Entre marés e ritmos, Jeã de Assis lança música com identidade afro-brasileira

O músico e percussionista Jeã de Assis, radicado em Lisboa desde 2016, lança Maré de Março, primeira faixa de seu novo EP, exaltando a cultura afro-brasileira e as tradições do candomblé.

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Jeã vê na sua arte uma forma de resistência e valorização da cultura afro-brasileira. Naia D'Andrea
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Com quase três décadas dedicadas à música, Jeã de Assis, 43 anos, é um artista que transita entre os ritmos tradicionais afro-brasileiros e as sonoridades contemporâneas, compondo uma obra que exalta ancestralidade e espiritualidade. Atualmente residindo em Lisboa, o cantor e percussionista se prepara para lançar Maré de Março, uma homenagem aos pescadores e à devoção a Iemanjá, com estreia marcada para 31 de janeiro nas plataformas digitais.

Nascido e criado em Salvador, Bahia, ele foi profundamente influenciado pelos ritmos do candomblé, que permeiam suas composições e performances. Exemplo disso é Maré de Março, que traz arranjos contemporâneos assinados por Paulo Mutti e a participação de músicos renomados, que foi gravada no icônico estúdio WR, em Salvador. Jeã descreve essa música como uma celebração das tradições afro-brasileiras, incorporando a força espiritual do candomblé e a devoção dos pescadores, especialmente durante o perigoso período das marés de março, conhecido por sua intensidade e força.

Além de sua rica bagagem musical, Jeã é também um cronista cultural. Suas composições abordam temas que vão desde a resistência e a ancestralidade até questões sociais como o racismo estrutural. O músico criticou a prática de "embranquecimento cultural", como vê a remoção do nome de Iemanjá da música Caranguejo pela cantora Cláudia Leitte. "Isso reforça a ideia de racismo estrutural e tenta apagar identidades ao mesmo tempo que se apropria delas", comenta o artista, que vê na sua arte uma forma de resistência e valorização da cultura afro-brasileira.

Em Portugal, Jeã encontrou um novo espaço para sua música, integrando-se à cena cultural e colaborando com artistas africanos de países como Angola e Cabo Verde. "Essa troca tem sido enriquecedora, tanto para minha trajetória artística quanto para a preservação e reinvenção da música afro-brasileira", afirma. Apesar dos desafios enfrentados pelos imigrantes em Portugal, incluindo episódios de xenofobia e violência, Jeã mantém o foco na celebração e na construção de pontes culturais.

Dia de Iemanjá na Bahia

Jeã planeja lançar ainda este ano o clipe de sua próxima faixa, Lavagem do Bonfim, a ser gravado durante uma viagem à Bahia, onde participará das celebrações de 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, uma das festas mais emblemáticas de Salvador. "É uma celebração genuína do candomblé, sem influências externas, e representa o que há de mais puro na nossa cultura", explica o músico.

Ao longo de sua trajetória, ele tornou-se um embaixador cultural que transcende fronteiras. Radicado em Lisboa, Jeã não apenas divulga a cultura afro-brasileira, mas também promove o diálogo entre diferentes tradições musicais lusófonas. "Portugal tem sido um espaço de trocas ricas e intensas, onde encontro inspiração para expandir minha arte e ressignificar minhas raízes", destaca. Com apresentações em eventos multiculturais e parcerias com artistas locais e internacionais, Jeã reforça sua missão de construir uma ponte sólida entre Brasil, Portugal e o continente africano, celebrando a ancestralidade, projetando sua arte para o futuro e reforçando seu compromisso em utilizar a arte como meio de resistência, celebração e inspiração.

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