Incêndios em Los Angeles já causaram pelo menos dez mortos
Novo balanço aponta para pelo menos 10 mortos nos incêndios que estão a lavrar em Los Angeles. Área queimada já ultrapassa mais de 70 quilómetros quadrados. Mais de 10 mil edifícios arderam.
Pelo menos dez pessoas morreram nos incêndios que estão a afectar a cidade de Los Angeles, no sudoeste dos Estados Unidos, desde terça-feira, 7 de Janeiro, de acordo com o mais recente balanço.
Num comunicado, o Departamento de Medicina Legal do condado de Los Angeles disse ter sido "notificado de dez mortes relacionadas com incêndios". "Os casos aguardam actualmente identificação e notificação aos familiares mais próximos", acrescenta-se no texto, divulgado na quinta-feira à noite. "A identificação pode demorar várias semanas, uma vez que o Departamento de Medicina Legal não pode visitar todos os locais (...) devido às condições de incêndio e a questões de segurança", alertou.
O departamento sublinhou ainda que os "meios tradicionais de identificação", como as impressões digitais e a identificação visual, "podem não estar disponíveis" porque alguns corpos estão carbonizados. "Isto significa que será necessário mais tempo para identificar os falecidos", reconheceu. Em alternativa, é possível que as identificações aconteçam através da dentição e de amostras de ADN.
A chefe dos bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley, confirmou que duas mortes aconteceram devido ao incêndio de Pacific Palisades, que é já o mais destrutivo da História da cidade.
As identidades de algumas dessas vítimas mortais já foram adiantadas pela comunicação social norte-americana, após terem sido confirmadas pelas famílias. Entre eles está Anthony Mitchell, um homem de 67 anos sem as pernas que dependia de uma cadeira de rodas para se mover. O filho, Justin, de 20 anos, com paralisia cerebral, também morreu. Anthony Mitchell foi encontrado sem vida junto à cama do filho.
Cinco focos de incêndio
O incêndio num dos bairros mais ricos de Los Angeles já queimou mais de 70 quilómetros quadrados e mais de 5300 habitações e outros edifícios, disse Crowley. Um novo incêndio deflagrou a norte de Los Angeles na tarde de quinta-feira, 9 de Janeiro, e levou as autoridades a ordenar a evacuação de milhares de habitações.
Este incêndio junta-se aos cinco fogos activos que têm afectado Los Angeles desde terça-feira, principalmente a costa do Pacífico e Santa Monica, em Palisades, Eaton, Kenneth, Hurst e Lidia. As autoridades do condado disseram que um deles, o incêndio de Eaton, causou a morte de cinco pessoas. Só 6% do incêndio de Palisades está controlado, enquanto 75% do fogo em Lidia e 37% do foco em Hurst já foi dominado. Todos os outros incêndios lavram sem controlo.
Alimentado pelos fortes ventos de Santa Ana, o incêndio de Kenneth, que foi registado às 15h34 locais de quinta-feira (23h34 em Lisboa), "ameaça as comunidades e infra-estruturas próximas, provocando ordens de evacuação rápida", anunciou o Serviço de Bombeiros de Los Angeles.
Bombeiros dos condados de Los Angeles e Ventura foram mobilizados para a área para conter o incêndio, que actualmente afecta uma área de 20 hectares e permanece fora de controlo. No total, os incêndios florestais destruíram mais de 117 quilómetros quadrados e mais de dez mil habitações e outros edifícios. Pelo menos 180 mil pessoas permanecem sob ordens obrigatórias de retirada das suas habitações.
Oito aviões de transporte militar C-130 estão a participar nos esforços de combate aos incêndios, que também contam com a acção de um enxame de drones. Um deles, no entanto, colidiu com um avião de combate a incêndios junto ao foco de Palisades — um "Super Scooper" canadiano, capaz de recolher quase 4000 litros de água no oceano e depositá-la na frente activa. Todas as aeronaves chegaram a ser aterradas por motivos de segurança, mas já obtiveram luz verde para voltar ao terreno, com excepção do avião que foi atingido.
Falta água para o combate aos incêndios
A AccuWeather, uma empresa que fornece dados sobre o impacto de fenómenos meteorológicos extremos, elevou na quinta-feira a estimativa dos danos e perdas económicas dos incêndios para entre 135 e 150 mil milhões de dólares (entre 131 e 146 mil milhões de euros).
Uma das dificuldades no combate ao fogo está relacionada com a falta de água nas bocas-de-incêndio espalhadas pela cidade. Algumas têm uma pressão demasiado baixa e outras estão mesmo vazias. “O sistema nunca foi concebido para combater um incêndio florestal que depois envolve uma comunidade”, admitiu Martin Adams, antigo director-geral do Departamento de Água e Energia de Los Angeles, ao jornal norte-americano The Times.
Neste momento, as previsões meteorológicas continuam a apontar para ventos fortes ao longo desta sexta-feira, um factor que tem complicado o combate às chamas.
Entretanto, as autoridades sanitárias aconselharam os residentes de Los Angeles a evitarem o contacto com a água do mar numa zona da costa do Condado de Los Angeles por causa da contaminação por detritos e escorrências. O Departamento de Saúde Pública do Condado de Los Angeles na costa entre Surfrider Beach, em Malibu, e Dockweiler State Beach, em World Way, "especialmente perto de esgotos pluviais, riachos, rios e propriedades à beira-mar danificadas pelo fogo".
Esta foi a primeira noite de um recolher obrigatório imposto nas zonas que estão sob ordens de evacuação. Quem sair à rua e frequentar locais públicos entre as 18h e as seis da manhã sujeita-se a uma multa de 1000 dólares (cerca de 970 euros) e a uma pena de prisão de seis meses, excepto se pertencer às equipas de socorro. A medida serve não só para salvaguardar os habitantes, como para evitar uma onda de assaltos às casas abandonadas e até consumidas pelas chamas.
Dois oleodutos da Kinder Morgan Inc., que fornecem combustível a uma parte do oeste dos Estados Unidos, incluindo Nevada, estão fechados desde quarta-feira por questões de segurança. O fornecimento deve ser retomado esta sexta-feira, adianta a empresa, que pede ao público para "não entrar em pânico ao comprar em bombas de gasolina", sob pena de o acesso voltar a estar condicionado.
Portugueses a salvo e sem danos patrimoniais
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou "uma boa notícia" não ter registo de mortes ou "danos patrimoniais significativos" entre a comunidade luso-americana na Califórnia, estado afectado por graves incêndios.
"Não, eu falei com ele [congressista luso-americano da Califórnia Jim Costa] e falei também com o congressista David Valadão, quer um quer outro, muito bem informados, até porque vêm de áreas que são diferentes da Califórnia, áreas políticas e áreas geográficas. E aquilo que tinham de informação é que até agora não há portugueses afectados", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em Washington, questionado sobre se tinha conhecimento de portugueses afectados pelos graves incêndios que causaram destruição em grande escala no condado de Los Angeles.
"Não há portugueses afectados em termos de mortes ou de danos pessoais e também do ponto de vista de danos patrimoniais significativos", declarou o Presidente.
Marcelo Rebelo de Sousa frisou ainda que "há uma comunidade fortíssima" luso-americana no estado da Califórnia, com "mais de 300 mil portugueses, a maior parte deles das regiões autónomas, nomeadamente dos Açores". "Isso é uma boa notícia dentro da má notícia, que está a ser muito preocupante, que é o panorama dos fogos com uma intensidade que já não tinha há muitos anos", acrescentou o Presidente, que esteve em Washington para participar no funeral de Estado do ex-líder norte-americano Jimmy Carter.
Antes de Marcelo Rebelo de Sousa falar aos jornalistas portugueses, o congressista luso-americano Jim Costa, eleito pela Califórnia, havia dito que os grandes incêndios que lavram em Los Angeles tinham alcançado zonas de presença de comunidades luso-americanas.
"Sim. É triste e horrível. Um querido amigo meu perdeu a sua casa ontem [quarta-feira] em Palisades e tenho uma outra amiga que pode perder a dela. Há comunidades portuguesas perto dos fogos, em San Pedro e perto Altadena, onde eu sei que luso-americanos vivem", afirmou Costa, em Washington, questionado pela Lusa sobre se há portugueses afectados.
"Ainda não temos os fogos sob controlo. Tudo isto demonstra na Califórnia, mas também ao redor do mundo, o papel das alterações climáticas. Em Portugal tivemos incêndios com efeitos devastadores, assim como na Califórnia", assinalou o congressista democrata da Califórnia. O político luso-americano sublinhou que muita da "natureza e da força destes fogos", com uma "maior intensidade hoje do que no passado", devem-se em parte às mudanças climáticas.
Também David Valadão, congressista republicano da Califórnia, igualmente luso-americano, não descartou a possibilidade dos incêndios afectarem a comunidade portuguesa do seu estado, frisando que não só o fogo tem afectado directamente as comunidades, como também o fumo, que se tem alastrado a zonas mais afastadas dos focos de incêndio.