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Contra atraso nos vistos, brasileiros marcam manifestação no Consulado de Salvador
Apesar da promessa de conclusão dos processos em três meses, vistos para procura de emprego em Portugal chegam a demorar mais de 200 dias. Famílias são separadas e prejuízos se acumulam.
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Centenas de brasileiros que estão à espera de vistos de procura de trabalho em Portugal, vários há mais de 200 dias, decidiram sair às ruas para protestar contra o que classificam como descaso. Eles marcaram uma manifestação em frente ao Consulado de Portugal em Salvador para o próximo 22 de janeiro.
São várias as queixas dos candidatos a imigrantes. “Não está sendo respeitada a fila dos vistos. Alguns estão demorando mais de 200 dias e outros, 40. Quando casais pedem vistos, várias vezes sai o documento para o marido e não para a mulher ou para a mulher e não para o marido. Com os atrasos, muitas pessoas estão perdendo dinheiro com aluguel e passagens aéreas", diz o soldador Laio Gama, 27 anos.
Ele ressalta que todos esses problemas ocorrem mesmo com aqueles que cumprem todas as exigências feitas pelo Consulado. "Pedem que a gente tenha o equivalente a três salários mínimos portugueses, o que dá 2.500 euros (R$ 15.900), e uma reserva de hotel para quatro meses. Muitas vezes, mesmo com isso, dizem que o valor é insuficiente”, afirma Gama.
Não é apenas o Consulado o alvo das queixas. Também a VFS Global, empresa contratada pelo Estado português para preparar os processos dos vistos, não estaria, segundo Laio, cumprindo o prometido. “A VFS está em falta com a gente. A empresa recebe toda a documentação, tudo o que é pedido para dar entrada nos papéis, mas, quando chegamos ao Consulado, há pendências”, queixa-se o soldador, referindo-se à necessidade de mais documentos.
Gama conta que já viveu em Portugal. “Morei no país há quatro anos, mas voltei para o Brasil para me especializar e para ter tudo certo para retornar e colocar em prática os meus sonhos”, conta. Ele diz que deu entrada nos papéis para o visto de procura de trabalho em 7 de junho de 2024 e ainda está esperando resposta do Consulado em Salvador. Ele relata que há um grupo de brasileiros com processos parados há mais de seis meses. “Mas muitos não querem falar, pois têm medo de se expor, com receio de que alguém no Consulado resolva se vingar”, explica.
O atraso nos vistos de procura de trabalho em Portugal é generalizado em todos os consulados, sendo os casos mais graves os de Salvador e de São Paulo. Procurado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, responsável pela administração das estruturas consulares pelo mundo, não respondeu.
Prejuízos acumulados
O pernambucano de Caruaru Alexandre Alves, 33, afirma que está acumulando prejuízos por causa do atraso do Consulado. “Em janeiro de 2024, eu e minha esposa decidimos emigrar para Portugal. Contratamos um advogado e preparamos tudo. Em 12 de junho daquele ano, demos entrada nos papéis, e diziam que o visto chegaria em setembro. Vendemos o automóvel, pedimos demissão do emprego, deixamos a nossa casa”, relata ele, que era gerente de uma franquia de motoboys.
Em novembro, o casal teve notícias, mas não a esperada. “Saiu o visto da minha mulher, mas não o meu não. Como já tínhamos alugado casa, decidimos que ela iria na frente”, assinala. E diz mais: “Só com a remarcação de passagens foram mais de R$ 10 mil (1.600 euros). Mas, além da perda financeira, há o desgaste emocional, sem falar que perdi a proposta de emprego. Minha esposa está sozinha numa cidade em que não conhece ninguém e já passou por situações difíceis. Quando ligo para o Consulado em busca de informações, cai na resposta automática”, detalha.
Longe do marido, a vendedora Mariana Queiroz, 36, chegou em Portugal no dia 17 de outubro. “Como já tínhamos casa alugada, eu vim primeiro para Portugal com nossa filha de 12 anos. Meu marido, o impressor Jean Carlos Almeida Queiroz, 44, ficou com a minha enteada”, afirma, lembrando que o pedido de visto pelo marido foi feito em 25 de julho do ano passado.
A situação tem sido muito pesada para Mariana. “Nós queremos estar legalizados no país. Essa situação gerou um grande prejuízo emocional para mim, com crises de ansiedade por estar sozinha em Portugal”, lamenta.
No caso de Raphaela Cristina Constantino Marques, 22, a situação é inversa. Ela continua em São Paulo esperando pelo visto há mais de 150 dias e o marido está no Porto desde novembro. "Estou vivendo uma situação muito difícil, longe do meu marido. Já tentei vários contatos com a VFS, e ninguém me responde. Passei as festas de final de ano longe da minha família por causa dessa demora, desse descaso. Não sei mais o que fazer", diz.
Raphaela lembra que a mãe dela também está em Portugal, onde vive há dois anos. Ela obteve a autorização de residência por meio do acordo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e aguarda pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) para atualizar a documentação.
O mecânico Luís Fernando, 25, também está separado da esposa pelo Consulado de Salvador. "O meu visto saiu e embarquei para Portugal. O dela ainda não foi aprovado e ela ficou no Brasil com a nossa filha", afirma. "Agora, estou pagando dois aluguéis, sustentando duas casas", ressalta. O baiano conta que optou por morar em território luso por causa do poder de compra maior do euro e dos conhecidos que o antecederam na emigração e conseguiram melhorar de vida.