Para reerguer a Síria pós-Assad, o Ocidente está pronto para levantar as sanções
Reunião na Arábia Saudita reuniu chefes da diplomacia europeia e da região. União Europeia vai discutir fim das sanções no fim do mês.
O possível levantamento das sanções contra a Síria já no final de Janeiro foi o principal resultado da primeira grande reunião a nível internacional para discutir o futuro do país desde a queda do regime de Bashar al-Assad, que juntou em Riad, capital da Arábia Saudita, diplomatas europeus e das nações do Médio Oriente.
Sob pressão dos anfitriões sauditas, os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus aceitaram reunir-se no final do mês, no dia 27, para discutir o fim das sanções mas, como sublinhou a alta representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, a decisão dependerá das políticas a seguir pelo novo Governo, que deverá incluir “diferentes grupos” e mulheres e “não radicalizar-se”, afirmou Kaja Kallas em Riad.
“Se virmos que os desenvolvimentos estão a ir na direcção certa, estamos prontos para dar os próximos passos... Se virmos que não estão a ir na direcção certa, também podemos voltar atrás”, avisou a responsável pela diplomacia da UE.
A conferência deste domingo, a primeira reunião de líderes ocidentais e regionais desde a destituição de Assad, ocorre numa altura em que Damasco apela ao Ocidente para que levante as sanções, de forma a permitir que o financiamento internacional flua mais livremente.
Após 13 anos de guerra civil, o ditador sírio Bashar al-Assad foi deposto em Dezembro numa ofensiva relâmpago das forças rebeldes lideradas pelo grupo islamita Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Desde então, o grupo estabeleceu um governo provisório, encabeçado de facto por Ahmed al-Sharaa, o líder do HTS.
Numa conferência de imprensa realizada após o encerramento da conferência em Riad, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, o príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, sublinhou a importância do “levantamento das sanções unilaterais e das sanções da ONU impostas à Síria, uma vez que a sua continuação impedirá as aspirações do povo sírio de alcançar o desenvolvimento”.
EUA, Reino Unido, União Europeia e outros países impuseram duras sanções à Síria depois de Assad ter reprimido os protestos pró-democracia em 2011, que se transformaram a seguir numa guerra civil.
O governo provisório, liderado pelos antigos rebeldes, prometeu adoptar um sistema pluralista e o apoio internacional é imprescindível para recuperar de um período de quase 14 anos de guerra civil que matou pelo menos 500 mil pessoas e deslocou metade da população de 23 milhões de pessoas que vivia no país antes do conflito.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Asaad al-Shibani, participou na reunião deste domingo, assim como os chefes da diplomacia do Egipto, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia, para além da anfitriã Arábia Saudita.
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, admitiu que é essencial aliviar a população síria mas afirmou que as sanções contra “os capangas de Assad que cometeram crimes graves” devem continuar em vigor. Sem entrar em pormenores, a chefe da diplomacia alemã anunciou uma ajuda adicional de 50 milhões de euros para alimentos, abrigos de emergência e cuidados médicos.
Na segunda-feira, tinham sido os Estados Unidos a conceder uma isenção de seis meses nas suas sanções para permitir as transacções com instituições governamentais na Síria, para tentar facilitar o fluxo de assistência humanitária.
A Administração Biden suspendeu também uma recompensa de 10 milhões de dólares que tinha oferecido pela captura de Ahmad al-Sharaa, quando o líder rebelde sírio era conhecido pelo nome de guerra de Abu Mohammed al-Golani. Al-Sharaa era um antigo combatente de topo da Al-Qaeda mas rompeu com o grupo há vários anos.
“Os Estados Unidos afirmaram que vão congelar as sanções sobre o pagamento dos trabalhadores do sector público ou o fornecimento de energia, por exemplo, e isso é fundamental”, disse Rob Geist Pinfold, professor do King's College de Londres, em declarações à Al Jazeera.
Já a Turquia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Hakan Fidan, prometeu que Ankara vai tentar ajudar a Síria a normalizar os laços com a comunidade internacional. “É importante estabelecer um equilíbrio entre as expectativas da comunidade internacional e as realidades enfrentadas pela nova administração na Síria”, disse Fidan, oferecendo o apoio turco para combater a ameaça do Daesh. com agências