Apresentação do programa do Governo de Bayrou antevê nova moção de censura em França
Novo primeiro-ministro francês apresentou planos, abrindo a porta a uma mudança na reforma das pensões. Moção de censura foi apresentada pela França Insubmissa e apoiada pelos ecologistas.
O novo primeiro-ministro francês, François Bayrou, anunciou esta terça-feira que vai reabrir negociações com os parceiros sociais sobre a controversa reforma das pensões. O discurso foi alvo de críticas, levando a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, a apresentar uma nova moção de censura, que será discutida e votada na quinta-feira, sem ser ainda claro que partidos a vão apoiar.
A apresentação do programa do Governo de Bayrou na Assembleia Nacional foi a primeira oportunidade para se perceber quanto tempo poderá durar o novo executivo, num panorama parlamentar de divisão dos deputados em três grandes campos. O seu antecessor, Michel Barnier, durou apenas três meses.
Num longo discurso, o primeiro-ministro discutiu vários assuntos, desde o Orçamento do Estado para 2025, a uma introdução de um sistema eleitoral proporcional. No entanto, o tema mais discutido da intervenção de Bayrou foi a controversa reforma das pensões, que conta com a oposição da plataforma de esquerdas e da direita radical.
Segundo o primeiro-ministro, a reforma das pensões será alvo de um novo processo de consultas com um “conclave” que reúne os parceiros sociais, estabelecendo “um curto período de tempo” (três meses) e “condições transparentes” para o fazer. No entanto, qualquer mudança à lei fica dependente de um acordo.
“Se, durante este 'conclave', a delegação chegar a um acordo equilibrado e mais justo, adoptá-lo-emos”, afirmou Bayrou, sublinhando que “se os parceiros não chegarem a acordo, a actual reforma [de 2023] continuará a ser aplicada”. “Espero que este acordo seja alcançado”, disse, no entanto, sem falar, porém, numa suspensão da reforma.
Quer a Nova Frente Popular, quer a União Nacional, declararam a sua oposição ao programa do novo Governo durante o discurso e imediatamente depois.
Para a França Insubmissa, partido de esquerda radical fundado por Jean-Luc Mélenchon, a apresentação de uma moção de censura era já um dado adquirido. “Aqueles que não votarem a favor desta moção de censura serão cúmplices da devastação das políticas de Macron”, escreveu o partido na rede social X, anunciando uma moção de censura, que os aliados da Nova Frente Popular, nomeadamente os Ecologistas e o Partido Comunista Francês, já disseram que vão apoiar.
As reformas foram um dos principais pontos-chave nas recentes negociações do novo Governo com os partidos, de modo a garantir que este executivo dura mais que os seus antecessores.
Esta semana, Bayrou esteve reunido com o Partido Socialista (PS), liderado por Olivier Faure, para tentar convencer os socialistas, que têm estado num caminho de separação com a união das esquerdas, a não apoiarem uma censura vinda dos “insubmissos”.
Os socialistas ainda não deixaram claro se apoiam a moção, mas demonstraram o seu descontentamento com as medidas apresentadas pelo primeiro-ministro.
"Este Governo não é o nosso: a vossa política não é certamente a nossa. Haverá sempre algo entre nós na forma como vemos o mundo”, afirmou o líder do grupo parlamentar do PS na Assembleia Nacional, Boris Vaillaud.
Já a União Nacional, partido de Marine Le Pen, ficou-se pelas críticas ao discurso de Bayrou, tendo o deputado Sebastien Chenu afirmado que não aprovariam uma moção de censura nesta altura.
“No final de um discurso apaziguador, François Bayrou demonstrou que não é o homem da ruptura com o passado, mas sim o homem da continuidade, da tagarelice e das consultas 'sem fim'”, disse o presidente do Partido, Jordan Bardella, no X.