Manifestação no Martim Moniz é “grito de revolta”, diz Mariana Mortágua
A líder do Bloco diz que “há um sentimento de vergonha” entre os imigrantes que vivem na Rua do Benformoso após a acção da PSP e que o difícil acesso à documentação é “entrave” à sua integração.
No final de uma visita à Rua do Benformoso, no Martim Moniz, em Lisboa, nesta quinta-feira, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, diz ter ouvido que “há um sentimento de vergonha” entre a comunidade imigrante provocado pela operação policial da PSP realizada no dia 19 de Dezembro e que a manifestação convocada para sábado, dia 11 de Janeiro, é um "grito de revolta".
“Aquilo que nos dizem é que, além do medo, há um sentimento de vergonha de pessoas que trabalham, que trabalharam uma vida inteira, que imigraram para tentar ter uma vida melhor, pagam os seus impostos e que, de repente, há um dia em que são encostadas à parede sem nenhum motivo e revistadas sem nenhuma suspeita”, afirmou em declarações transmitidas pela RTP3, insistindo em que houve uma “instrumentalização das forças de segurança”.
Questionada pelos jornalistas sobre se as queixas dos imigrantes podem estar relacionadas com o cansaço de quem vive na Rua do Benformoso, considerando a ampla visibilidade dada àquela artéria nos últimos tempos, a líder do BE responde que esse cansaço não é uma consequência da atenção mediática, mas sim “da utilização desta rua para uma campanha de ódio, para uma campanha racista, uma campanha mentirosa”.
Quanto à manifestação marcada para este sábado, dia 11 de Janeiro, e questionada sobre se considera que os próprios imigrantes compreendem o alcance desta iniciativa, a líder do BE responde que todas as comunidades “estão bastante atentas à política porque compreendem que há políticos que querem fazer das suas vidas, do seu trabalho, das suas dificuldades, um motivo de propaganda política e uma campanha de ódio”.
Mariana Mortágua considera que o protesto com o mote “Não nos encostem à parede” representa um “grito de revolta” contra essa mesma campanha, juntando várias figuras da política, mas também movimentos sociais, associações e comunidades de imigrantes.
“Estas pessoas querem uma vida mais calma. Acontece que o Governo só lhes está a dar uma vida mais difícil”, observou a líder do BE, insistindo em que a operação da PSP foi realizada “sem qualquer proporcionalidade e numa clara instrumentalização das forças policiais”. No início desta semana, foi entregue uma queixa à provedora de Justiça, que somou mais de 700 assinaturas, para “averiguar e apurar a legitimidade e proporcionalidade” da actuação policial.
Mariana Mortágua acrescenta que os imigrantes “não conseguem ter acesso à documentação, (...) apesar de descontarem e de contribuírem para o país e para a Segurança Social”. Essa “incapacidade burocrática do Estado português”, considerou, “é um entrave” à integração dos imigrantes no país.
A coordenadora do BE aproveitou ainda para acrescentar um relato sobre o que acontece quando “há um problema de segurança”. “Quando há um carro que tem um vidro partido e chamam a polícia, [os imigrantes] não conseguem que a polícia venha. Dizem o seu nome, percebe-se que são do Paquistão ou do Bangladesh, e [as autoridades] não vêm assistir as pessoas”, critica Mariana Mortágua.