Primeiro-ministro da Gronelândia diz que está pronto para falar com Trump
Múte Egede pede respeito pelo desejo de independência do território. Dinamarca avança com novo plano de defesa da região, investindo nas patrulhas no mar e na neve.
O primeiro-ministro da Gronelândia, Múte Egede, afirmou nesta sexta-feira que estava pronto para falar com Donald Trump, mas pediu "respeito" pela vontade do território autónomo da Dinamarca de se tornar independente. O Presidente eleito dos EUA descreveu, esta semana, o controlo americano da Gronelândia como uma “necessidade absoluta” e não descartou a possibilidade de utilização de meios militares ou económicos, incluindo a imposição de tarifas, contra a Dinamarca.
Numa conferência de imprensa conjunta em Copenhaga com a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, quando foi questionado pelos jornalistas se o seu Governo já tinha sido contactado pelo Presidente eleito dos EUA, Egede respondeu: "Não, mas estamos prontos para falar." Ao lado da chefe de Governo dinamarquesa, o primeiro-ministro gronelandês voltou a frisar a importância que dá à ideia de independência do território.
"Temos um desejo de independência, um desejo de sermos donos da nossa própria casa... Isso é algo que toda a gente deve respeitar", avisou Egede, acrescentando, porém, que a independência não significaria "cortar todos os laços, toda a cooperação e todas as relações com a Dinamarca".
Múte Egede governa o território desde 2021, ano em que o seu partido da esquerda independentista conhecido por Inuit Ataqatigiit (IA), venceu as eleições regionais. O primeiro-ministro gronelandês tem verbalizado a sua oposição às investidas de Donald Trump pelo território (a primeira foi em 2019). O Presidente eleito dos EUA, que toma posse a 20 de Janeiro, ameaçou com a aplicação de tarifas elevadas sobre a Dinamarca caso o país nórdico não cedesse e recusou-se a excluir a possibilidade de tomar o território com o uso da força.
A primeira-ministra dinamarquesa, que já tinha declarado que a Gronelândia "pertencia aos gronelandeses", assumiu que pediu uma reunião com o Presidente eleito dos EUA, mas que não tinha obtido resposta e que, provavelmente, não iria obter até Donald Trump estar de regresso à Casa Branca.
As ameaças de Trump chegam também numa altura em que se aproximam as eleições regionais na Gronelândia, com Egede a colocar o processo de independência da região no topo da agenda eleitoral.
"É necessário dar passos importantes... O novo período eleitoral que se aproxima deve, juntamente com os cidadãos, criar esses novos passos", disse o primeiro-ministro gronelandês na terça-feira.
A resposta dinamarquesa à retórica foi rápida, desde a simbólica mudança do brasão do rei ao plano de defesa, inicialmente apresentado em Dezembro pelo Governo e que foi agora especificado. Segundo a Reuters, o plano envolve a compra de "dois novos navios de inspecção no Árctico" e um aumento das patrulhas em trenós puxados por cães, importantes nas paisagens maioritariamente geladas da região.
"Durante muitos anos, negligenciámos os investimentos necessários em navios e aeronaves que ajudariam a controlar o nosso reino, e é isso que estamos agora a tentar fazer", disse na quinta-feira o ministro da Defesa da Dinamarca, Troels Lund Poulsen.
É através do Árctico que passa o caminho mais curto entre a Europa e a América do Norte. Trump, nos discursos e publicações nas redes sociais, justificou a vontade de controlar a Gronelândia com "fins de segurança nacional".
Desde 1943 que os EUA mantêm uma base militar na zona mais próxima do Pólo Norte, a Base Espacial de Pituffik, afecta ao ramo da Força Espacial norte-americana, onde opera boa parte dos sensores antimíssil do sistema de defesa aérea norte-americano.
Segundo uma nota da embaixada dos EUA em Copenhaga, "não há planos para aumentar a actual presença militar na Gronelândia", e Washington pretende continuar a colaborar quer com o governo dinamarquês quer com o da Gronelândia.