Líder da Igreja de Inglaterra cede lugar após escândalo sobre abuso sexual a crianças
Justin Welby não reportou imediatamente um agressor sexual que atacou mais de 130 pessoas e manteve no cargo um padre que tinha sido proibido de estar sozinho com crianças.
O chefe da Igreja de Inglaterra, Justin Welby, obrigado a demitir-se após um escândalo relacionado com agressão física e sexual contra dezenas de crianças, cedeu esta segunda-feira, 6 de Janeiro, o seu lugar ao arcebispo de York, Stephen Cottrell.
Aos 69 anos, o líder espiritual dos anglicanos foi forçado a abandonar o cargo após a publicação, no início de Novembro, de um relatório contundente que concluiu que não tinha reportado imediatamente às autoridades um agressor que atacou mais de 130 crianças e jovens durante vários anos. Este homem, advogado ligado à Igreja Anglicana, morreu em 2018 na África do Sul, sem nunca se ter sido acusado.
Este escândalo chocou o Reino Unido e provocou numerosos apelos a uma reforma fundamental da Igreja de Inglaterra, cujo chefe supremo é o soberano britânico. Tem cerca de 20 milhões de fiéis baptizados, mas o número de praticantes regulares está estimado em pouco menos de um milhão, segundo dados de 2022, noticiou a agência France-Presse (AFP).
O futuro chefe da Igreja de Inglaterra será escolhido pelo rei Carlos III após um longo processo de selecção, liderado por um antigo chefe do serviço de segurança interna, o MI5. O seu nome não será conhecido até ao Outono, segundo os meios de comunicação social britânicos. De forma interina, será o arcebispo de York, Stephen Cottrell, de 66 anos, o segundo mais alto dignitário da Igreja, a assumir a instituição.
Símbolo desta transferência, Justin Welby cedeu a sua bengala esta segunda-feira à noite, durante uma pequena cerimónia religiosa. Nas últimas semanas, Stephen Cottrell já começou a substituí-lo durante várias cerimónias oficiais. No seu sermão de Natal, apelou à Igreja para “fazer penitência”.
Mas este já tem uma autoridade enfraquecida, enquanto é criticado pela forma como geriu um caso de crime infantil. É acusado de ter mantido no cargo um padre que tinha sido proibido pela instituição de estar sozinho com crianças após vários casos de agressão sexual.
Stephen Cottrell, ordenado sacerdote aos 25 anos e tornado arcebispo de York em 2020, reconheceu que as coisas “poderiam ter sido tratadas de forma diferente”.
O futuro líder da Igreja, nascida de uma ruptura com a Igreja Católica no século XVI, terá de trabalhar para restaurar a imagem da instituição, acusada em diversas ocasiões de ter reprimido escândalos de agressão sexual no seu seio. Já em 2020, um relatório denunciava uma cultura que permitia aos autores de violência sexual contra menores esconderem-se e serem “mais apoiados do que as vítimas”.
Em Fevereiro de 2024, um outro relatório concluiu que a Igreja deve “agir urgentemente para restaurar a confiança no seu sistema de protecção” após vários casos de ataques.
A Igreja de Inglaterra deve também enfrentar as divisões no seu seio, que se cristalizaram em privado, em 2023, sobre a possibilidade de abençoar casais do mesmo sexo, finalmente validadas no final de um sínodo invulgarmente agitado. Esta medida é também contestada no seio da “Comunhão Anglicana” a nível global, que conta com cerca de 85 milhões de fiéis em mais de 165 países, e da qual a Igreja de Inglaterra é a igreja mãe.