Maria João Carioca e João Diogo Silva assumem co-liderança da Galp
Após demissão de Filipe Silva, a actual administradora financeira e o administrador com o pelouro comercial vão repartir a liderança da equipa de gestão da petrolífera.
A administradora financeira da Galp, Maria João Carioca, e o administrador com a área comercial da empresa, João Diogo Silva, vão repartir a presidência executiva, na sequência da demissão, esta semana, do anterior presidente, Filipe Silva, estreando um modelo de liderança inédito na petrolífera.
A conduta de Filipe Silva está a ser investigada na comissão de ética da empresa devido a uma denúncia anónima que deu conta de uma relação entre o líder executivo e uma directora, o que pode configurar uma situação de conflito de interesses.
A Galp anunciou nesta sexta-feira, em comunicado divulgado através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que "o seu conselho de administração deliberou por unanimidade nomear os seus administradores
Maria João Carioca (CFO) e João Diogo Marques da Silva (EVP Comercial) como co-presidentes interinos da comissão executiva (CEO), acumulando ambas as funções".
“A senioridade profissional e a sólida perspicácia financeira da Maria João, combinadas com a profunda integração do João Diogo na nossa cultura empresarial e décadas de serviço dedicado, criam uma parceria equilibrada e poderosa", refere a presidente da administração da Galp, Paula Amorim, citada no comunicado.
"Estou confiante de que esta co-liderança fará avançar a nossa empresa, mantendo um caminho estratégico bem definido”, acrescentou a presidente da petrolífera.
Numa mensagem enviada aos trabalhadores e a que o PÚBLICO teve acesso, Paula Amorim reconhece que muitos podem sentir que a Galp vive “um momento particularmente desafiante”, mas sustenta que a estratégia da empresa “se mantém firme”.
“A situação que nos trouxe até aqui é externa ao nosso negócio e ao conselho de administração. Estou certa de que a comissão de ética e conduta da empresa, com o apoio do conselho fiscal, conduzirá o processo, assim como os desenvolvimentos subsequentes, e tomará as decisões necessárias com a imparcialidade, independência e transparência que um tema desta natureza exige”, afirma a presidente da petrolífera.
Novo administrador executivo
Os gestores Georgios Papadimitriou, Ronald Doesburg e Rodrigo Vilanova continuarão na comissão executiva, com os mesmos pelouros, e este órgão passará a contar também com "Nuno Holbech Bastos, antigo director da divisão de
da área de Estratégia & Fusões e Aquisições da Galp".
Esta cooptação será "submetida à ratificação dos accionistas na próxima assembleia geral anual. "Ao nível do conselho de administração, Nuno Holbech Bastos será responsável pela direcção da área de Upstream [petróleo]", refere a Galp.
Rodrigo Vilanova é responsável pela área de gestão de energia, Ronald Doesburg tem o pelouro das operações industriais e refinaria e Giorgios Papadimitriou tem a área de novos negócios, como as renováveis.
Filipe Silva, que durante anos foi administrador financeiro da Galp, também assumiu a presidência da comissão executiva depois da saída de Andy Brown no final de 2022 e depois foi confirmado como líder executivo na assembleia geral de accionistas seguinte, em Abril.
Trata-se da quarta liderança executiva em dez anos (ainda que repartida por dois gestores), a quarta também durante o mandato da actual presidente do conselho de administração, Paula Amorim, representante do grupo Amorim, que controla a empresa através da holding Amorim Energia (em que a petrolífera angolana Sonangol é também accionista).
Pelo cargo passaram já Carlos Gomes da Silva, Andy Brown, Filipe Silva e, agora, Maria João Carioca, o que levou a comissão de trabalhadores da Galp a dizer que os órgãos de governo da companhia se tornaram um "carrossel louco".
A mesma comissão mostra-se ainda convencida de que a denúncia anónima à comissão de ética visou essencialmente que Filipe Silva deixasse o cargo de presidente executivo. “Não obstante um eventual incumprimento do código de ética ser grave, surgiu na comunicação social uma precisa e pouco usual fuga de informação. Tudo podia ter sido resolvido no remanso dos gabinetes como é normal. Montou-se assim um golpe de teatro que meteu romance e drama temperados com uma boa dose de hipocrisia. Criou-se um caso com a exposição pública na dose certa para atingir o efeito pretendido, a saída de Filipe Silva”, defendeu a comissão de trabalhadores, num comunicado divulgado na quarta-feira.