Pelo menos 24 mortos nos incêndios em Los Angeles. Vento vai piorar nas próximas horas
Incêndios florestais continuam a devastar Los Angeles. Mais de 100 mil tiveram de ser retiradas. Combate ao fogo vai ser mais difícil nas próximas horas com o regresso do vento forte.
Pelo menos 24 pessoas morreram nos incêndios que fustigam a cidade norte-americana de Los Angeles há quase uma semana. Segundo o governador da Califórnia, Gavin Newsom, esta poderá ser a catástrofe natural mais devastadora da História dos Estados Unidos, destruindo milhares de casas e obrigando à retirada de 100 mil pessoas. Dezasseis dessas mortes aconteceram no incêndio de Palisades e outras oito no incêndio de Eaton, mas o número pode vir a aumentar.
Os bombeiros continuam a esforçar-se por conter as frentes activas de dois incêndios florestais, neste que é o sexto dia consecutivo a tentar controlar estes fogos, aproveitando uma breve pausa nas condições de risco antes de os ventos fortes voltarem a alimentar as chamas. O Centro de Previsão de Tempestades considerou como “extremamente crítica” para incêndios a região entre Ventura Valley e as Montanhas de San Bernardino, no Sul da Califórnia.
Os incêndios reduziram bairros inteiros a ruínas fumegantes, arrasando casas e deixando uma paisagem apocalíptica na cidade. As autoridades disseram que pelo menos 12,3 mil estruturas foram danificadas ou destruídas. “O condado de Los Angeles teve mais uma noite de terror e desgosto inimagináveis”, disse a supervisora do condado de Los Angeles, Lindsey Horvath.
Os bombeiros em meios aéreos, alguns dos quais têm recolhido água do Oceano Pacífico, lançavam água e retardadores de incêndios enquanto as equipas em terra firme, com ferramentas manuais e mangueiras, tentam conter a frente do incêndio de Palisades, que se aproximava da zona de luxo de Brentwood e de outras áreas povoadas de Los Angeles.
Este incêndio, na zona ocidental da cidade, consumiu 96 quilómetros quadrados (o que equivale sensivelmente à área da cidade de Lisboa) e apenas 13% do perímetro do incêndio foi considerado contido.
O incêndio de Eaton, no sopé das montanhas a leste de Los Angeles, queimou mais 57 quilómetros e os bombeiros aumentaram a contenção para 27%, contra 15% no dia anterior. A norte da cidade, o incêndio de Hurst foi contido em 89% e três outros incêndios que tinham devastado partes distintas do condado foram agora contidos em 100%, informou o Departamento de Florestas e Protecção contra Incêndios da Califórnia (CalFire), embora as áreas dentro das linhas de contenção possam ainda estar a arder.
Christian Litz, chefe do corpo de bombeiros do condado de Los Angeles, disse que o incêndio de Palisades "parece estar a evoluir muito bem no que diz respeito à actividade das chamas, mas ainda há calor ao longo do perímetro".
Regresso do vento forte
Este fim-de-semana, as condições meteorológicas foram mais favoráveis ao combate às chamas, uma vez que os ventos de Santa Ana, que atingiram a força de um furacão no início da semana, finalmente abrandaram. Os ventos secos, provenientes dos desertos do interior, tinham atiçado as chamas e soprado as brasas para até três quilómetros para lá das linhas da frente.
Mas, numa área que não recebe qualquer chuva desde Abril do ano passado, o Serviço Nacional de Meteorologia previu que os ventos de Santa Ana, de 80 a 112 km/h, voltariam a soprar no domingo à noite e durariam até quarta-feira. As autoridades avisaram toda a população do Condado de Los Angeles, de quase 10 milhões de habitantes (quase tantos quanto a população de Portugal), que qualquer pessoa poderia receber ordens de evacuação das chamas e do fumo tóxico.
“A vegetação seca, combinada com as condições meteorológicas extremas e prolongadas, favorecerá a rápida propagação e o comportamento errático de quaisquer incêndios novos ou existentes”, afirmou o serviço de meteorologia.
No domingo, mais de 100 mil pessoas no Condado de Los Angeles tinham recebido ordens de evacuação — em comparação com o máximo anterior de mais de 150 mil — enquanto outras 87 mil recebiam avisos de evacuação.
“Estes ventos, combinados com a baixa humidade relativa e a baixa humidade do material combustível, manterão a ameaça de incêndio em todo o condado de Los Angeles muito elevada”, declarou o chefe dos bombeiros do condado de Los Angeles, Anthony Marrone, numa conferência de imprensa, acrescentando que as zonas evacuadas só poderão ser reabertas quando as condições acalmarem na quinta-feira.
Rich Thompson, do Serviço Nacional de Meteorologia, disse que os ventos teriam uma intensidade inferior à registada na semana passada. Ainda assim "ainda estamos sob um padrão de vento de Santa Ana e temos a expectativa de ventos moderados a fortes até quarta-feira com rajadas de 56 a 89 quilómetros por hora", estimou. Essas velocidades aliadas ao tempo seco são "uma receita para produzir algumas condições meteorológicas muito críticas para os incêndios".
Essa preocupação é partilhada com Kristin Crowley, chefe dos bombeiros de Los Angeles, que alertou que os ventos fortes estavam a estabelecer-se "muito, muito rapidamente". "Estejam prontos para uma evacuação", apelou: "Sigam todos os avisos e ordens de evacuação, sem demora, e mantenham-se afastados das estradas e de quaisquer áreas afectadas."
Ainda assim, as escolas, excepto algumas em zonas de evacuação obrigatória, vão reabrir esta segunda-feira, depois de terem fechado para todos os 429 mil alunos do Distrito Escolar Unificado de Los Angeles na quinta e sexta-feira, anunciou o Superintendente Alberto Carvalho.
A empresa privada de previsões meteorológicas AccuWeather estimou os danos e as perdas económicas em Los Angeles em 135 a 150 mil milhões de dólares, o equivalente a 132 a 146 mil milhões de euros. Para ajudar a acelerar o monumental esforço de reconstrução que se avizinha, Newsom assinou uma ordem executiva no domingo a suspender temporariamente os regulamentos ambientais para casas e empresas destruídas.
O pessoal militar no activo está pronto para apoiar o esforço de combate aos incêndios, disse Deanne Criswell, administradora da FEMA, numa série de entrevistas televisivas no domingo, acrescentando que a agência instou os residentes a começarem a candidatar-se a ajuda de emergência. Deanne Criswell também insistiu que "os ventos estão a ficar potencialmente perigosos e fortes novamente".
"Creio que os avisos vermelhos voltaram a ser postos em prática. Isto continua a ser perigoso e as pessoas precisam de ouvir as autoridades locais para se manterem seguras", alertou: "Sei que muitas pessoas querem provavelmente regressar à zona [afectada] e verificar as suas casas, mas com os ventos a aumentar, nunca se sabe para que lado as chamas vão. Por isso, têm de prestar atenção e ouvir o que se está a passar para não se porem em perigo."
Ucrânia oferece ajuda
Volodymyr Zelensky adiantou que a Ucrânia está pronta para ajudar as pessoas afectadas pelos incêndios devastadores na Califórnia. Cento e cinquenta (150) bombeiros estão preparados para se juntar às equipas enviadas pelo Canadá e pelo México. "Hoje dei instruções ao ministro do Interior da Ucrânia e aos nossos diplomatas para que se prepararem para a possível participação dos nossos socorristas no combate aos incêndios florestais na Califórnia”, afirmou Zelensky numa publicação no X.
A mensagem surge depois de Donald Trump Jr., filho do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ter comentado os acontecimentos nas redes sociais. "É claro que os bombeiros de Los Angeles doaram uma série de bens à Ucrânia”, criticou Trump Jr. a 8 de Janeiro. Também o futuro chefe de Estado dos Estados Unidos escreveu nas redes sociais que "os políticos incompetentes não fazem ideia de como" apagar o fogo: "Milhares de casas magníficas desapareceram e muitas mais se perderão em breve. Há mortes por todo o lado. Esta é uma das piores catástrofes da História do nosso país. Eles não conseguem apagar os fogos. O que é que se passa com eles?"
Centenas de pessoas desalojadas pelos incêndios assistiram à missa na Igreja Católica de Santa Mónica no domingo, incluindo paroquianos cujas igrejas foram destruídas.
Kathleen McRoskey, que assistiu regularmente à missa na arruinada igreja de Corpus Christi de Pacific Palisades durante mais de 40 anos, disse estar grata a Santa Mónica por ter aberto as suas portas àqueles que perderam as suas casas e o seu local de culto. “Foi a primeira oferta de apoio que nos curou espiritual, física e emocionalmente”, disse ela.
Em Altadena, no limite do incêndio de Eaton, Tristin Perez disse que nunca deixou a sua casa, desafiando as ordens da polícia para fugir enquanto o fogo descia a encosta. Em vez disso, Perez insistiu em tentar salvar a sua propriedade e as casas dos seus vizinhos. “O seu jardim da frente estava a arder, as palmeiras a arder, parecia algo saído de um filme”, disse Perez à Reuters numa entrevista à porta: “Fiz tudo o que pude para parar a linha de fogo e salvar a minha casa, ajudar a salvar as casas dos outros.”
O seu duplex amarelo de um andar sobreviveu, assim como outras duas casas vizinhas. Do outro lado da rua, casas inteiras arderam até ao chão. “Muitas destas áreas ainda parecem ter sido atingidas por uma bomba. Há fios eléctricos sob tensão, condutas de gás e outros perigos expostos”, disse o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna.
Zuzana Korda foi retirada de casa no bairro de Fernwood em Topanga, a noroeste de Los Angeles. Falando à porta de um gabinete de assistência temporária na Biblioteca Pública de West Hollywood, disse que o seu senhorio lhe disse que a casa da família ainda estava de pé, mas ela estava ansiosa. “Deixámos tudo para trás. Não temos seguro”, disse Korda: “Estamos a perder tudo”.
Robert Luna considera que os incêndios em Los Angeles estão "mais perto de terminar", mas que o recolhimento obrigatório continua em vigor. Algumas zonas da cidade " parecem ter sido atingidas por uma bomba", confirmou, e o gabinete de medicina legal e os cães farejadores continuam a participar em buscas para procurar os corpos de vítimas mortais. "Não estou à espera de boas notícias", lamentou o xerife do condado de Los Angeles.
Em busca da causa
As autoridades norte-americanas procuram agora apurar as coisas do incêndio que começou na terça-feira passada, 7 de Janeiro. Calcula-se que o fogo terá começado junto a uma casa em Piedra Morada Drive, que junto a um pequeno curso de água no seio de uma região densamente arborizada. A hipótese de o incêndio ter começado com a queda de um relâmpago, que é a causa mais comum de fogos nos Estados Unidos já foi colocada de parte porque não houve registos meteorológicos desses eventos.
As atenções voltam-se agora para outras duas opções mais viáveis: fogo posto e um problema com as linhas de electricidade. À Associated Press, John Lentini, gestor da Scientific Fire Analysis na Flórida, uma empresa especializada no estudo de incêndios, indicou que todas as respostas para a origem destes incêndios estarão em Piedra Morada Drive, independentemente da dimensão que o fogo acabou por assumir.
Segundo o Los Angeles Times, as autoridades estão a investigar uma torre de transmissão eléctrica em Eaton que poderá ter dado ao origem naquela zona de Los Angeles. A empresa responsável pelo fornecimento de energia naquela região insistiu no sábado que "não houve interrupções ou anomalias operacionais/eléctricas nas 12 horas anteriores à hora de início do incêndio, até mais de uma hora após a hora de início do incêndio".