Zuckerberg põe fim à verificação de factos no Facebook em nome da “liberdade de expressão”

Programa com especialistas em desinformação vai terminar. Meta vai lançar um sistema de notas deixadas pelos utilizadores, copiando o X. Publicações sobre política serão mais recomendadas.

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Imagem de arquivo. Mark Zuckerberg admite que a decisão também está relacionada com o resultado das últimas eleições norte-americanas, vencidas por Donald Trump EVELYN HOCKSTEIN / REUTERS
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O programa de verificação dos factos do Facebook vai terminar ao fim de nove anos em funcionamento, anunciou nesta terça-feira, 7 de Janeiro, fonte oficial da Meta, a empresa-mãe da rede social norte-americana. Mark Zuckerberg, director executivo das marcas, confirmou as alterações num vídeo em que equipara as novas práticas de moderação dos conteúdos no Facebook às que já estão em vigor no X, antigo Twitter, desde que Elon Musk comprou aquela rede social.

"Este é o tempo de voltar às nossas raízes em torno da liberdade de expressão", argumentou Mark Zuckerberg, afirmando que o programa de verificação de factos do Facebook "chegou a um ponto em que simplesmente se cometem demasiados erros e há demasiada censura".

O programa de verificação dos factos foi lançado no Facebook em 2016 e baseava-se numa revisão das informações que surgiram na rede social através de organizações certificadas e especialistas independentes. A missão era essencialmente sinalizar publicações com desinformação e informações falsas, sobretudo quando se tornavam virais. Esse é o programa que vai agora terminar, dando lugar a um sistema de notas deixadas pela própria comunidade de utilizadores, desde que autorizados pela rede social, à semelhança do que acontece no X.

Zuckerberg anunciou também que a moderação de conteúdos vai passar da Califórnia para o Texas "onde há menos preocupação com o viés das nossas equipas".

As mudanças anunciadas pelo Facebook surgem um dia depois da cerimónia de transição de poder que confirmou a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas e a poucos dias da tomada de posse. Mark Zuckerberg admitiu mesmo que existe uma associação entre as mudanças anunciadas nesta terça-feira e o ambiente político nos Estados Unidos: "As eleições recentes também parecem um ponto de viragem cultural no sentido de voltar a dar prioridade ao discurso."

O fundador do Facebook disse que a Meta vai trabalhar com Trump para "fazer frente aos governos à volta do globo que estão a perseguir empresas norte-americanas e a pressionar para haver mais censura".

As declarações do director executivo da Meta foram acompanhadas pelas de Joel Kaplan, responsável pelas novas políticas globais da marca. "Queremos desfazer a missão exagerada que tornou as nossas regras demasiado restritivas e passíveis de levarem a um excesso na sua aplicação", considerou num comunicado intitulado "Mais discurso e menos erros".

"As plataformas Meta foram construídas para serem lugares onde as pessoas se podem expressar livremente. Isso pode tornar-se confuso. Em plataformas onde milhares de milhões de pessoas podem ter uma voz, todo o bom, mau e feio fica exposto. Mas isso é a liberdade de expressão", considerou Kaplan. "Nos últimos anos desenvolvemos sistemas cada vez mais complexos para gerir o conteúdo nas nossas plataformas, em parte em resposta a pressões sociais e políticas para moderar o conteúdo. Essa abordagem foi longe de mais."

Em Dezembro, por exemplo, a Meta terá eliminado menos de 1% de todas as publicações colocadas no Facebook. Mas a empresa estima que duas em cada dez eliminações aconteceram por erro, porque as publicações em causa não violavam as políticas da rede social. Números como estes vão começar a tornar-se públicos, prometeu a liderança da Meta, para aumentar a transparência da empresa e torná-la "mais eficaz".

O programa vai ser abandonado de modo faseado, começando pelos Estados Unidos, introduzindo também de forma paulatina as notas comunitárias que oferecem contexto às publicações. "Vamos continuar vigilantes sobre o impacto das nossas políticas e dos nossos sistemas na capacidade de as vozes das pessoas serem ouvidas", prometeu a marca, adiantando ainda que vai "recomendar mais conteúdos políticos com base em sinais personalizados", salvaguardando "a opção que as pessoas têm de controlar quanto deste conteúdo querem ver".

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