Orçamento da Agência Espacial Europeia cai devido a cortes dos maiores países

Quebra de 100 milhões de euros está alicerçada no recuo do investimento de alguns dos maiores contribuintes. ESA anunciou dez novas missões para serem lançadas já em 2025 nos foguetões europeus.

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O Ariane 6, lançado pela primeira vez no ano passado, é a principal boleia da Europa para o espaço actualmente ESA
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O Conselho da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) aprovou um orçamento de 7,68 mil milhões de euros para 2025, uma quebra face aos 7,79 mil milhões de euros investidos em 2024. O ligeiro corte no orçamento deve-se sobretudo à retirada de dinheiro dos maiores países – como Alemanha, Itália ou Reino Unido –, contrabalançada por um maior investimento de países mais pequenos, como Portugal.

O orçamento para 2025 apresenta uma redução de 100 milhões de euros, em grande medida devido aos cortes dos maiores contribuintes para o financiamento da ESA. A Itália, por exemplo, baixou dos 881,2 milhões de euros de investimento em 2024 para 800 milhões de euros. O Reino Unido baixou dos 448,9 milhões de euros para 320 milhões de euros. E a Alemanha cortou a sua despesa em quase 220 milhões de euros: dos 1170 milhões de euros para 951,6 milhões de euros.

Esta quebra, que só nestes três países representa quase 430 milhões de euros, é, no entanto, contrabalançada por ligeiros aumentos de países mais pequenos e cujo contributo é mais modesto. Portugal, por exemplo, aumentou a sua contribuição dos 19,4 milhões de euros para 30 milhões de euros em 2025. A Polónia subiu dos 47,7 milhões de euros para os 193,4 milhões de euros – o crescimento mais significativo.

“O orçamento da ESA é relativamente modesto”, afirmou Josef Aschbacher, director-geral da ESA, numa conferência, esta quinta-feira, em que apresentou o orçamento e os planos gerais para 2025. “Os Estados-membros europeus e a Comissão Europeia podem estar orgulhosos e muito felizes com o que tem sido entregue dado o financiamento que temos”, acrescentou, reforçando o apelo ao reforço das verbas atribuídas à agência.

O investimento espacial é, segundo os dados apresentados pela ESA esta quinta-feira, um terço do aplicado pela congénere norte-americana, a NASA. A nível mundial, de acordo com os dados públicos de 2023, o investimento espacial é dominado pelos Estados Unidos (64%), seguido da China (12%) e da Europa (11%). Contudo, a tendência europeia tem sido inversa face à de outros países. Enquanto China e Estados Unidos, mas também Japão ou Índia, por exemplo, reforçam os seus programas espaciais, a quebra de investimento europeu deixa algumas dúvidas quanto ao futuro.

O orçamento da ESA tem como principal investimento a observação terrestre (33% da verba), uma área em que a Europa é líder com plataformas como o Copernicus, o programa europeu de observação da Terra, aglomerando dados sobre alterações climáticas, meteorologia, informação sobre o mar ou até sobre desastres naturais. Os outros programas com destaque referem-se ao transporte espacial (foguetões, por exemplo), à exploração humana e robótica, à navegação e à comunicação científica.

Em 2025, a ESA conta com a entrada da Eslovénia nos seus Estados-membros, num ano em que a agência celebra também 50 anos de existência. Neste ano de celebração, não se sabe ainda que impacto poderá ter este corte no orçamento, apesar de ser ligeiro.

Dez voos previstos para 2025

Josef Aschbacher anunciou ainda o “fim da crise dos foguetões” na conferência desta quinta-feira, depois do sucesso dos voos do Ariane 6 e do Vega-C, os novos meios de transporte da Europa para o espaço. “Vamos aumentar a exploração do Ariane 6 e do Vega-C”, declarou.

Após o voo inaugural do Ariane 6 em Julho do ano passado, este novo foguetão europeu terá seis lançamentos em 2025 – o primeiro deles já em Fevereiro. No caso do Vega-C, um foguetão mais pequeno do que o Ariane 6, estão previstos quatro voos.

O Ariane 6, após anos de atraso no seu desenvolvimento, teve um primeiro lançamento bem-sucedido em Julho de 2024 e tem duas versões: uma que permite levar cargas (como satélites) com cerca de 20 toneladas até à órbita baixa e outra versão em que carrega 11 toneladas até à órbita geoestacionária (a 36 mil quilómetros da superfície da Terra). Já o Vega-C cumpriu no último teste em Dezembro de 2024, depois de um fracasso em 2022. Este foguetão consegue levar cargas até 2,2 toneladas a cerca de 700 quilómetros de altitude.

O director-geral da ESA acrescentou que a agência europeia continua a trabalhar num foguetão reutilizável, à imagem do que a SpaceX tem utilizado nos últimos anos, e que “em breve” será lançado um concurso para trabalhar a próxima geração de foguetões – para preparar a transição do Vega-C e do Ariane 6.

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