Público Brasil Histórias e notícias para a comunidade brasileira que vive ou quer viver em Portugal.
O cinema brasileiro em alta
Conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres é reconhecimento da bem-sucedida indústria audiovisual brasileira, que conquistou o mundo com criatividade, tecnologia e muita dramaturgia.
Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.
Por muitos anos, o Brasil foi reconhecido no exterior pelo futebol, pelo samba e pela bossa nova. Produtos do agrobusiness, como o café, a soja, o suco de laranja, carnes e muitos outros se somaram à esta lista. Pois considerem também mais um item valioso: a indústria cinematográfica produzida em terras brasileiras, e não tão somente das telas, mas também de todo o segmento audiovisual, o que inclui produções de novelas, séries etc.
Por trás desta grande indústria estão pessoas, ideias criativas, tecnologia e financiadores. Que não começaram agora.
Bem antes de Fernanda Torres ser reconhecida agora com o Globo de Ouro por Ainda estou aqui, há 25 anos, sua mãe, Fernanda Montenegro, concorreu ao mesmo prêmio, nesta categoria de atriz de drama, pela incrível interpretação no filme “Central do Brasil”. Não por acaso, dirigido pelo mesmo genial Walter Salles.
“Foi como mega-sena premiada”, brincou Fernanda Torres, em entrevista à GloboNews, já que também a mãe recebera a mesma homenagem. Destacou também o reconhecimento da luta de Eunice Paiva e da família Paiva, que esperaram 25 anos para que o governo reconhecesse a tortura e morte do deputado Rubens Paiva pela ditadura militar. Em momento de fragilidade da Democracia em diferentes países, nada mais atual do que esta obra. Se você ainda não leu o livro do escritor Marcelo Rubens Paiva, que inspirou o filme, corra para comprar! Soube que o filme vai passar em Portugal ainda em janeiro. Os dois, livro e filme, que têm o mesmo nome, são imperdíveis! Até agora, pelo menos seis salas de cinemas do país já confirmaram que terão a produção em cartaz em Portugal.
A premiação é um reconhecimento também a taaaantas mulheres maravilhosas que vieram antes – atrizes, diretoras, roteiristas – como Odete Lara, Marília Pêra, Léa Garcia, Ruth de Souza, Leila Diniz, Normal Bengell e muitas que estão aqui, como Sônia Braga, Dira Paes, Glória Pires, Marieta Severo, Adriana Esteves, Zezé Motta, Tizuka Yamasaki, Sandra Kogut, Anna Muylaert, Suzana Amaral, Laís Bodansky, entre outras.
Mulheres potentes e homens também incríveis. Destacamos o papel de todas e todos! Com ideias fantásticas de produções inesquecíveis. Como esquecer de Central do Brasil? Ou de Bacurau, Tropa de elite, Cabra marcado para morrer e tantos outros. Mesmo quem não é do ramo sabe que Cultura não se faz sozinho: é preciso produzir, pensar e agir em equipe. E todo este movimento acontece após um recente ataque ideológico forte à nossa produção cultural e à nossa Cultura. Está mais do que claro que Cultura e Educação andam de mãos dadas.
Dados recentes apontam que o cinema brasileiro alcançou, em 2024, seu melhor desempenho desde a pandemia (que afetou muito o setor), com arrecadação de mais R$ 220 milhões (36 milhões de euros), segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), atualizados com as últimas bilheterias do ano. São empregos, investimentos e toda uma importante cadeia econômica e cultural relevante. Nas bilheterias brasileiras, Ainda Estou Aqui fechou 2024 como a quinta maior bilheteria do ano, e foi o único filme nacional entre os top 10, com mais de 3 milhões de ingressos vendidos. Este é o primeiro longa brasileiro que alcança esses números desde o início de 2020. Segundo informações do portal de cinema Filme B, o título foi ainda um dos principais responsáveis para que o cinema brasileiro atingisse uma fatia de mercado de 10,5% em 2024 — seu melhor desempenho pós-pandemia.
Entrevistamos Sylvia Palma, roteirista de renome, membro da Abra (Associação Brasileira de Autores Roteiristas), uma das fundadoras da Gedar (Gestão de Direitos de Autores Roteiristas) e fundadora e membro do Comitê Executivo da Fesaal (Federação de Sociedades de Autores Audiovisuais Latino-Americanos). Ela comentou não só o peso da vitória por si só, mas também pelo fato de Fernanda Torres concorrer com mulheres icônicas do panorama global, como Nicole Kidman e Tilda Swinton.
"A vitória no Globo de Ouro de 2025 é o segundo grande prêmio internacional conquistado por Fernanda Torres. Ela já havia ganhado em Cannes, em 1986, com o filme Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor. A multitalentosa atriz não só ganhou o Prêmio de Melhor Atriz de Drama, mas venceu cinco das atrizes mais relevantes do cinema mundial: Angelina Jolie, Nicole Kidman, Kate Winslet, Tilda Swinton e Pamela Anderson, todas oscarizadas. O trabalho minucioso de composição da personagem de Eunice Paiva não só eleva a atriz ao patamar das atrizes mais geniais da cinematografia mundial, como resgata toda a humanidade, força e resiliência de uma personagem real — que nos lembra o quanto a ditadura, o fascismo e a violência precisam ser banidos ainda hoje do nosso mundo. E mais: nos lembra o quanto a democracia é um caminho precioso na construção de uma sociedade melhor. “São lições que não devemos esquecer", destacou Sylvia Palma.
Então, tudo isso parece estar convergindo num momento certo: pelo Brasil, pela Cultura, por mulheres potentes – e homens também, claro! – e pelo coletivo. Trata-se do que não é meu ou seu, e sim nosso. De voltar a ter orgulho do Brasil que pensa, pulsa e é reconhecido pela nossa criatividade. Que venha o Oscar!