“Pepe” Mujica diz estar a morrer e pede que o deixem em paz
O ex-presidente do Uruguai revelou que o seu estado de saúde se agravou e que não tentará novos tratamentos porque “o corpo não aguenta”.
José (ou "Pepe") Mujica, ex-presidente uruguaio, já tinha sido diagnosticado com um tumor no esófago em Abril do ano passado. Agora, em entrevista ao jornal Búsqueda, explica que o tumor se alastrou e que não fará nenhum tratamento para travar a doença.
"Estou a morrer. Só quero que não me peçam mais entrevistas, nem mais nada. Acabou o meu ciclo. Um guerreiro tem direito ao seu descanso", pediu o homem de 89 anos.
Ao mesmo semanário uruguaio, o político-agricultor explicou que não fará tratamento nenhum para travar a doença: "Não consigo pará-lo. Sou um idoso com duas doenças crónicas. Não posso fazer nenhum tratamento químico nem cirurgia, o meu corpo não aguenta".
Na entrevista, mostrou-se incomodado com as especulações de que iria fazer parte do novo Governo, que tomará posse a 1 de Março. Explicou que o presidente eleito (Yamandu Orsi) o visitou no dia seguinte da vitória das eleições, mas que depois disso nunca mais o viu. "Não pretendo saber nem quero ter nada a ver com isso. O pior que existe no mundo é montar um Governo", afirmou.
Em tom de despedida, Mujica deixou um abraço aos simpatizantes, mas também aos que são apenas compatriotas. "É fácil ter respeito por quem pensa de forma parecida, mas é preciso aprender que o fundamento da democracia é ter respeito por quem pensa diferente" e, por isso, entendeu que todos merecem que se despeça. Acrescentou, ainda, que "não há nada como a democracia", ainda que enquanto jovem não tenha pensado sempre assim. "Não é a sociedade perfeita, mas é a melhor possível", concluiu.
Mujica foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e o seu mandato ficou marcado por ter renunciado aos privilégios da Presidência (como, por exemplo, uma parte do salário) e por defender sempre um estilo de vida despojado de bens materiais.
Foi no mandato de Mujica que o Uruguai aprovou o casamento homossexual, descriminalizou o aborto e legalizou a produção e consumo de marijuana. O agricultor ficou conhecido como uma das mais importantes vozes de esquerda da América Latina.
Chegou a ser presidente da Câmara dos Senadores em 2020, mas renunciou ao cargo no mesmo ano, abandonando por completo a vida política. A decisão foi tomada devido à sua idade avançada e ao facto de ser portador de uma doença auto-imune aos 85 anos e, portanto, particularmente vulnerável no contexto da pandemia Covid-19. "Adoro a política, mas adoro mais a minha vida", disse na altura.