Subida no final do ano não impediu que 2024 fosse de alívio da crise inflacionista

Ano terminou com uma taxa de inflação média de 2,4%, um valor que representa um regresso aos valores mais baixos que se registaram na última década, antes do início da guerra na Ucrânia.

Foto
Preços dos alimentos abrandaram em 2024, segundo o INE Paulo Pimenta
Ouça este artigo
00:00
04:31

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Depois de 7,8% em 2022 e de 4,3% em 2023, a taxa de inflação média regressou em 2024 a valores mais próximos daqueles a que os portugueses se habituaram ao longo da última década, com um resultado final de 2,4%, confirmou nesta segunda-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE). Em Dezembro, contudo, a tendência foi de subida.

Os dados já tinham sido divulgados de forma provisória pelo INE nos últimos dias do ano passado e agora foram confirmados: a taxa de inflação homóloga no mês de Dezembro (a variação dos preços face ao mesmo mês do ano passado) foi de 3% e a taxa de inflação média no total de 2024 (a média das taxas de inflação homólogas dos 12 meses do ano) foi de 2,4%.

A crise inflacionista, que teve o seu auge em 2022 com o início da guerra na Ucrânia, parece ter tido no ano de 2024 o seu final, depois de fortes subidas das taxas de juro por parte do BCE que arrefeceram a procura na economia, contribuindo dessa forma para controlar os preços.

Uma taxa de inflação média anual de 2,4% já fica mais próxima dos valores registados ao longo da maioria da década anterior, em que na maior parte dos anos este indicador ficou mesmo abaixo da meta de 2% que é a definida pelo BCE para a totalidade da zona euro.

O fim da crise inflacionista, contudo, ainda terá de se confirmar ao longo do ano de 2025. Principalmente, tendo em conta que nos últimos meses do ano passado se assistiu a uma inversão da tendência de descida que se vinha registando.

De facto, em Dezembro, a taxa de inflação homóloga calculada pelo INE registou o seu quarto mês consecutivo de subida. Passou de 2,5% em Novembro para 3% em Dezembro, afastando-se ainda mais dos 1,9% a que tinha chegado em Agosto.

Esta subida mais recente da inflação foi mesmo a suficiente para que Portugal passasse a ter neste indicador um desempenho menos favorável que o da média da zona euro. A taxa de inflação homóloga harmonizada (aquela que é calculada de acordo com a mesma metodologia utilizada pelo Eurostat para toda a UE) subiu de 2,7% em Novembro para 3,1% em Dezembro, um valor que fica 0,7 pontos percentuais acima dos 2,4% registados no total da zona euro.

No entanto, tanto para Portugal como para a zona euro, há motivos para pensar que, depois das subidas dos últimos meses, a tendência pode voltar a ser mais favorável nos próximos meses.

De facto, a principal explicação para a subida recente da taxa de inflação homóloga está no chamado efeito de base. Como no final de 2023 a tendência tinha sido de uma descida forte dos preços (diminuição de 0,4% entre Novembro e Dezembro de 2023), principalmente dos da energia, agora, mesmo com os preços a manterem-se relativamente estáveis (aumentaram 0,1% entre Novembro e Dezembro de 2024), isso acaba por se traduzir numa subida da taxa de variação homóloga.

Este efeito de base negativo não será tão significativo nos próximos meses, o que poderá ajudar a que se volte a registar uma evolução da taxa de inflação homóloga mais em linha com aquilo que deseja o BCE, que é colocá-la em 2%.

Comunicações com inflação mais alta

Por tipos de bens, os dados agora divulgados pelo INE para o total do ano confirmam que a descida da inflação em 2024 face aos dois anos anteriores esteve alicerçada na acalmia dos preços registada nos alimentos e na energia, que tinham sido os que mais tinham subido em 2022 e 2023.

A taxa de inflação média anual nos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas ficou-se no ano passado nos 2,3%, um valor que fica muito abaixo dos 13% de 2022 e dos 10% de 2023. No caso dos transportes, que incluem os preços dos combustíveis, a taxa de inflação média cifrou-se em 2025 nos 1,3%.

Há, no entanto, outras áreas onde a tendência revelada pelos preços não foi tão favorável no ano passado. Os preços das comunicações, que em 2022, no auge da crise inflacionista nem subiram muito, registando uma taxa de inflação média anual de 1,9%, apresentam agora valores mais elevados, tendo este indicador sido de 5,9% em 2024.

Esta persistência e mesmo aceleração dos preços nos serviços é uma tendência em toda a Europa e constitui uma das principais preocupações do BCE relativamente à evolução futura da inflação. A explicação para esta subida desfasada no tempo está no facto de os preços dos serviços serem particularmente sensíveis aos aumentos salariais, que começaram a ser mais elevados apenas a partir de 2023.

Sugerir correcção
Comentar