, o grupo islamista limitou-se a dizer, num comunicado, que as negociações para uma pausa nas hostilidades no enclave palestiniano chegaram à sua “fase final”.

Do lado israelita, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, convocou familiares dos reféns para uma reunião, o que indica que o anúncio do acordo estará próximo. Mas a oposição de Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, de extrema-direita, ao acordo, rotulando-o de “rendição ao Hamas” e ameaçando demitir-se, mostra que será difícil aprovar o que quer que seja no Conselho de Ministros.

Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, também de extrema-direita, critica e opõe-se ao acordo em cima da mesa, mas não ameaça a demissão, apesar da insistência de Ben-Gvir para que se junte a ele a pressionar Netanyahu a recuar. O ministro da Segurança Nacional garante, ainda assim, que o seu partido não fará cair a coligação que suporta o actual executivo.

Reféns, retirada e futuro

O jornal israelita Haaretz diz que o acordo que está a ser finalizado não é muito diferente de uma outra versão, com mais de oito meses, sugerida pelo Presidente dos EUA, Joe Biden.

De acordo com o esboço do documento, visto pela Associated Press e pela Reuters, e cuja autenticidade foi confirmada pelo Hamas e pelo Egipto, que também está envolvido na mediação, está previsto um cessar-fogo de 42 dias e a libertação faseada de 33 reféns do Hamas, nomeadamente de crianças, mulheres, feridos, doentes e homens com mais de 50 anos de idade.

Israel não sabe, no entanto, se os reféns em causa estão vivos ou mortos, uma vez que o movimento islamista não deu essas informações.

Os primeiros três reféns serão libertados no primeiro dia de implementação do acordo. Uma semana depois, serão libertados mais quatro reféns e será permitido o regresso de muitos dos deslocados que se encontram no Sul do enclave ao Norte da Faixa de Gaza.

Em troca, Israel compromete-se a libertar cerca de mil prisioneiros das suas prisões em território israelita e na Cisjordânia ocupada. Este grupo não inclui condenados por terrorismo ou pelos ataques do dia 7 de Outubro do Hamas contra Israel.

Segundo a Reuters, se tudo correr como planeado, no 16.º dia após a entrada em vigor do acordo, serão iniciadas negociações para uma segunda etapa, com o objectivo de garantir o regresso dos restantes reféns vivos e a devolução dos corpos dos reféns mortos.

O acordo também pressupõe a retirada faseada das Forças de Defesa de Israel de algumas zonas da Faixa de Gaza, nomeadamente do “corredor de Filadélfia” (junto à fronteira com o Egipto, a sul) e do “corredor de Netzarim”, na região centro do enclave. Para além disso, a passagem de Rafah, também a Sul, abrirá gradualmente, permitindo a passagem de doentes e de feridos e o aumento da entrada de ajuda humanitária no território.

Fora das negociações ficou a administração da Faixa de Gaza quando o conflito acabar. Israel recusa acabar com a guerra enquanto o Hamas não for liquidado e totalmente afastado do poder no enclave.

A confirmar-se este acordo, será apenas o segundo desde o início da guerra em Gaza, iniciada após o ataque do Hamas a Israel a 7 de Outubro de 2023 – morreram 1200 pessoas e foram sequestradas 240. No âmbito desse primeiro e único acordo foram libertados 50 reféns e houve uma pausa nos combates entre 24 e 30 de Novembro.

Segundo as autoridades palestinianas, mais de 46 mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza desde o início do conflito.

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