Gouveia e Melo é candidato a Belém? Para já vai ter “merecidas férias” e “depois logo se vê”
O almirante Gouveia e Melo, agora na reserva, diz não se sentir pressionado pelos números das sondagens que o posicionam como um dos favoritos putativos candidatos a Belém.
O almirante na reserva Henrique Gouveia e Melo diz que este é momento de "tirar umas merecidas férias" e "depois logo se vê". Em entrevista no Podfest, festival de podcasts do jornal Expresso, que decorre esta sexta-feira na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Gouveia e Melo não desfez o tabu em torno da sua eventual candidatura à Presidência da República, sublinhando que teve anos "muito intensos" e que por isso merece férias "durante uns tempos".
Questionado acerca das sondagens que o apontam como um dos favoritos a vencer a corrida presidencial de 2026, Gouveia e Melo agradece a "simpatia" dos portugueses, mas garante que não se sente pressionado pelos números favoráveis. "Agradeço aos portugueses a simpatia e agradeço a confiança que têm em mim e para mim é só isso", resumiu, numa conversa que dedicou menos de dois minutos ao tema das eleições presidenciais.
Já com o tema da Defesa em cima da mesa, Gouveia e Melo começou por defender que a solução para a Europa é "uma reindustrialização inteligente" e a aposta na Defesa pode "resolver o problema", embora reconheça que "haverá alguma afectação nas despesas sociais". Mas apressou-se a avisar: "O que interessa ter despesas sociais se não tivermos país? Ou se tivermos que obedecer a uma autoridade exterior, ainda por cima ditatorial?", questionou.
Por essa razão, insistiu Gouveia e Melo, há "um conjunto de pesos e contrapesos que temos de medir", uma vez que não aumentar o valor do PIB afecto à despesa nacional é assumir o risco de "poder perder tudo".
O almirante na reserva defendeu ainda que a Europa deve reforçar a sua ligação à NATO. "A autonomia estratégica da Europa, per si, é muito difícil num mundo que se está a tornar bipolar". Preocupado com a instabilidade internacional e com "o parceiro agressivo que é a Rússia" que "dentro da Europa tenta mudar regimes democráticos e convertê-los em protodemocráticos, para não lhes chamar outra coisa".
"Não é só a segurança que está em causa. É a própria construção europeia e a nossa prosperidade, equidade e liberdade", considerou. "Não nos podemos alhear de um problema que nos pode afectar", disse ainda Gouveia e Melo. E isso implica escolhas, avisou.
Quanto a um possível regresso do serviço militar obrigatório, Gouveia e Melo argumentou que o importante é não passar "ao outro lado" que estamos "numa posição de fraqueza" que possa ser tentadora. "A nossa capacidade militar afunilou. Somos melhores em termos profissionais, mas somos muito menos do que seríamos num ambiente mais alargado. E última coisa que queremos é combater, porque combater é a destruição total. Mas para não combater não podemos passar ao outro lado que estamos numa posição de fraqueza que para esse lado possa ter tentadora", explicou.
Para isso, completou, é preciso investir em equipamento militar e recursos humanos. "O serviço militar no modelo antigo não faz sentido, mas temos de encontrar uma forma mais inteligente. Não podemos obrigar os jovens todos a perder dois ou três anos de vida e esse tempo ser inútil", disse. E Gouveia e Melo tem uma sugestão? Sim, mas prefere não a divulgar já. "É muito complexa", justificou.
O favoritismo nas sondagens
Esta quinta-feira, foi divulgada a mais recente sondagem da Pitagórica, que coloca Henrique Gouveia e Melo como o protocandidato favorito, à frente de nomes como o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, o comentador e ex-líder do PSD Marques Mendes ou o actual governador do Banco de Portugal Mário Centeno.
O almirante Gouveia e Melo passou à reserva no final de 2024. “Continuar no activo retira-me alguma liberdade nos meus direitos cívicos e, portanto, não vejo necessidade de continuar no activo”, explicou então, ressalvando que essa decisão não se traduziria necessariamente numa candidatura à Presidência da República.
O almirante notabilizou-se na liderança do esforço de vacinação contra a covid-19 durante a pandemia, tendo liderado a task force criada para o efeito.
Numa entrevista à RTP em Setembro de 2024, Gouveia e Melo lembrou o exemplo do último ex-militar que chegou a Belém: "A população portuguesa tem de estar muito agradecida ao último militar que esteve no cargo, que é o general Ramalho Eanes."