Líder dos conservadores alemães rejeita cooperação com extrema-direita da AfD

“Se o fizéssemos, venderíamos a alma da CDU”, disse Friedrich Merz, no dia em que o partido de direita radical e os sociais-democratas do SPD elegeram formalmente os seus candidatos a chanceler.

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Manifestantes bloquearam o acesso ao local do congresso da AfD, na cidade de Riesa Thilo Schmuelgen / REUTERS
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No dia em que SPD e AfD elegeram os seus candidatos a chanceler, o líder da CDU e grande favorito, segundo as sondagens, a vencer as eleições legislativas antecipadas na Alemanha, Friedrich Merz, recusou categoricamente qualquer hipótese de cooperação com a extrema-direita.

“Repito-o aqui para que fique registado. Não haverá cooperação com a AfD enquanto eu estiver à frente da CDU”, garantiu Merz, presidente da União Democrata Cristã (CDU) que, com a sua irmã bávara União Social Cristã (CSU), constitui a aliança CDU/CSU.

Numa entrevista à cadeia de televisão pública ARD, o líder democrata-cristão enumerou as razões para recusar o diálogo com a AfD. “Não cooperaremos com um partido que é xenófobo, que é anti-semita, que tem extremistas de direita nas suas fileiras, que tem delinquentes nas suas fileiras, um partido que namorisca com a Rússia e que quer abandonar a NATO e a União Europeia”, disse Merz, concluindo: “Se o fizéssemos, venderíamos a alma da CDU”.

A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de direita radical, tem ocupado nos últimos meses o segundo lugar nas sondagens, à frente dos sociais-democratas do SPD, liderados pelo chanceler Olaf Scholz. Este sábado, a co-líder do partido, Alice Weidel, foi formalmente eleita como candidata a chanceler no congresso que decorre na cidade de Riesa, na Saxónia (Leste da Alemanha) e que começou com um atraso de quase uma hora depois de um grupo de manifestantes ter bloqueado os acessos ao local.

Os protestos contra o partido de direita radical começaram ainda de madrugada e os manifestantes conseguiram cortar temporariamente uma estrada, de acordo com a polícia. Os organizadores do protesto, uma aliança conhecida como “Widersetzten” (Opor-se), denunciaram o excesso de violência policial utilizado para reprimir o que era uma manifestação autorizada, com o uso de canhões de água e gás pimenta.

No seu discurso perante os delegados da AfD, Weidel voltou a defender o fecho de fronteiras, as deportações em larga escala e a eliminação de programas de combate às alterações climáticas, entre outras medidas.

Alemanha numa encruzilhada

Em Berlim, o actual chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, foi confirmado no congresso do SPD como candidato às eleições de 23 de Fevereiro, numa corrida em que os sociais-democratas partem em clara desvantagem. Numa sondagem do INSA para o jornal Bild, publicada este sábado, o partido reúne 15% das intenções de voto, atrás da CDU/CSU, com 30%, e da AfD, com 22%.

A eleição de Scholz para ser novamente o candidato a chanceler foi um mero pró-forma, já que obteve o apoio da quase totalidade dos 600 delegados do SPD presentes no congresso. No seu discurso, o ainda chefe de Governo alertou para o perigo que representa a ascensão da extrema-direita

“A Alemanha está numa encruzilhada. Se no dia 23 de Fevereiro tomarmos a saída errada, acordaremos num outro país”, afirmou.

O chanceler, apontando a viragem da vizinha Áustria para a extrema-direita como um aviso sério e perigoso, referiu, numa referência velada ao magnata Elon Musk, apoiante da AfD, que “nos Estados Unidos há forças a trabalhar para destruir as nossas instituições democráticas”.

Scholz acusou também o líder dos conservadores, Friedrich Merz, de querer aplicar “velhas receitas” ao optar por um programa de austeridade que trará, advertiu, cortes nos cuidados de saúde e colocará em risco as pensões.

Enquanto o SPD quer baixar os impostos sobre as pessoas com baixos rendimentos e reduzir o IVA sobre os alimentos, os democratas-cristãos pretendem oferecer benefícios fiscais precisamente aos 10% mais ricos, acusou Scholz, para quem o futuro da Alemanha não poderá ser construído através de “vantagens fiscais para os milionários”.

Scholz aproveitou a oportunidade para fazer um mea culpa pelo fracasso da coligação tricolor com os Verdes e os Liberais na altura em que aconteceu, e lamentou não ter terminado a aliança mais cedo, quando gozava de maior força política. “Talvez devesse ter dado um murro na mesa mais cedo, não só nos bastidores, mas publicamente”, admitiu.

No que à política externa diz respeito, Olaf Scholz reiterou o seu apoio à Ucrânia, prometendo mais uma vez “manter a calma” e agir com moderação para não provocar uma escalada do conflito, e lembrou as recentes declarações do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre a Gronelândia, afirmando que o princípio da inviolabilidade das fronteiras “é válido para todos”.

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