Incêndios em Los Angeles fazem cinco mortos. Quase 180 mil pessoas retiradas de casa
Condições meteorológicas continuam desfavoráveis ao combate aos incêndios. Chamas ameaçaram partes de Hollywood, mas a situação foi controlada. Biden cancela viagem oficial para seguir situação.
- Ventos, calor e uma seca implacável: as condições que inflamaram os incêndios na Califórnia
- Incêndios na Califórnia adiam anúncio dos nomeados para os Óscares
- Celebridades perdem as casas nos incêndios em Hollywood. “Desapareceu tudo”, lamentam
Os incêndios que lavram no estado norte-americano da Califórnia há dois dias causaram a morte a pelo menos cinco pessoas e destruíram mais de 2000 casas, tendo sido dada ordem de retirada a quase 180 mil pessoas, segundo dados indicados numa conferência de imprensa que aconteceu na manhã desta quinta-feira em Los Angeles (cerca das 16h30 em Portugal continental).
O comandante dos bombeiros do condado de Los Angeles, Anthony Marrone, adiantou na conferência de imprensa que há vários feridos e que a origem do fogo ainda é desconhecida e continua a ser investigada. As autoridades locais referem que estão em causa cinco grandes fogos, que já queimaram mais de 11.745 hectares.
Robert Luna, chefe da polícia do condado de Los Angeles, alerta para uma provável subida do número de vítimas mortais. "Infelizmente, acho que o número de mortes vai aumentar. Espero estar errado, mas acho que vai aumentar", disse, citado pelo britânico The Guardian.
Até às 14h30 locais desta quinta-feira (22h30 em Lisboa), quatro pessoas morreram no incêndio de Eaton, em Pasadena, e uma no fogo de Palisades, junto a Malibu, segundo fonte da polícia de Los Angeles.
“Nunca vi nada assim em 25 anos de profissão no corpo de bombeiros”, afirmou o comandante dos bombeiros de Los Angeles, Adam Vangerpen, à CBS, nesta quinta-feira. Os bombeiros referem que continuam a enfrentar condições meteorológicas extremas e desfavoráveis, incluindo ventos fortes e imprevisíveis, além da aridez do terreno.
Ao final da manhã em Los Angeles (final da tarde em Portugal), cerca de 95 mil consumidores continuavam sem electricidade por causa dos incêndios. No total, mais de 400 mil consumidores foram afectados por apagões.
“É seguro dizer que o fogo de Palisades é um dos desastres naturais mais destrutivos na história de Los Angeles”, referiu esta quinta-feira a comandante dos bombeiros da cidade de Los Angeles, Kristin Crowley.
No bairro de Pacific Palisades, conhecido por ser a morada de várias celebridades de Hollywood, as primeiras estimativas de perdas materiais apontam para "milhares" de estruturas destruídas. As chamas já consumiram quase 7000 hectares e o fogo não está, “de todo”, controlado.
Kristin Crowley confirmou ainda que os bombeiros continuam a combater vários focos de incêndio em Los Angeles e que as condições meteorológicas se mantêm severas, ainda que a melhorar.
Segundo o Los Angeles Times, a situação melhorou em Hollywood: os bombeiros conseguiram fazer avanços significativos no combate ao incêndio conhecido como “Sunset fire”, que deflagrou em Hollywood Hills.
“É um milagre que nenhuma casa tenha ardido aqui”, afirmou um bombeiro ao jornal. A mayor de Los Angeles, Karen Bass, referiu no ponto de situação desta quinta-feira que os ventos “sem precedentes” dificultaram o combate aéreo aos fogos. No entanto, a situação melhorou nas últimas horas e permitiu “progressos significativos contra os incêndios em Hollywood e Studio City”.
Os bombeiros de Los Angeles anunciaram nesta quinta-feira que a ordem de evacuação em Hollywood Hills deixou de estar em vigor ao amanhecer, às 7h30 locais (15h30 em Portugal continental). A zona foi reaberta e os residentes podem agora regressar às suas casas, ainda que as autoridades peçam cuidado no regresso. Inicialmente, a zona ameaçada abrangia alguns dos marcos mais emblemáticos de Los Angeles, incluindo o letreiro de Hollywood e o TCL Chinese Theatre em Hollywood Boulevard.
As autoridades tinham ordenado aos moradores do bairro histórico de Hollywood, no Sudoeste dos EUA, que abandonassem as suas casas, depois de um novo incêndio ter deflagrado a centenas de metros da Hollywood Boulevard. A Sunset Boulevard, uma das avenidas mais populares do país, estava em "ruínas".
Apesar das melhorias em Hollywood, pelo menos três dos cinco grandes incêndios que continuam activos na zona de Los Angeles estão “totalmente descontrolados”, admitem as autoridades locais. O fogo de Palisades, entre Santa Mónica e Malibu, e o fogo de Eaton são já os mais destrutivos da história de Los Angeles, refere a agência Reuters. As autoridades temem que o número de mortes venha a aumentar.
O incêndio de Eaton já consumiu mais de 4200 hectares e, ainda que permaneça descontrolado, o ritmo a que avança no terreno diminuiu significativamente. As autoridades locais indicam que este fogo ameaça quase 40.000 estruturas, tendo já destruído cerca de 1000.
Nuvens negras de fumo tapam o sol em grandes extensões da cidade e caem cinzas mesmo a vários quilómetros das zonas afectadas. Várias escolas foram encerradas e alguns centros recreativos foram transformados em abrigos para os desalojados.
De acordo com o The Guardian, o departamento de água e electricidade de Los Angeles emitiu um aviso aos residentes de Pacific Palisades no qual os instruiu a utilizar apenas água da torneira fervida ou água engarrafada para beber, devido à baixa pressão da água e à potencial contaminação do abastecimento. Um aviso semelhante foi emitido para Pasadena.
Biden a caminho de Los Angeles
A poucos dias de cessar funções, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta agora a última grande crise do seu mandato. Pelas 14h locais desta quinta-feira (22h em Lisboa), adiantou que, nas últimas 24 horas, as autoridades norte-americanas responderam a mais de 50 focos de incêndio e que, a essa hora, os mais preocupantes lavravam em Pacific Palisades (fogo de Palisades), Pasadena (fogo de Eaton) e Sylmar (fogo de Hurst). Este último já queimou 346 hectares.
Depois de uma reunião com o governador da Califórnia, o chefe de Estado assegurou que serão mobilizados para aquele estado mais 400 bombeiros e dezenas de aeronaves de combate a incêndios. O Governo federal vai ainda cobrir a totalidade dos custos de combate às chamas e dos quartéis de bombeiros da região durante os próximos 180 dias.
Joe Biden tinha uma visita oficial a Itália marcada para esta sexta-feira, que cancelou devido aos incêndios florestais, anunciou a Casa Branca, tendo entretanto viajado para Los Angeles.
O Presidente democrata deveria ficar em Itália até 12 de Janeiro, naquela que seria provavelmente a última viagem ao estrangeiro antes de o seu sucessor, o republicano Donald Trump, regressar à Casa Branca, a 20 de Janeiro.
Alguns portugueses que vivem em Los Angeles tiveram de ser retirados e estão em casa de amigos. Outros estão em alerta porque vivem perto das zonas onde os fogos lavram. Devido aos alertas sobre a má qualidade do ar, muitas crianças e jovens estão nestes dias a faltar às aulas.
Foi declarado estado de emergência pelo condado de Los Angeles e pelo governador da Califórnia, que conseguiu luz verde de Joe Biden para obter ajuda federal no combate aos incêndios. “A situação em Los Angeles é altamente perigosa e está em rápida evolução”, disse Gavin Newsom, em conferência de imprensa conjunta com Biden.
“A acção rápida do Presidente Biden é uma tremenda ajuda para a Califórnia, à medida que fazemos tudo o que podemos para proteger os residentes com recursos federais, locais e estaduais significativos”, acrescentou.
Os bombeiros não conseguiram ainda conter os fogos, que estão com um percurso imprevisível devido aos ventos fortes — os piores desde 2011 —, que chegaram a atingir 160 quilómetros por hora.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, adiantou que o estado da Califórnia já fez "alguns pedidos" de ajuda militar para o combate aos fogos e garantiu que as tropas norte-americanas estarão preparadas assim que seja necessária a sua mobilização.
Os incêndios que estão a devastar a paisagem árida de Los Angeles são o mais recente exemplo de fenómenos climáticos extremos, que deverão acontecer com mais frequência à medida que as temperaturas globais sobem, alertam os cientistas. Nos últimos anos, o estado da Califórnia tem vindo a registar incêndios cada vez mais intensos, com uma maior área ardida devido às condições de seca e às alterações das tendências meteorológicas.