Morreu Jean-Marie Le Pen, figura crucial da extrema-direita francesa

Antigo líder da Frente Nacional e pai de Marine Le Pen morre aos 96 anos. Negacionista do Holocausto, foi expulso do partido pela própria filha.

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Jean-Marie Le Pen liderou a Frente Nacional entre 1972 e 2011 BENOIT TESSIER / REUTERS
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Em 2002, Le Pen teve um dos seus momentos políticos mais altos, chegando à segunda volta das eleições presidenciais, que perdeu para Chirac ERIC GAILLARD / REUTERS
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Já com a filha ao leme da Frente Nacional, foi expulso do partido entre acusações de anti-semitismo CHARLES PLATIAU / REUTERS
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Jean-Marie Le Pen, figura histórica da extrema-direita em França e pai de Marine Le Pen, morreu aos 96 anos, anunciou nesta terça-feira a imprensa francesa, citando um comunicado da família, que informa que o antigo político estava internado há várias semanas, tendo morrido ao início da tarde, “rodeado pelos seus entes queridos”.

Nascido em 1928, em Trinité-sur-Mer, no Noroeste de França, Le Pen foi soldado, deputado e eurodeputado. Co-fundou e liderou o partido nacionalista, populista e anti-imigração Frente Nacional (FN), entre 1972 e 2011, e chegou a disputar a votação decisiva de umas eleições presidenciais, em 2002, acabando por perder para Jacques Chirac.

A filha, Marine, sucedeu-lhe na liderança da FN e levou a cabo uma tarefa de tentativa de desdiabolização do partido junto do eleitorado, oferecendo-lhe uma imagem menos extremista e direccionada às camadas sociais mais desfavorecidas da sociedade francesa.

Jean-Marie Le Pen nunca concordou verdadeiramente com esse realinhamento para a direita radical de um partido que foi visto, durante a sua liderança, como sucessor dos partidos fascistas europeus do século XX, e incompatibilizou-se com a filha por causa disso.

O líder francês de extrema-direita discursa durante uma conferência de imprensa em Paris, França, a 7 de Abril de 1988 Charles Platiau / REUTERS
Vários milhares de pessoas protestaram, a 29 de novembro de 1997, no centro da cidade de Annecy, no leste de França, contra a visita do presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN). Num dos cartazes lê-se: "A única raça inferior é o fascismo" PHILIPPE DESMAZES
Jean-Marie Le Pen e a sua mulher numa marcha em Paris, a 1 de Maio de 2002 REUTERS/JACKY NAEGELEN / REUTERS
Um manifestante francês aparece entre jornais nacionais com o título "NO" impresso sobre a fotografia do candidato presidencial da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, durante uma marcha de protesto em Paris, a 23 de Abril de 2002 REUTERS/JACKY NAEGELEN / REUTERS
Le Pen, candidato presidencial do partido político francês Frente Nacional, discursa em Saint Cloud, perto de Paris, após a sua visita a Argenteuil, um subúrbio do norte de Paris, a 6 de Abril de 2007. O slogan diz: "Não palacianos, nem negros, nem brancos, nem norte-africanos, mas franceses!" BENOIT TESSIER / REUTERS
O presidente do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, gesticula durante o encerramento do 12.º congresso nacional do partido em Nice, a 21 de Abril de 2003. Le Pen tinha sido reeleito Presidente. A filha de Le Pen, Marine, foi eleita vice-presidente da Frente Nacional ERIC GAILLARD / REUTERS
Activistas usam máscaras com o rosto de Jean-Marie Le Pen com o cabelo da sua filha Marine Le Pen, na altura candidata da Frente Nacional (FN) às eleições presidenciais de 2017. Paris, França, 1 de Maio de 2017 GONZALO FUENTES / REUTERS
Artigos de parafernália de Jean-Marie Le Pen são vistos em exposição durante o congresso anual da Frente Nacional em Tours, a 16 de Janeiro de 2011 .Marine Le Pen sucedeu ao seu pai Jean-Marie Le Pen no cargo STEPHANE MAHE / REUTERS
Jean-Marie Le Pen, líder do partido político de extrema-direita Frente Nacional, chega para uma conferência de imprensa antes de um comício político para as eleições regionais em Marselha, a 7 de março de 2010. No cartaz lê-se "Não ao Islão". JEAN-PAUL PELISSIER / REUTERS
O fundador do partido político francês Frente Nacional, abraça a sua filha Marine Le Pen, líder do partido político Frente Nacional, após o seu discurso no seu tradicional comício em Paris, a 1 de maio de 2013. CHARLES PLATIAU / REUTERS
Marine Le Pen, líder do partido político francês Frente Nacional, sentada ao lado do seu pai Jean-Marie Le Pen durante o congresso do partido francês de extrema-direita em Lyon, numa fotografia de 29 de novembro de 2014 ROBERT PRATTA / REUTERS
Jean-Marie Le Pen, fundador do partido político francês Frente Nacional, segura um guarda-chuva enquanto participa no seu tradicional comício em Paris, a 1 de maio de 2014 BENOIT TESSIER / REUTERS
O fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, reage enquanto discursa em frente à estátua de Joana d'Arc, no âmbito das cerimónias anuais do Dia do Trabalhador da Frente Nacional, em Paris, França, a 1 de maio de 2017. GONZALO FUENTES / REUTERS
Jean-Marie Le Pen com a sua neta Marion Marechal-Le Pen depois de esta ter ganho um lugar na segunda volta das eleições legislativas em Carpentras, a 17 de junho de 2012. JEAN-PAUL PELISSIER / REUTERS
Jean-Marie Le Pen (L) gesticula para o público enquanto a sua filha, a atual presidente, Marine Le Pen (R) aguarda antes de fazer o seu discurso durante o tradicional comício do Dia do Trabalhador do partido Frente Nacional (FN) junto à Ópera Garnier em Paris, França, 1 de Maio de 2015. YOAN VALAT / EPA
O fundador da Frente Nacional francesa, Jean-Marie Le Pen, e a sua mulher Jany participam numa manifestação junto à estátua de Joana d'Arc, no âmbito das cerimónias anuais do Dia do Trabalhador da Frente Nacional, em Paris, França, a 1 de maio de 2017 Gonzalo Fuentes / REUTERS
Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional de extrema-direita francesa, reage enquanto discursa em frente à estátua de Joana d'Arc no âmbito das cerimónias anuais do Dia do Trabalhador da Frente Nacional em Paris, França, a 1 de maio de 2017 Philippe Wojazer / REUTERS
O fundador da Frente Nacional de extrema-direita francesa sai do tribunal depois de ter levado o seu partido a tribunal após a sua filha o ter suspendido do movimento de extrema-direita francês. Charles Platiau / REUTERS
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O líder francês de extrema-direita discursa durante uma conferência de imprensa em Paris, França, a 7 de Abril de 1988 Charles Platiau / REUTERS

Em 2015, quando era presidente honorário da FN, entre acusações de anti-semitismo e islamofobia, foi expulso do partido, depois de ter dito, mais do que uma vez, que as câmaras de gás utilizadas pela Alemanha nazi para matar seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial foram um “detalhe na História”; posição que lhe valeu várias condenações e multas por contestação de crimes contra a humanidade.

Também elogiou várias vezes o general Philippe Pétain, líder do regime colaboracionista nazi durante a ocupação de França no conflito mundial e disse que o vírus ébola era a solução para acabar com o aumento da população.

Sem deixar de se apresentar como um partido anti-imigração, eurocéptico e antiglobalista, a União Nacional – o nome oficial da FN desde 2018 – é hoje uma das forças políticas com maior representação no Parlamento francês, e Marine Le Pen chegou à segunda volta nas duas últimas eleições presidenciais (2017 e 2022), perdidas para o actual Presidente, Emmanuel Macron.

Lembrando o passado de Jean-Marie Le Pen como soldado no Exército francês na antiga Indochina francesa e na Argélia e como deputado na Assembleia Nacional e no Parlamento Europeu, Jordan Bardella, actual líder da União Nacional, escreveu uma mensagem na rede social X a elogiar a forma como o antigo líder da FN “sempre serviu França e defendeu a sua identidade e soberania”.

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