PCP acusa Montenegro de partilhar agenda do Chega e de “tentar desviar atenções”
Paulo Raimundo rejeita que a AD esteja a adoptar a agenda do Chega sobre segurança e imigração: “O nosso maior problema é que esta agenda é a do PSD e do CDS”, diz.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, acusou esta segunda-feira o Governo da AD de partilhar a agenda do Chega, considerando que o primeiro-ministro "alimentou a percepção de insegurança" e, agora, está a "tentar desviar as atenções" e "gerir os danos".
Em declarações aos jornalistas na sede nacional do PCP, em Lisboa, após um encontro com o Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), Paulo Raimundo foi questionado sobre as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, de que os "extremos saíram à rua" no sábado, referindo-se à manifestação e à vigília realizadas nesse dia em Lisboa, uma contra o racismo e a xenofobia e outra convocada pelo Chega de apoio à PSP.
"O senhor primeiro-ministro está a fazer o papel dele. Já disse uma vez e volto a dizer: não acompanho a teoria daqueles que afirmam que o PSD se está a deixar arrastar pela agenda do Chega. Acho que o nosso maior problema é que esta agenda é a do PSD e do CDS", respondeu o secretário-geral do PCP.
Para Paulo Raimundo, ao fazer aquelas afirmações, Luís Montenegro está "a tentar desviar as atenções e a tentar sacudir água do capote". "Porque quem deu centralidade a este tema, à chamada insegurança, quem alimentou a percepção de insegurança, também foi o senhor primeiro-ministro. Chamou a si o principal protagonista deste processo e agora está a gerir os danos que está a causar. Vai-lhe rebentar nas mãos", antecipou Paulo Raimundo.
Questionado se a rixa na Rua do Benformoso deste domingo, que fez pelo menos sete feridos, não reforça a ideia de que aquela zona de Lisboa precisa de maior policiamento, Paulo Raimundo respondeu que "qualquer acto de violência é um acto condenável e no qual é necessária intervenção das forças de segurança".
No entanto, o secretário-geral do PCP rejeitou acompanhar a retórica "de que os problemas de segurança só acontecem naquela zona", afirmando que, este domingo, houve certamente muitos mais problemas de segurança em todo o território nacional além do que aconteceu na Rua do Benformoso, mas não foram noticiados pela comunicação social.
"Antes aquele problema que aconteceu ontem [domingo] fosse o único que aconteceu no país inteiro em termos de segurança porque possibilitaria um combate aos problemas de insegurança muito mais concentrado", afirmou, acrescentando que o facto de haver "problemas todos os dias de insegurança não transforma o país num país de profunda insegurança nem de caos".
"Acho que foi isso que se viu na rua no passado sábado: uma grande afirmação, num grande respeito, nomeadamente pelas forças policiais, de que o país não é um caos, não está num caos e de que há forças capazes de combater esse discurso do caos e que procura dividir aqueles que cá vivem e trabalham", disse.
Para o secretário-geral do PCP, o "grande problema de insegurança é a insegurança e a instabilidade na vida das pessoas, da pobreza, das dificuldades de chegar ao final do mês com salário. A insegurança permanente para aqueles que estão doentes e não conseguem aceder a um serviço de saúde. Aí é que está a insegurança que é preciso combater. Se nós combatermos essa, a outra por arrasto vai certamente diminuir", afirmou.
Também a líder do Bloco de Esquerda criticou esta segunda-feira as declarações do primeiro-ministro, acusando-o de ter uma "cadeia de valores distorcida" por estar em "competição com a extrema-direita". À semelhança de Paulo Raimundo, Mariana Mortágua considerou que os "incidentes" de todo o país, como o da Rua do Benformoso, "devem ser investigados, julgados e punidos" pela polícia. E defendeu que o desacato prova que as operações policiais, como a de Dezembro, "não trazem segurança".