Força da economia dos EUA prolonga subida dos juros das dívidas mundiais
Mercados obrigacionistas continuam a ser palco de subidas das taxas de juro a que os Estados se conseguem financiar. Juros da dívida portuguesa a 10 anos estão ligeiramente acima de 3%.
Os novos sinais de força dados pela economia norte-americana, que tornam ainda menos provável um alívio da política seguida pela Reserva Federal, acentuaram esta segunda-feira a subida das taxas de juro da dívida pública tanto nos Estados Unidos como na Europa, incluindo Portugal.
Desde o início do passado mês de Dezembro que a tendência tem vindo a ser, na generalidade dos títulos de dívida pública emitidos pelos Tesouros europeus e dos Estados Unidos, de subida das taxas de juro praticadas nos mercados obrigacionistas.
A principal explicação está no facto de se ter tornado menos provável que a Reserva Federal norte-americana continue a baixar as suas taxas de juro de curto prazo de referência, que têm uma influência significativa naquilo que acontece depois às taxas de juro de longo prazo da dívida pública. A persistência da inflação, o desempenho positivo da economia e a expectativa de que Donald Trump ponha em prática subidas das taxas alfandegárias fazem com que a autoridade monetária norte-americana se tenha tornado mais prudente na condução da sua política.
Este cenário tem um efeito de contágio imediato para a Europa, uma vez que a manutenção de taxas de juro mais altas por parte da Reserva Federal tornam mais difícil ao Banco Central Europeu baixar muito mais as suas próprias taxas de juro de referência, já que com isso correriam o risco de uma depreciação ainda mais forte do euro face ao dólar, algo que poderia provocar um ressurgimento da inflação na zona euro.
O dólar tem estado nas últimas semanas a apreciar-se de forma consecutiva contra a generalidade das restantes divisas mundiais.
Esta segunda-feira, a reacção dos mercados aos indicadores do mercado de trabalho norte-americano divulgados na sexta-feira fez com que a tendência de subida das taxas de juro da dívida pública e de apreciação do dólar ainda se agravasse mais.
A criação de novos postos de trabalho nos Estados Unidos atingiu 255 mil em Dezembro, um valor que superou as expectativas, e isso reforçou a ideia de que a economia norte-americana continua forte e que a pressão para aumentar salários continua elevada, fazendo com que a expectativa de novos cortes de taxas de juro por parte da Fed baixasse ainda mais.
O resultado nos mercados obrigacionistas mundiais foi a continuação das taxas de juro da dívida. Nos Estados Unidos, a taxa a 10 anos dos títulos emitidos pelo Tesouro chegaram aos 4,79%, aumentando ainda mais a expectativa possa chegar aos 5% brevemente.
Na zona euro, as taxas de juro da dívida da Alemanha a 10 anos aproximou-se dos 2,6% a meio da manhã desta segunda-feira, acentuando uma subida que já acontece desde o início do passado mês de Dezembro, quando estava apenas ligeiramente acima dos 2%.
E em países mais pressionados pelos mercados como a Itália ou a França, as taxas de juro subiram ainda mais. No caso da Itália, as taxas estão a caminho dos 4%, tendo chegado a 3,8% esta manhã. Em França, é a barreira dos 3,5% que está prestes a ser atingida.
A dívida pública portuguesa a 10 anos está a um nível mais baixo do que as de Itália e França, mas não consegue escapar à tendência geral de subida. Esta segunda-feira de manhã encontra-se nos 3,08%, uma subida face aos 3,04% com que fechou a sessão na sexta-feira.
No Reino Unido, a subida das taxas de juro dos títulos emitidos pelo Tesouro também foi significativa esta segunda-feira, ao mesmo tempo que a libra caía para o seu valor mais baixo face ao dólar dos últimos 14 meses.