“Somos país de emigrantes, o mínimo é recebermos bem os imigrantes”
Milhares de pessoas juntaram-se na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, e desfilam até ao Martim Moniz contra o racismo e pela integração dos imigrantes.
Partidos da esquerda, figuras públicas e movimentos da sociedade civil marcam presença na manifestação que decorre este sábado na Avenida Almirante Reis e gritam “25 de Abril sempre, Fascismo nunca mais” ou “Eu sou anti-rascista e o mundo vou mudar”, ao som de batuques. Nas faixas, no mesmo tom, como a do Bloco de Esquerda “Encostem o racismo à parede” ou a do PS “Aqui todos têm lugar, lado a lado com os imigrantes” ou ainda, entre muitas outras, a mensagem do Cidadãos por Lisboa “Gente igual por dentro. Gente igual por fora”.
Aisha (nome fictício) é do Bangladesh e congratula-se por ver tanta gente em apoio à comunidade imigrante. Enquanto vai dizendo, de sorriso rasgado e tom enfático, que está “muito feliz” por ver este protesto, faz sinal ao marido, a uns metros mais atrás, para se aproximar. Não quer falar sem ele saber, diz. E talvez também ele queira dizer algo. O marido aproxima-se, exprime com a voz e os gestos a “forte indignação” com a forma como decorreu a operação policial do mês passado na Rua do Benformoso, diz que nem ele nem ela querem ser entrevistados.
Paulo Carmo costuma vir ao desfile do 25 de Abril. O mesmo não diz da série de manifestações que têm levado milhares às ruas contra o racismo ou a falta de habitação, movidos por colectivos como o Vida Justa. O movimento é aquele que mais espaço ocupa, com dezenas de bandeiras vermelhas, no longo aglomerado de pessoas que, em representação dos partidos ou de associações da sociedade civil, descem a Avenida Almirante Reis entre a Alameda e o Martim Moniz.
“Esta manifestação em particular vai mover-nos mais porque nós, que somos país de emigrantes, o mínimo que podemos fazer é receber bem os imigrantes”, diz Paulo Carmo, engenheiro florestal. “É importante mostrar a certos sectores da sociedade que nem toda a gente é xenófoba, não odeia o próximo e que sem esta imigração a economia pára”, acrescenta.
Sem ter ainda estimativas oficiais da participação, a manifestação juntou uns milhares de pessoas que, chegadas ao destino, encheram a praça do Martim Moniz, e cantaram Grândola Vila Morena antes do início dos discursos.
A manifestação trouxe à praça mais multicultural de Lisboa uma massa de pessoas de várias origens. Às figuras de partidos da esquerda, juntam-se imigrantes da Ásia, sobretudo homens, mas representantes das comunidades lusófonas que há mais tempo estão em Portugal.
A manifestação, denominada "Não nos encostem à parede", foi convocada após a operação policial de dia 19 de Dezembro na rua do Benformoso, perto do Martim Moniz, em Lisboa, e das imagens de dezenas de imigrantes encostados às paredes dos prédios, para serem revistados
A operação policial resultou na detenção de duas pessoas e já teve como consequência a abertura de um inquérito por parte da Inspecção-Geral da Administração Interna e uma queixa à provedora de Justiça, subscrita por cerca de 700 cidadãos, entre eles deputados do PS, Bloco de Esquerda e Livre.